Proprietários lutam pela reabertura de academias em São Carlos
Segundo eles, não foi comprovado surtos de casos de Covid-19 nos estabelecimentos que cumprem rígidos protocolos de segurança
17 FEV 2021 • POR Marcos Escrivani • 08h26Na fase vermelha do Plano São Paulo, estabelecimentos considerados não essências não podem abrir para que o novo coronavírus não dissemine ainda mais e não haja a aceleração da pandemia da Covid-19.
Entre estes estabelecimentos estão as academias que proporcionam atividades físicas aos seus alunos. Em São Carlos, antes do início da pandemia eram mais de 100 prédios que ofereciam aproximadamente três mil postos de trabalho.
Entretanto, a primeira parada de cinco meses com o consequente retorno em agosto e o regresso a fase vermelha no final de janeiro voltou a trazer preocupação para o segmento que sofre com a falta de recursos para manter emprego e os custos normais de funcionamento, já que tiveram que paralisar as atividades novamente.
O São Carlos Agora entrou em contato com Leonardo Ribeiro, 55 anos, proprietário de uma academia de ginástica, profissional de Educação Física e Militar da Reserva. Ele integra um grupo de WhatsApp onde estão a maioria dos proprietários de academias de São Carlos que lançaram inclusive uma campanha para explicar à população os benefícios das atividades físicas. Segundo eles, até mesmo no combate à Covid-19.
Foram instalados em São Carlos, cinco outdoors em pontos estratégicos: na Avenida São Carlos, na Avenida Comendador Alfredo Maffei (três), no Jardim Santa Felícia e na Vila Prado.
Em uma detalhada entrevista, Ribeiro disse quais são os principais problemas que a categoria tem enfrentado neste período de pandemia e enfatizou que os estabelecimentos seguem um rígido protocolo de segurança e neste período não foi constatado um único surto sequer da infecção nos prédios. “Fomos alvos de elogios dos fiscais da Prefeitura Municipal”, comentou.
A ENTREVISTA
São Carlos Agora - Hoje quantas academias há em São Carlos? Quantos profissionais são empregados?
Leonardo Ribeiro - Antes do início da pandemia da Covid-19 existiam em São Carlos aproximadamente cem academias de ginástica, natação, artes marciais, dança, cross training, estúdios de personal trainer, entre outros. Algumas já fecharam as portas em definitivo, uma vez que não conseguiram pagar as contas durante o fechamento. Eram aproximadamente três mil empregados, direta e indiretamente.
SCA - Na fase vermelha os estabelecimentos não funcionam. O que isso acarreta?
Ribeiro - Na fase vermelha, apesar de vários municípios aprovarem leis considerando as atividades desenvolvidas nas academias como essenciais e, portanto, suas academias não fecharam, em São Carlos não foi possível, apesar de todo o esforço do nosso grupo junto aos políticos. O maior prejuízo de as academias estarem fechadas é o aumento de doenças, principalmente relacionadas à inatividade física, já que a ciência comprova que treinamento físico combate essas doenças, inclusive contra a Covid. Assim como em outros segmentos, os prejuízos econômicos são enormes, além do aumento de pessoas desempregadas.
SCA - Desde o início da pandemia, em março de 2020, quanto tempo ficaram parados? Qual foi o prejuízo? Houve demissões?
Ribeiro - As academias ficaram fechadas de março até agosto de 2020, quando então tiveram permissão de reabrir mediante cumprimento de protocolos definidos pelas autoridades competentes, o que vinha sendo observado à risca até o dia 1º de fevereiro último, quando tivemos novamente que fechar as portas por São Carlos regredir à fase vermelha do Plano São Paulo de combate à Covid.
SCA - O segmento econômico em meio a pandemia da Covid-19, está se recuperando? Por que?
Ribeiro - Desde o início da pandemia o segmento de academias entrou em crise econômica e, mesmo após o retorno, tal crise não fora superada, já que devido a limitações de horários de funcionamento, o número de alunos em média não chegou à metade do que era antes; a limitação de alunos impediu a entrada de receitas capazes de pagar contas, como aluguel, funcionários, IPTU, etc.; praticamente, em todas as academias houve demissão de funcionários, seja profissionais de Educação Física, seja recepcionistas; no retorno, muitos deles passaram a atuar mediante parceria, ou seja, as receitas eram divididas proporcionalmente entre eles e o estabelecimento; aqueles que, eventualmente, não foram demitidos, ficaram sem receber salários durante o fechamento; houve auxílio do governo federal que pagava os salários dos profissionais em 2020, mas para cada mês pago exigia-se a estabilidade por mais um mês.
SCA - Neste período, quando as academias funcionaram houve surto de Covid-19 em alguma? Quais foram os protocolos de segurança?
Ribeiro - Todos os protocolos de funcionamento foram seguidos, não só os obrigatórios, mas algo além foi providenciado, a ponto de estabelecimentos serem alvos de elogios por parte dos fiscais; tapetes sanitizantes, medidor de temperatura corporal, álcool em gel, produtos de limpeza para os aparelhos, garrafinhas d’água individual, toalhinhas individuais, máscaras, etc., foram usados. Não houve nenhum caso de contaminação no interior das academias, o que vem ao encontro de estudos realizados em outros países onde o índice de contaminação nas academias não chega a 1%, assim como da pesquisa que nós mesmos aqui de São Carlos realizamos em todo o Brasil, sendo a maioria das quase mil pessoas que responderam do Estado de São Paulo. Nessa pesquisa constatamos que a maioria das pessoas é contra o fechamento das academias e precisa treinar.
SCA - Como as pessoas que praticam atividades físicas encaram o funcionamento das academias?
Ribeiro - Durante o fechamento, uma infinidade de alunos nos procuram alegando estar ficando doente pela falta de exercícios físicos supervisionados; os motivos alegados são excesso de peso, alterações da pressão arterial, ansiedade, depressão, insônia, dores nas costas, nos joelhos, etc.; ressalte-se que a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a obesidade como doença; muitos alunos ainda não retornaram devido à limitação de horários, o que provoca aglomeração; o ideal é que os horários de funcionamento sejam ampliados.
SCA - As atividades físicas é uma forma de combater ansiedade e a depressão? Pode-se se dizer que corpo condicionado é mais resistente ao novo coronavírus?
Ribeiro - A ciência comprova que a prática de exercícios físicos não só combate doenças, mas minimiza os riscos de contraí-las; pessoas que realizam exercícios físicos de forma supervisionada têm seu organismo mais resistente, inclusive contra a Covid, uma vez que várias substâncias positivas ao corpo humano são estimuladas durante o treinamento, além do fortalecimento muscular e articular que facilita as atividades do dia a dia, o que exige menos esforço do organismo, principalmente do coração.
Acreditamos que o governo municipal não tenha números, por isso, nosso grupo está se preparando para desenvolver uma pesquisa no sentido de coletar números precisos de doenças provocadas pela inatividade física, inclusive as mentais, mas pelos relatos de amigos psicólogos, médicos e das próprias pessoas em geral, esses números podem bater recordes.
SCA - Você relata que nesta época de fase vermelha do Plano São Paulo o segmento tem sido atacado por políticos e jornalistas. Quais seriam os motivos? Quais canais são utilizados por tais críticas?
Ribeiro - Quanto aos ataques sofridos por Profissionais de Educação Física e de donos de academias, foram no sentido de alguns terem sido vacinados nessa primeira fase; porém, aparentemente, por falha de quem organizou a vacinação, houve local na cidade que permitia a vacinação de todos, embora só alguns conseguiram; pelas redes sociais um vereador de São Carlos teceu críticas injustas aos profissionais de Educação Física e dono de academia, o que levou parcela da população a também criticá-los, situação que também ocorreu em outros municípios; antes de qualquer declaração seria importante e justo que houvesse uma apuração a respeito, principalmente, sobre a contribuição dos Profissionais de Educação Física e das Academias no desenvolvimento da saúde e no combate à covid, conforme comprova a ciência.
SCA - Considerações finais
Ribeiro - Finalizando, as academias e estabelecimentos similares devem permanecer abertas em qualquer das fases, mediante observância aos protocolos exigidos, uma vez que as atividades lá desenvolvidas são, comprovadamente, essenciais; por isso, nós, como donos de academias e estabelecimentos similares de São Carlos e como Profissionais de Educação Física, solicitamos a todas as autoridades envolvidas que não desprezem a ciência, que ouça a nossa voz e, principalmente, que respeite a liberdade do povo que em sua imensa maioria está implorando para poder treinar e cuidar da própria saúde.