Resplandecente Alma

Das Finitudes

5 AGO 2020 • POR Anaisa Mazari • 11h30
As trajetórias que se prolongam, guardam em si uma coleção de saudades. Quanto mais passos são dados, mais memórias, mais histórias, mais elementos no baú das recordações. Vamos aprendendo vivencialmente que a vida é repleta de fases, inícios, meios e fins que são necessários para renovação da alma e da existência pessoal e coletiva. Continuidade, novos tempos, amor saudável que se reinventam para as evoluções. É preciso seguir. Dançar no baile da dança das horas, acompanhando o ritmo, a temporalidade, a arte de viver...
 
Lidar com a realidade das finitudes costuma ser algo sempre deixado para último plano. Dor faz parte do que chamamos de saudade e evitar dor é naturalmente praticado pela humanidade como defesa e até mesmo instinto de sobrevivência. O fim é belo incerto, depende da forma como você vê, já dizia a canção. Não sabemos quando e nem como vai chegar. Mas chega. E essa beleza pode estar aonde você encontrá-la, mas também no aprendizado, nas vivências, em tudo aquilo que se tem para lembrar, que paradoxalmente só causa a dor da saudade porque marcou nossas almas profundamente. E essas marcas profundas na alma podem trazer a alegria de ter vivenciado, a gratidão por tudo que foi possível experimentar, ou mesmo a necessidade de avaliações do que foi possível fazer no momento e o que se pode aprender para o presente e para o futuro, enxergando novas possibilidades. Este imenso baú das recordações presente em cada um de nós é um mestre. De valor imensurável, com o qual sempre podemos aprender! E pelo qual sempre podemos agradecer! 
 
A Vida em plenitude exige presença no Presente. Estar no tempo presente é a melhor forma de aproveitar a jornada com amor e gratidão, pois é uma grande oportunidade que passa... E como passa, e como a maturidade nos ensina poderosamente acerca da incontrolabilidade do tempo e das impossibilidades de voltar! Mas podemos escolher como será nossa viagem nesta jornada. Podemos, sempre que preciso, revisitar o passado – rever vivências, tocar de novo nas boas memórias, repensar a trajetória, sentir... – com o intuito de retornar mais potentes e mais fortalecidos para a construção de um tempo Presente com maior consciência de formas de viver mais saudáveis, frutos do crescimento emocional. Ficar demasiado no passado, pelo contrário, pode trazer estagnação e reminiscências aprisionadoras. Já não é nosso tempo e nosso momento e não adianta insistir em ficar, pois o Tempo É, simples e grandemente É, e acontece da sua forma, a despeito do nosso desejo ou do que sentimos enquanto ele passa. Temos um lugar importante a ocupar. No aqui e agora, seguindo o curso natural da incrível jornada da existência que não pára, enquanto somos presenteados com vida. Se a Vida e o Tempo não param, quem somos nós para parar?
 
“Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão” (Drummond). E ficam mesmo! Tudo o que amamos, o que nos marca profundamente ao longo da trajetória encontra-se ao alcance dos nossos sentimentos, dentro de cada um de nós. O amor internalizado nos permite guardar o que foi significativo e tornar eterno aquilo que as finitudes já levaram do campo das experiências concretas. Somos a integração das experiências, das pessoas que um dia passaram pelas nossas vidas, tocaram nossas almas, fizeram e fazem parte! Porque tudo vive em nós! E com o coração grato e consciência de que tudo continua e precisa continuar... tornamo-nos responsáveis pelas boas continuidades, manifestando Vida em nossa existência, no tempo que nos for concedido. Finitudes existem (também) para que possamos recomeçar!