terça, 23 de abril de 2024
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Rio destaca música e florestas em abertura de Olimpíada; Vanderlei Cordeiro acende a pira

06 Ago 2016 - 12h40Por Pedro Fonseca, Mary Milliken e Caroline Stauffer/Reuters
Foto: Reuters/Fabrizio Bensch - Foto: Reuters/Fabrizio Bensch -

Os Jogos Rio 2016 foram oficialmente abertos com uma festa de boas-vindas ao mundo que fez homenagem às florestas brasileiras e à energia criativa da diversificada população do país, ao som de samba, bossa nova e funk, mas com vaias ao presidente interino Michel Temer, na noite de sexta-feira, no estádio do Maracanã.

O ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima acendeu a pira olímpica no auge da cerimônia com quatro horas de duração, após receber a tocha das mãos da ex-jogadora de basquete Hortência, que por sua vez herdou o fogo olímpico do ex-tenista Gustavo Kuerten, encarregado de entrar no estádio com a chama.

Em uma quebra de protocolo logo no início, o nome do líder do país anfitrião dos Jogos não foi anunciado oficialmente, uma vez que Temer pediu aos organizadores da festa para não ser apresentado para evitar ser vaiado pelo público, de acordo com uma fonte.

No entanto, ao assumir o microfone por apenas cinco segundos para declarar os Jogos oficialmente abertos após o desfile das delegações, o presidente foi alvo de vaias das arquibancadas. Fogos de artifício logo em seguida ofuscaram a manifestação do público contra o presidente interino.

Atletas de destaque internacional, como o nadador norte-americano recordista de medalhas de ouro Michael Phelps e o tenista britânico Andy Murray, lideraram as delegações de seus respectivos países no desfile pelo estádio como porta-bandeiras.

A bandeira brasileira foi levada pela pentatleta Yane Marques, escolhida em uma votação popular. A entrada da equipe nacional no estádio, a última entre todos os países, foi um dos momentos mais festejados pelo público, que nessa hora cantou músicas tradicionais de jogos de futebol da seleção brasileira.

"À LA BRASIL"

A cerimônia de abertura, diante de um público de cerca de 50 mil pessoas, celebrou a cultura das favelas, sem esconder o cenário de desigualdade social presente na vida dos cariocas.

A história do Brasil também não foi escondida, da chegada dos portugueses em suas caravelas para conquistar a terra dos índios ao uso de escravos africanos por 400 anos. A mistura de culturas, como demonstrado pela cerimônia, é o que faz do Brasil o complexo mosaico que o país é.

A cerimônia também foi usada para chamar a atenção das 3 bilhões de pessoas assistindo ao evento pela televisão sobre a importância de se cuidar do planeta e das florestas que os europeus encontraram por aqui cinco séculos atrás.

Ao contrário das cerimônias de abertura de Pequim 2008 e Londres 2012, a do Rio contou mais com o talento dos próprios artistas do país e seu reconhecido talento para grandes festas do que com altos investimentos em tecnologia.

Um simples desfile da top model Gisele Bundchen atravessando o campo do estádio ao som de Garota de Ipanema foi ovacionado pelo público. Logo na abertura, o público também aplaudiu o sambista Paulinho da Viola cantando samba. Todos os artistas se apresentaram de graça.

O público também vibrou bastante quando o pioneiro da aviação Alberto Santos Dumont foi representado decolando do estádio e sobrevoando o Rio com o avião 14-bis criado por ele.

O Comitê Rio 2016 não anunciou o custo da cerimônia, mas acredita-se que tenha custado cerca de metade dos 42 milhões de dólares de Londres 2012.

Em discursos protocolares, o presidente do Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, e o presidente do COI, Thomas Bach, elogiaram as transformações pelas quais o Rio passou na preparação para a Olimpíada e se disseram orgulhosos com a primeira Olimpíada na América do Sul.

"Vamos todos celebrar juntos os Jogos Olímpicos à la Brasil", disse Bach, repetindo um termo utilizado outras vezes para referir-se ao modo brasileiro de preparação para os Jogos.

FESTA X CRISE

A animada festa de abertura contrastou com meses de problemas e polêmicas antes da Rio 2016, não apenas na organização mas também no país, que enfrenta sua pior recessão econômica em décadas e uma profunda crise política.

O gasto de 40 bilhões de reais do orçamento da Olimpíada tem provocado críticas de alguns que questionam o investimento nos Jogos em vez de outras áreas, como saúde e educação.

Antes da cerimônia, um grupo de manifestantes protestou contra a realização dos Jogos do lado de fora do estádio, e a polícia usou bombas de efeito moral para dispersar a multidão. Ao menos uma pessoa foi detida.

Diante do forte esquema de segurança montado pelas autoridades para o evento, longas filas se formaram do lado de fora do Maracanã, e pessoas reclamaram de ter de esperar por até duas horas para passar pela rigorosa revista de bolsas e raio X.

CAETANO, GIL E FERNANDA MONTENEGRO

Antes da entrada de centenas dos cerca de 11.000 atletas que irão disputar os Jogos, os ritmos musicais brasileiros deram espaço a uma mensagem séria sobre as mudanças climáticas e o desmatamento da Amazônia. As atrizes Judi Dench e Fernanda Montenegro emprestaram suas vozes a um poema clássico de Carlos Drummond de Andrade sobre esperança para o futuro.

Cada atleta recebeu uma semente de árvore típica do Brasil a ser plantada na futura Floresta dos Atletas no Rio.

A parte final da cerimônia foi marcada por uma apresentação musical de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta, antes da entrada da tocha olímpica para o acendimento da pira por Vanderlei Cordeiro de Lima.

O ex-maratonista, medalhista de bronze em Atenas 2004 numa prova em que foi atacado por um manifestante quando liderava, foi escolhido pelos organizadores para ter a honra depois que o tricampeão mundial Pelé recusou um convite por problemas físicos.

Como o Maracanã não é o estádio olímpico do Rio, o fogo olímpico foi levado até o Boulevard Olímpico, no centro da cidade, para acender uma segunda pira que ficará acesa durante o evento para que todos os visitantes possam vê-la. (reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)

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