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Síndrome de Asperger

20 Mai 2019 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Síndrome de Asperger -

A Síndrome de Asperger é um termo que está se popularizando, aparecendo em programas de TV, novelas e várias outras atrações. Apesar disso, no dia a dia clínico, cada vez mais encontramos pais preocupados com o diagnóstico que receberam sobre a saúde dos seus filhos.

Embora a Síndrome esteja aparecendo mais na mídia e sendo debatida, ainda existe pouco conhecimento a respeito. E essa desinformação acaba gerando preocupação em pais que precisam, de fato, entenderem do que se trata o problema e como lidar com a situação.

Trata-se de um transtorno oriundo de uma desordem genética que apresenta características muito parecidas com o autismo. Afeta geralmente crianças do sexo masculino. Seus sintomas podem surgir logo nos anos iniciais de vida da criança. Os portadores da síndrome apresentam dificuldade de socialização.

Hoje, sabe-se que o Asperger é uma forma mais branda de autismo que se caracteriza por uma série de sintomas capazes de causar sofrimento no paciente, principalmente devido ao comprometimento da interação social.

Dessa maneira, podemos enquadrar a Síndrome de Asperger como sendo um Transtorno Global de Desenvolvimento (TGD) que afeta, especialmente, as capacidades de se socializar e se comunicar do paciente. A consequência é uma dificuldade da pessoa interagir socialmente e de se relacionar com os demais.

Por falta de conhecimento a respeito do transtorno, muitos equívocos acontecem, confundindo o problema com depressão, esquizofrenia ou perturbação obsessivo compulsiva, entre outros.

É importante destacar que os portadores dessa síndrome não sofrem nenhum atraso cognitivo ou de desenvolvimento da fala, apesar disso, muitas vezes devido aos estereótipos e os padrões de comportamentos cruéis impostos pela sociedade, são consideradas pessoas estranhas.

Há alguns anos, havia pouca informação sobre o autismo e a Síndrome de Asperger. O diagnóstico era, na maioria dos casos, tardio e não havia um delineamento certo sobre o tratamento. Hoje em dia, devido aos avanços ocorridos essa situação está melhorando e as intervenções podem ser mais eficazes.

TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

Uma das dúvidas muito comuns dos pais que recebem o diagnóstico de Asperger é se os seus filhos são autistas. Em 2013, foi lançada uma nova versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, com alterações significativas para a comunidade médica. Entre elas está, principalmente, o uso de novos diagnósticos e alterações de nomes de condições e doenças que já eram catalogadas.

Assim, a partir desse ano, tanto a Síndrome de Asperger como o Autismo passaram a englobar uma nova denominação: o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Dessa maneira, a comunidade médica passou a encarar o Asperger como uma maneira mais “branda” de autismo.

A principal diferença do surgimento do TEA é a capacidade de diagnosticar diferentes tipos e níveis de autismo, baseado, principalmente, no quanto o paciente tem de comprometimento na comunicação e interação social. Embora possua semelhanças com o autismo, os pacientes com Asperger não sofrem com atrasos no desenvolvimento da fala e nem déficits cognitivos de forma mais acentuada.

COMO IDENTIFICAR A SÍNDROME DE ASPERGER?

A Síndrome é um comprometimento neurológico que atinge aproximadamente de 3 a 7 em cada 1.000 crianças. São diversos sintomas e não há uma precisão de comportamentos para se estabelecer um diagnóstico. No entanto, vários comportamentos podem sugerir a síndrome.

Vale ressaltar que é extremamente importante uma investigação antes de tomar posse de um diagnóstico precipitado, já que isso pode trazer consequências graves. 

Uma pessoa com Asperger não tem prejuízo linguístico, porém, a sua linguagem oral pode apresentar algumas características interessantes. Por exemplo, é comum que ela use em seu repertório um vocabulário diferente com palavras que não fazem parte do nosso cotidiano.

A comunicação verbal com uma pessoa que tem a síndrome pode acontecer normalmente. Entretanto, ela vai ter dificuldade em entender outros aspectos das nossas relações, como o uso da linguagem corporal, a expressão de emoções e as brincadeiras com as palavras (ironias, piadas de duplo sentido etc).

Por ter Asperger, a aprendizagem social é um desafio para as pessoas. Assim, compreender algumas regras nas relações é algo muito complexo. Portanto, é normal, por exemplo, que os pais precisem alertar a criança o tempo todo para aguardar a sua vez de falar e não interferir na fala dos outros indivíduos.

A individualidade e a independência são comportamentos presentes nos portadores de Asperger. Normalmente, há dificuldade de iniciar ou manter conversas, necessitando passar um tempo maior sozinhas. Além disso, a empatia não é uma habilidade muito presente. Para entender o que as outras pessoas estão sentindo, elas precisam que isso seja comunicado verbalmente de forma clara.

Lidar com muitos estímulos gera desorganização e incômodo às pessoas com esse transtorno. Por isso, elas preferem um cotidiano rígido e não gostam de passar por mudanças. Ter um cronograma e horários organizados facilita muito a vida. As atividades fora da rotina, mesmo que sejam prazerosas, precisam ser planejadas.

O diagnóstico seja concluído por uma equipe multidisciplinar, composta por um neurologista ou psiquiatra, por psicólogos clínicos e educacionais, sem precipitação com muita cautela e profissionalismo. O psiquiatra e o psicólogo, são capazes de realizar um profundo trabalho de investigação. É preciso conhecer o contexto de vida da pessoa, a sua história e a qualidade das suas interações sociais em diferentes cenários de convívio familiar, escolar e profissional. Também são feitos diversos testes e exames para compreender a situação de forma global.

Esse diagnóstico acontece com mais frequência na infância, normalmente a partir da entrada na escola, pois nesse período, ficam mais claras as dificuldades de interação. Entretanto, como esse transtorno era pouco conhecido há alguns anos, ainda são feitos diagnósticos tardios – muitas pessoas chegam à vida adulta convivendo com os sintomas sem investigá-los.

TRATAMENTO

A Síndrome de Asperger não tem cura. Contudo, o diagnóstico precoce e a intervenção terapêutica correta conseguem oferecer a essas crianças chances de se desenvolverem melhor e tornarem-se adultos mais independentes.

Como em todo e qualquer tratamento, o portador do Asperger precisa ser compreendido e respeitado, deve-se evitar julgamentos e comparações, cada pessoa é única. É importante que a família busque ajuda de um psicólogo para que construam juntos as melhores estratégias e proporcione melhor qualidade de vida para o paciente.

Nos últimos anos, com o aumento da demanda e as pesquisas nessa área, surgiram diversas opções de tratamentos interdisciplinares para facilitar a rotina de quem tem a síndrome, bem como viabilizar mais segurança e informações para a família.

O tratamento medicamentoso com psiquiatra pode ser necessário para controlar alguns sintomas, como a agitação ou ansiedade excessivas.

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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