Resplandecente Alma

Constelações Sistêmicas: Conheça a Técnica Terapêutica e seus Benefícios

26 OUT 2020 • POR Anaísa Mazari • 10h02

As constelações sistêmicas foram criadas pelo alemão Bert Hellinger na década de 80, ganhando notoriedade mundial nos anos 90 com utilização cada vez mais crescente desde então. É uma ferramenta de trabalho com alto potencial para diagnósticos e resolução de problemas e conflitos. Diversas experiências humanas trazem a necessidade de avaliação profunda de aspectos inconscientes e sistêmicos que podem atuar de forma relevante nas questões emocionais. Por sua vez, as questões de ordem emocional podem se manifestar através de várias vivências como doenças, ciclos desfavoráveis repetitivos, conflitos relacionais familiares e amorosos, ausência de avanços na vida profissional  e financeira, entre outras. O método terapêutico das constelações permite a tomada de consciência das causas ocultas e operantes nas queixas apresentadas, possibilitando novas posturas de vida para retomada do desenvolvimento emocional que naturalmente deve estar orientado para o presente e futuro no avançar dos ciclos de vida e suas demandas, seguindo o fluxo saudável para a caminhada existencial.

Cabe salientar o que não é constelação sistêmica: não é religião, não é espiritismo, não se trata de uma dramatização. É comum que muitas pessoas confundam a ampliação da consciência que o método traz com elementos da espiritualidade e é extremamente importante discernir que se trata de uma terapia que é inclusive uma das opções das Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde, sendo portanto, reconhecida como contributiva para tratamentos de saúde em sua dimensão ampliada. Na Bahia, também é utilizada no judiciário para resolução eficaz de conflitos há mais de dez anos pelo Juiz Sami Storch, pioneiro no uso das Constelações no Direito com elevados índices de sucesso para a condução positiva de vários processos. Além do Direito Sistêmico, a Pedagogia Sistêmica também tem avançado com as constelações no âmbito escolar.

As constelações têm bases científicas, relacionadas à física quântica que comprova a existência de emaranhamentos quânticos, evidenciando as conexões que existem entre as partículas e sistemas do universo, independente do tempo e espaço, bases também relacionadas aos campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake. Morfo vem da palavra grega morphe que significa forma; genética vem de genesis que significa origem. Os campos morfogenéticos são campos de forma, campos padrões, estruturas de ordem. Esses campos são acessados pelas constelações, emergindo de maneira fenomenológica as informações que desvelam as dinâmicas inconscientes. Pode ser feita em grupos onde pessoas serão representantes da constelação de quem se propor a trazer uma queixa, ou de forma individual, com o uso de bonecos ou até mesmo outras ferramentas de trabalho que permitam dispor no campo “representantes” de pessoas, doenças, elementos como vida, morte, empresa, dinheiro etc.

Geralmente, quando existe a procura por um atendimento terapêutico, as pessoas têm umapercepção construída de forma consciente acerca dos problemas que atravessam. Em todo processo de dor emocional é comum, por defesa, que haja o movimento de se proteger da dor “original” dando sentidos às experiências que inevitavelmente distanciam as pessoas das reais causas que são de ordem inconsciente. A ausência de consciência acerca das reais causas dos problemas tende a fortalecer a repetição e reverberação de experiências dolorosas. Os “sintomas”, ou seja, os elementos aparentes na queixa apresentada constituem apenas a superficialidade do que necessita ser trabalhado e asconstelações revelam as dinâmicas relacionais, as fidelidades ocultas à ancestralidade, a criança interior ferida que precisa de cuidados. Trabalhando nas causas, os sintomas desaparecem e o desenvolvimento e qualidade de vida emocional tendem a se restabelecer.

Nas famílias e sistemas em geral, avaliamos nas constelações a ordem nas funções, os aspectos saudáveis ou não que estão operantes nos sistemas avaliados. É muito comum que se observem funções em desordem quando existem conflitos, crenças doentias acerca do que vem a ser amor que perpetuam fidelidades também doentias nas famílias que inviabilizam a continuidade saudável do desenvolvimento familiar, fidelidades até mesmo para com a ancestralidade de tempos mais retrógrados e identificação dos membros mais jovens com questões não elaboradas pelo sistema. Essas avaliações são feitas de acordo com o que chamamos de “movimentos da alma”. O cliente verbaliza a queixa, é analisado também através da linguagem corporal, são disparados diversos processos reflexivos através de perguntas que implantam questionamentos que serão importantes para as reconstruções de percepção, insere os representantes no campo e através dos posicionamentos, distâncias e direcionamentos, identificam-se as dinâmicas sistêmicas. Quando as constelações são realizadas em grupo, os representantes sentem e verbalizam acerca do papel que estão representando, evidenciando também através da linguagem corporal as informações necessárias para a identificação das dinâmicas operantes.

Nas constelações individuais, o próprio cliente sente o campo que monta com as ferramentas disponibilizadas, alcançando também o desvelamento das dinâmicas inconscientes a partir das conduções e sensações também do constelador.

Além do diagnóstico das dinâmicas ocultas, as constelações trabalham com as organizações necessárias aos sistemas de forma integrada, obedecendo às três leis sistematizadas por Bert Hellinger, que são:

- Pertencimento: nos emaranhamentos é muito comum que haja exclusões no sistema em experiências dolorosas. Todas as pessoas que interferiram nos sistemas passam a fazer parte e devem ter o seu lugar.

Isso vale para as tragédias, pais e mães ausentes, abortos etc. Quando existem exclusões, os membros mais jovens das famílias e sistemas tendem a se identificar com o membro excluído, tornando-o presente no sistema adquirindo características similares, algo muito comum em muitas queixas. Quando cada um tem o seu lugar, o sistema segue o fluxo saudável e seus membros podem ocupar seus lugares e seguir seu caminho, desenvolvendo-se naturalmente.

- Hierarquia: os sistemas têm uma organização em que a precedência é dos membros mais velhos, mas a prioridade é dos mais jovens. Sistemas com filhos parentais, ou seja, filhos que existem para suprir carências infantis dos pais, que assumem funções que os retiram do fluxo da vida orientado para o presente e futuro podem ser os exemplos mais clássicos das disfunções. Vale também para outras funções na família como avós, irmãos etc. Cada função trará a clareza da pertinência de posturas frente à vida e frente às funções que serão assumidas ao longo da trajetória e quando as funções estão em desordem, os emaranhamentos começam a aparecer.

- Equilíbrio: em cada função e em cada papel o equilíbrio entre o dar e o receber precisa ser flexibilizado para trocas emocionais saudáveis. Por exemplo, quando crianças, o equilíbrio consiste em receber mais dos pais e cuidadores do que doar, para nossa formação e desenvolvimento global. Crescendo, vamos aprendendo a troca relacional mais igualitária através das amizades e relacionamentos amorosos, ouseja, o que é recebido e doado necessita estar equiparado. Já nas funções materna e paterna a capacidade de doação é sempre maior, ou seja, vamos investir na formação dos filhos nos doando naturalmente, sem expectativas de que os filhos retribuam os cuidados oferecidos, já que o saudável é exatamente que continuem a caminhada levando para a Vida o que foi aprendido e assim as famílias se perpetuam através das gerações. Na função de amor Ágape o amor é direcionado para a Humanidade e sistemas maiores na maior manifestação de doação. Compreender esse equilíbrio e praticá-lo de forma saudável é necessário para o próprio desenvolvimento.

A Constelação Sistêmica é uma técnica que permite a consciência rápida e profunda acerca das experiências e emaranhamentos, mas é importante salientar que não é uma intervenção milagrosa como muitas vezes é propagado. As mudanças sempre dependem muito da nova postura de vida na qual o indivíduo constelado irá ou não investir. Quebrar padrões e mudar posturas é um processo da função adulta que deverá estar fortalecida para o alcance de transformações. E a Constelação se torna uma importante aliada para quem deseja se descobrir verdadeiramente para conduzir com muito mais potência, clareza e consciência o próprio processo de evolução.