sexta, 29 de março de 2024
Dia a Dia no Divã

Transtornos alimentares

27 Ago 2018 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Transtornos alimentares -

Os transtornos alimentares são alterações da relação da pessoa com a alimentação, e essas alterações têm seu início geralmente na infância ou na adolescência. Os mais comuns iniciam na adolescência.

Nem todas as dietas levam a um transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começou com uma dieta por isso a importância do cuidado com as dietas mirabolantes que são ofertadas diariamente.

Na infância esses transtornos alimentares não estão relacionados à autoimagem, mas podem interferir no desenvolvimento da criança.

Os transtornos alimentares mais comum tem seu inicio na adolescência. Os mais frequentes são aqueles relacionados à preocupação excessiva com o peso e/ou com a forma corporal: anorexia, bulimia, vigorexia, transtorno de compulsão alimentar periódica e obesidade.

Vários fatores estão encadeados no desenvolvimento dos transtornos alimentares. Hoje sabemos que fatores biológicos, psicológicos e sociais se inter-relacionam.

O paradoxo que vivemos em nossa sociedade é que nunca se falou tanto em alimentação e nunca tivemos tanta informação sobre nutrição, mas mesmo assim nunca tivemos tantos problemas com peso e tanto mal estar em relação à comida. A questão é que as pessoas buscam resultados rápidos, querem emagrecer, ficar saradas da noite para o dia, impossível, para mudar hábitos é necessário mudar a mente, mudar a forma de viver e isso não ocorre num passe de mágica.

Algumas pesquisas demonstram que os fatores sociais desempenham um papel importante no desenvolvimento dos transtornos alimentares.

A influência da “cultura do corpo” na sociedade ocidental está associada à maior probabilidade de desenvolvimento destes transtornos.

Conheça os transtornos alimentares mais comuns e que são também considerados doenças de autoimagem:

Anorexia

A pressão pela magreza vivida em nossa sociedade de padrões de beleza rígidos e singulares contribui para o desenvolvimento da anorexia, especialmente em adolescentes.

Determinadas profissões que exigem desempenho associado a um corpo leve e/ou esbelto aumentam o risco do desenvolvimento da doença.

A anorexia se inicia geralmente na infância ou adolescência e é mais comum em mulheres. O anoréxico começa a restringir progressivamente os alimentos e elimina aquilo que engorda, como os carboidratos.

A pessoa fica insatisfeita com seu corpo e passa a se sentir obesa, mesmo que esteja abaixo do peso. É a alteração da imagem corporal.

O medo de engordar é a característica essencial deste transtorno. Aos poucos, a pessoa passa a viver em função da dieta, da comida, do peso, da forma corporal, restringindo sua vida e sua existência.

A perda progressiva de peso se torna preocupante e há maior probabilidade de desenvolvimento de transtornos de humor como a depressão e a ansiedade.

Bulimia

A principal característica deste transtorno são os episódios de alimentação compulsiva seguidos de tentativas de expurgação (vômito).

No início, esses episódios podem estar relacionados à fome, já que costumam surgir no decorrer de uma dieta.

Quando o ciclo compulsão-expurgação se instala, ele se associa a fortes sentimentos de frustração, tristeza, tédio, solidão, além da sensação de total falta de controle sobre si mesmo.

Esses episódios geralmente ocorrem escondidos e são acompanhados de sentimentos de menos valia, vergonha e culpa. Aqui também o medo de ganhar peso perpassa o transtorno.

Os mecanismos mais conhecidos utilizados por pessoas que sofrem com a bulimia são: vômito auto-induzido, uso inadequado de laxativos, diuréticos, hormônios tireoidianos.

Outras formas muito utilizadas são jejuns prolongados e exercícios físicos exagerados. Existe uma inquietação com sua condição física, assim como na anorexia, e há também maior probabilidade de aparecimento de transtornos de humor como a depressão e a ansiedade.

Transtorno de compulsão alimentar periódica

É caracterizado por episódios de compulsão alimentar sem as medidas compensatórias extremas de expurgação como a indução ao vômito ou o excesso de exercícios físicos.

A maioria das pessoas que sofre com este transtorno é obesa.

As pessoas com transtorno de compulsão alimentar periódica se diferem das pessoas simplesmente obesas no que diz respeito à gravidade da obesidade, no início precoce desta e na má resposta aos tratamentos de controle de peso.

Os episódios de compulsão alimentar são caracterizados quando a pessoa apresenta três ou mais dos seguintes comportamentos, com frequência maior do que duas vezes por semana:

  1. Comer muito mais rapidamente do que o normal;
  2. Comer até sentir-se incomodamente repleto;
  3. Comer grandes quantidades de alimentos mesmo quando não há fome física;
  4. Comer sozinho, por embaraço em relação à grande quantidade de alimentos que ingere;
  5. Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou culpa depois de comer excessivamente.

Vigorexia

É classificada como uma das manifestações do transtorno obsessivo compulsivo e assemelha-se à anorexia por ser caracterizada por uma forte distorção da autoimagem.

Enquanto na anorexia a pessoa se enxerga obesa mesmo abaixo do peso, na vigorexia a pessoa se enxerga fraca e franzina, mesmo forte e muito musculosa.

Em busca do corpo perfeito, as pessoas com este transtorno praticam exercícios físicos exageradamente.

A insatisfação com o próprio corpo e a busca incessante por mais massa muscular leva à adoção de novos hábitos.

Passam cada vez mais horas na academia, sempre aumentando o peso nos exercícios, promovem alterações na alimentação, introduzindo mais proteínas, consomem suplementos sem orientação e, geralmente, começam a usar esteroides e anabolizantes.

Como na anorexia, essas pessoas se encontram em estado de sofrimento e se sentem inferiores, pois nunca alcançarão o corpo desejado, estando mais propensas ao desenvolvimento de transtornos de humor.

Transtornos alimentares demandam um cuidado multidisciplinar

Devido a sua origem multifatorial, os transtornos alimentares são considerados de difícil tratamento, sendo necessária a interação das abordagens nutricional, psicológica e médica.

Segundo a Nutrigenômica, nosso DNA pode se manifestar ou não de acordo com nossa qualidade de vida como alimentação, prática de exercícios físicos, hábitos de sono, etc.

 Partindo deste princípio, a qualidade dos alimentos é muito mais importante por seus compostos bioativos do que pela quantidade de calorias.

Nosso cérebro é quem controla a fome, a saciedade e o peso. Ele associa gordura com proteção contra um meio ambiente estressante, seja o stress proveniente do trabalho, ambiente familiar ou má alimentação.

Assim, todas as vezes que uma pessoa faz uma dieta restritiva, passa a informação para seu cérebro que o corpo está em perigo, fazendo com que ele estoque gordura para sua sobrevivência.

Começa então o ciclo sem volta dos intermináveis regimes e das dietas ensandecidas, muitas vezes dando o pontapé inicial para os transtornos alimentares.

O papel da psicoterapia

A psicoterapia trabalha não apenas no tratamento destes transtornos, mas também na prevenção deles, por meio do autoconhecimento, da aceitação de si mesmo, da aceitação do tempo necessário para mudanças físicas (por meio da mudança de hábitos cotidianos em vez de recursos imediatos) e da conscientização sobre modelos ideológicos inalcançáveis, entre outros fatores.

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

Leia Também

Últimas Notícias