Economia

Indústria não vê 2022 como um "ano muito animador"

Perspectivas um tanto quanto pessimista se reflete na previsão de crescimento do PIB que deverá ficar abaixo de 1%

2 MAR 2022 • POR Marcos Escrivani • 08h20
Marcos Henrique: "São Carlos se caracteriza por uma indústria diversificada, e espera-se um crescimento não linear entre os vários segmentos" - Divulgação

As dificuldades encontradas pelas indústrias desde o início da pandemia da Covid-19 e a previsão de crescimento do PIB, que deverá ser menor que 1%, faz com que a perspectiva para a economia brasileira não sejam muito animadoras.

Em uma entrevista exclusiva ao São Carlos Agora, o diretor titular do Ciesp São Carlos, Marcos Henrique dos Santos, discorreu sobre vários assuntos que tem deixado os industriais de São Carlos e da microrregião apreensivos quanto aos próximos meses.

Segundo ele, “as dificuldades enfrentadas durante o ano passado ainda persistem, como o aumento do custo de matéria-prima, a dificuldade na aquisição de insumos, problemas no transporte de carga internacional, inflação elevada e aumento significativo na taxa de juros”, pontuou,

Marcos Henrique afirmou ainda que São Carlos se caracteriza por uma indústria diversificada, e espera-se um crescimento não linear entre os vários segmentos.

Apesar do pessimismo, afirmou que há pontos positivos a serem destacados na economia local, como, o segmento ligado à Agroindústria, que deve apresentar crescimento significativo. O segmento das indústrias de base tecnológica, que por desenvolverem produtos com tecnologia de ponta e inovadores, não sofre com o baixo desempenho da economia.

Por outro lado, o segmento ligado a bens de consumo, e que depende do consumo das famílias, deve ter dificuldades, pois as altas taxas de juros encarecem o produto e a alta da inflação retira o poder de compra das famílias.

Abaixo, a entrevista dada pelo diretor titular do Ciesp São Carlos:

São Carlos Agora - Em 2022 a economia brasileira dá mostras que se recupera mesmo em época de pandemia da Covid-19. Em São Carlos (e região), qual a expectativa das indústrias?

Marcos Henrique dos Santos - 2021 foi um ano de crescimento para a indústria. A melhora das condições sanitárias com o avanço da vacinação permitiu um aumento no faturamento, o que contribuiu para que o emprego industrial se mantivesse em níveis elevados. Contudo, há que se considerar que a base de comparação foi 2020, um ano crítico, onde a pandemia causou a paralisação da economia.

Já para 2022, as perspectivas não são muito animadoras. A previsão de crescimento do PIB é menor que 1% e, além disso, as dificuldades enfrentadas durante o ano passado ainda persistem, como o aumento do custo de matéria-prima, a dificuldade na aquisição de insumos, problemas no transporte de carga internacional, inflação elevada e aumento significativo na taxa de juros.

São Carlos se caracteriza por uma indústria diversificada, e espera-se um crescimento não linear entre os vários segmentos.

Por exemplo, o segmento ligado à Agroindústria deve apresentar crescimento significativo; já o segmento ligado a bens de consumo, e que depende do consumo das famílias, deve ter dificuldades, pois as altas taxas de juros encarecem o produto e a alta da inflação retira o poder de compra das famílias.

Existe ainda o segmento das indústrias de base tecnológica, que por desenvolverem produtos com tecnologia de ponta e inovadores, acaba não sofrendo com o baixo desempenho da economia.

SCA - Os gastos extras surgidos com a pandemia levando em conta protocolos de segurança são vistos como?

Marcos Henrique - Os custos para produção já são muito altos. Custos como energia elétrica, burocracia excessiva com inúmeras normas e regulamentos e alta carga tributária fazem os produtos ficarem mais caros.

A pandemia trouxe outro fator de aumento de custos: o afastamento dos colaboradores do grupo de risco, dos contaminados pela Covid-19 e dos contactantes com os contaminados é bancado pela indústria, pois o período de afastamento que não ultrapassa os 15 dias não é indenizado pelo INSS, e o custo recai sobre a empresa.

O uso de equipamentos de segurança já é uma prática incorporada na indústria, então o uso de máscara, as práticas de higienização e o distanciamento não tiveram grande impacto nos custos.

SCA - A queda do dólar neste início de ano é vista como pelas empresas? Tem aquelas que se beneficiam e aquelas que se sentem prejudicadas com a desvalorização no câmbio?

Marcos Henrique - O dólar mais baixo, permite um alívio nos custos das matérias-primas, porém diminui a receita com as exportações.

Hoje é difícil encontrar uma indústria que não dependa de insumos importados, até quando a matéria-prima é adquirida no mercado local, via de regra ela sofre a influência do dólar devido à indexação de preços ao mercado internacional.

O problema é que a queda do dólar que experimentamos neste início de fevereiro tem entre suas causas as altas taxas de juros que voltaram a ser praticadas no Brasil.

Então, o capital especulador internacional vem para o país em busca da melhor remuneração oferecida aqui, mas torna o capital de giro mais caro para as empresas.

Se por um lado o dólar baixo alivia o caixa das empresas, o aumento das taxas de juros inibe a atividade econômica como um todo e encarece os produtos fabricados aqui.

As cidades representadas pela Diretoria Regional do Ciesp São Carlos registraram exportações no montante de US$ 678,8 milhões em 2021, enquanto as importações somaram US$ 558,1 milhões, o que mostra a influência do dólar no faturamento e nos custos das indústrias.

SCA - Partindo do princípio o aquecimento do mercado, há perspectiva de que aumente as oportunidades de mercado?

Marcos Henrique - O mercado interno não deve crescer este ano, devido aos motivos já discorridos acima, porém as oportunidades não deixam de acontecer para aquelas empresas que conseguem embutir inovação e novas tecnologias em seus produtos e serviços.

Existem oportunidades provocadas pela mudança de hábitos da população que a pandemia ajudou a acelerar, como na área de comunicações, trabalho remoto, comércio eletrônico e delivery, para ficar em alguns exemplos.

A chegada do 5G e a necessidade crescente de comunicação, big-data e computação em nuvem abrem oportunidades para produtos conectados, cidades inteligentes e agricultura de precisão.

A indústria deve apresentar uma grande mudança na medida em que o conceito da Indústria 4.0 for implementado, trazendo mudanças no formato tradicional de fabricação dos produtos.

Não podemos nos habituar à mediocridade, temos que estar sempre pensando em inovação. É preciso ousar.

SCA - Quais os segmentos da indústria na região demonstram aquecimento mais rápido?

Marcos Henrique - Indústrias ligadas ao Agro, Equipamentos Médicos, Equipamentos Estéticos e ligados ao mercado PET têm uma tendência a não sofrer com o baixo crescimento do PIB.

SCA - Com a chegada da vacina e a consequente imunização, as indústrias de mostram otimistas quanto a uma nova não paralisação das atividades?

Marcos Henrique - Ainda não temos certeza, temos que aguardar a comunidade científica nos dar as respostas. Existe gente muito competente nas universidades e institutos de pesquisa tentando nos dar esta resposta.

O que sabemos é que com a vacina, a vida vai voltando à atividade normal. A indústria, o comércio e os serviços voltaram a funcionar, o que já é um grande alívio, perto da situação que estávamos em março de 2020.

SCA - Pelo fato do SARS-CoV-2 ser contagioso e suas variantes ainda mais temidas, há estudos para que as indústrias exijam que seus colaboradores se imunizem regularmente?

Marcos Henrique - A proteção da vacina e a diminuição do risco de agravamento da Covid é um fato. As indústrias foram as primeiras a discutir e implementar protocolos de segurança, uso de equipamentos de proteção, distanciamento e trabalho remoto.

Porém, temos que seguir as leis vigentes e, por enquanto, não podemos exigir a vacinação dos colaboradores.

A situação que se coloca e que deve ser trabalhada por cada empresário individualmente é que um colaborador imunizado tem menor probabilidade de afastamento e de perdas de dias de trabalho.

Então, incentivar a vacinação e os cuidados com a saúde do colaborador, valoriza o colaborador e ao mesmo tempo traz ganhos na produtividade da empresa.

SCA - São Carlos e cidades da microrregião podem ser beneficiadas com a chegada de novas indústrias em 2022?

Marcos Henrique - Até o momento, não temos informações sobre novas indústrias.

O Ciesp defende junto ao Poder Público que é preciso manter um ambiente de negócios favoráveis às indústrias já instaladas e à chegada de novas empresas.

A cidade tem tido dificuldade na implantação de distritos industriais, o Miguel Abdelnur já está totalmente ocupado e o Ceat tem entraves ambientais que inviabilizam a ocupação dos terrenos disponíveis.

A boa notícia fica por conta do Parque São José, que não é especificamente um distrito industrial, mas um loteamento que nasceu com vocação para receber empresas, e que após muito tempo, finalmente, deve receber o asfaltamento que vai proporcionar dignidade paras as empresas instaladas no local.

Mas é preciso muito mais para atrair empresas e permitir a expansão das existentes.

SCA - A região central do Estado como é vista pelos grandes empreendedores?

Marcos Henrique - A região de São Carlos é um polo econômico e científico muito importante. Tem mão de obra qualificada, formada pelas nossas escolas e universidades.

Uma boa qualidade de vida, índice de desenvolvimento humano e renda per capita acima de outras regiões do estado e do Brasil.

O fato de estarmos no centro do estado e com boa infraestrutura rodoviária e ferroviária faz da região de São Carlos uma opção a ser considerada com especial atenção quando o empresário procura um lugar para fazer seu investimento.

SCA - Considerações finais

Marcos Henrique - A prioridade do Ciesp é dar apoio às indústrias da região, ajudando a aumentar sua produtividade através de cursos e informações estratégicas, apoio no comércio exterior, apoio jurídico contra regulamentações que atrapalham os negócios, representando e defendendo os interesses de seus associados, através do acompanhamento da legislação, buscando sempre o interesse da indústria.