Demanda pelas mercadorias

Estudos da UFSCar conciliam produção e sustentabilidade na indústria

Ferramentas e processos inovadores, no âmbito da Engenharia de Produção, focam empresas de diversos setores

2 AGO 2018 • POR Redação • 15h24
Diogo Silva conduz estudos sobre produção e sustentabilidade - Andressa Nogueira - CCS/UFSCar

Se você quer comprar um lápis, a empresa que fabrica esse produto e a papelaria que o disponibiliza no mercado precisam planejar adequadamente suas atividades para atendê-lo. Parece uma lógica simples mas que, na verdade, é fruto de um conjunto de esforços chamado de Planejamento e Controle de Produção (PCP), que inclui a previsão da demanda pelas mercadorias, a gestão de estoques de materiais (no exemplo, madeira, mina de escrita etc.) e a gestão da capacidade produtiva. Um grupo de pesquisadores da Engenharia de Produção do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está inovando ao integrar a esse processo de gerenciamento uma nova prática: a sustentabilidade.

"Os clientes estão cada vez mais conscientes sobre a necessidade de preservar o ambiente, e é crescente o desenvolvimento de legislações e iniciativas de cunho político-governamental para o fomento de projetos e produtos mais sustentáveis. Nesse ponto, o PCP tem um papel fundamental, visto que é ele que define o quê, quando e quanto produzir em uma empresa. Logo, se tais decisões forem mais sustentáveis, a produção na empresa também será mais sustentável", defende Diogo Aparecido Lopes Silva, docente do Departamento de Engenharia de Produção (DEP-So), que tem conduzido trabalhos com essa proposta desde 2016.

Em seus estudos, o grupo de pesquisadores liderado por Silva busca integrar a Gestão do Ciclo de Vida - ou seja, uma sistemática de gestão para a sustentabilidade de sistemas produtivos - ao PCP. "Por exemplo, dentro da Gestão do Ciclo de Vida, a principal técnica existente é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) dos produtos. Porém, essa avaliação possibilita apenas o conhecimento sobre os principais aspectos e impactos ambientais potencialmente gerados por um produto ao longo do seu ciclo de vida, mas isso não está integrado às decisões e atividades de PCP. Assim, nossas pesquisas têm sido na direção de superar essa lacuna", explica o docente.

Nesse contexto, o grupo aborda algumas questões: como utilizar os resultados de uma ACV para melhor gerenciar os estoques de materiais numa empresa? Como realizar uma produção para atender a demanda dos clientes, mas reduzindo o impacto ambiental por unidade de produto posto no mercado? Como conciliar a busca pela maior lucratividade nas vendas com a necessidade de reduzir a demanda por recursos naturais para a produção dos mais diversos produtos?

Um dos resultados concretos já obtidos foi a utilização do indicador de ecoeficiência no processo de PCP de uma empresa. O estudo - publicado este ano no Journal of Cleaner Production, de alto impacto científico na área da Engenharia - foi fruto do trabalho de conclusão de curso de Roberto Donizeti Leme Júnior, graduado em Engenharia de Produção e orientado por Silva.

"Estudamos o setor de usinagem de uma empresa metalomecânica fabricante de componentes para uso na indústria automotiva, que apresentava grande perda de tempo durante as atividades de troca de ferramentas (setup) na produção. Nossa preocupação, nesse caso, não era apenas reduzir esse tempo, mas fazer isso de modo mais sustentável, incluindo aspectos de desempenho ambiental. Desse modo, o aluno converteu os fluxos de materiais e de energia consumidos pelas atividades de setup em pegada de carbono [que mede a quantidade total das emissões de gases do efeito estufa causadas por uma pessoa, organização, evento ou produto], e depois combinou tal resultado dentro do indicador de ecoeficiência. O ganho (ou redução) de tempo de setup obtido também entrou no indicador de ecoeficiência, e o estudo mostrou, entre outros resultados, quais eram as máquinas do centro de usinagem mais e menos ecoeficientes", descreve Silva.

Com isso, a melhoria da produção ocorre não apenas sob a perspectiva econômica, mas também ambiental, avalia o docente. "Sem o indicador de ecoeficiência, as decisões de melhoria na empresa seriam apenas focadas naquelas máquinas com tempo de setup mais alto, e/ou que estivessem gerando alguma dificuldade adicional durante essa troca. Mas, incluindo a ecoeficiência, é possível direcionar o plano de ação para uma perspectiva de produção sustentável, reduzindo atividades de setup e, ao mesmo tempo, reduzindo o impacto de pegada de carbono", conclui.

GRUPO DE TRABALHO

Diogo Silva, juntamente com outros professores e estudantes do Campus Sorocaba da UFSCar, têm se reunido mensalmente para discussões sobre a temática do PCP e sustentabilidade. "A ideia é que, até o término de 2018, tenhamos um grupo de pesquisa sólido o suficiente para, a partir de 2019, criarmos um site e também registrarmos o grupo junto ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento [CNPq]", prevê Silva. "O campus da UFSCar em Sorocaba é novo e o curso de Engenharia de Produção tem pouco mais de 10 anos. Portanto, estamos em um local emergente em termos de estudos científicos, e criar novos grupos de pesquisa com ideias inovadoras é algo extremamente necessário para melhor promover a divulgação da Ciência na região e no País", acredita o docente.

A equipe já conta com trabalhos em diversas frentes, entre elas a integração da Produção mais Limpa e da Produção Enxuta em empresas do setor de telecomunicações; mapeamento da sustentabilidade em pequenas e médias empresas da região de Sorocaba; produção Lean & Green com foco na Construção Civil; estudos de pegada híbrida e da pegada de carbono aplicadas em indústrias de Manufatura e de Engenharia Civil. Mais informações sobre as pesquisas podem ser encontradas no site do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção do Campus Sorocaba (www.ppgeps.ufscar.br).