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Setembro amarelo e a prevenção ao suicídio

10 Set 2018 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Setembro amarelo e a prevenção ao suicídio -

Setembro amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio,

O objetivo é alertar a população a respeito da realidade no Brasil e no mundo, e suas formas de prevenção. Ocorre no mês de setembro, desde 2014, por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações.

Hoje, o suicídio no Brasil já faz mais vítimas que a AIDS e mata mais do que vários tipos de câncer e, mesmo assim, muitas pessoas ainda não discutem o assunto e têm medo de encarar as doenças psicológicas. É uma epidemia para a qual não há vacina.

 Nos últimos anos, a taxa de suicídio no estado de São Paulo cresceu 30% e os homens são as maiores vítimas. Segundo uma pesquisa recente da OMS (Organização Mundial da Saúde), no Brasil, a cada 100 mil pessoas, quase sete tiraram a própria vida. Além disso, para cada suicídio, podem ter ocorrido mais de 20 outras tentativas que não deram certo.

 A vergonha, o desconhecimento e o desinteresse das vítimas e de seus familiares e amigos em tratar o problema são catalisadores que precisam ser combatidos. Essa é uma das metas do Setembro Amarelo. É necessário, quebrar o tabu que existe, não é fácil, mas é preciso esclarecer, conscientizar e estimular a prevenção para reverter situações críticas como as que estamos vivendo. O problema de saúde pública, é causado principalmente pelo desconhecimento das pessoas sobre as causas e os tratamentos para evitar que ele aconteça. Muitas vezes, familiares e amigos e a própria vítima não reconhecem os sinais. Por isso, é preciso falar sobre suicídio e discutir abertamente.

De acordo com estudos, 9 em cada 10 casos de suicídio podem ser prevenidos se a pessoa buscar ajuda, e se tiver a atenção de quem está à sua volta.

É preciso acabar com o preconceito em relação as doenças mentais, pois 90% dos casos de suicídio estão relacionados a doenças psíquicas, como depressão, bipolaridade, transtorno de ansiedade, esquizofrenia, dependência química e todas são passíveis de tratamento. Portanto o suicídio pode ser prevenido se as pessoas estiverem cientes que precisam e podem ser tratadas.

Existem alguns sinais de alerta que podem salvar uma vida.

VEJA OS PRINCIPAIS

Reconheça os padrões de pensamento suicidas. Normalmente, quem pretende tirar a própria vida apresenta os seguintes padrões: elas remoem pensamentos obsessivamente e não conseguem parar, se sentem extremamente sem esperança, vêem a vida como algo sem significado e, normalmente, descrevem uma sensação de nevoa nos pensamentos que dificulta a concentração
Reconheça as emoções suicidas. Elas podem se manifestar em alterações extremas de humor, excesso de raiva ou sentimento de vingança, ansiedade, irritabilidade e sentimentos intensos de culpa ou vergonha. Pessoas com tendência suicida normalmente se sentem um fardo para os outros e acreditam que estão sozinhas mesmo quando estão perto de outras pessoa;

Reconheça avisos verbais. Quando alguém começar a falar muito sobre morte, preste atenção. Algumas frases são frequentes: “a vida não vale a pena”, “não vou mais ficar triste porque não vou estar mais aqui”, “você vai sentir minha falta quando eu for” ou “ninguém vai sentir minha falta se eu morrer”, “não aguento a dor, não consigo lidar com isso”, “estou tão sozinho que queria morrer”, “não se preocupe, eu não vou estar por aqui para ver o que vai acontecer”, “não vou te atrapalhar mais”, ou “queria não ter nascido”;

Fique de olho na melhora súbita. Muitas vezes, o maior potencial para o suicídio não é o fundo do poço, mas a súbita sensação de melhora. Isso pode indicar que a pessoa aceitou a decisão de encerrar a própria vida e está aliviada por ter um plano. Então, se uma pessoa depressiva e com grandes tendências suicidas melhorar de uma vez, é melhor tomar providencias imediatas;

Reconheça comportamentos irresponsáveis e perigosos como o uso excessivo de drogas (legais ou ilegais), direção imprudente, uso de medicamentos em excesso, etc;

Procure por ferramentas possíveis para o suicídio. Por exemplo: se a pessoa comprou uma arma ou remédios sem motivo aparente,

Perceba mudanças extremas na rotina, repare se a pessoa parou de frequentar, eventos e lugares que sempre gostou de visitar. Quando alguém para de praticar atividades que, até então, lhe davam prazer, é um grande aviso;

Não ignore fatores de risco: morte de um ente querido, perda de emprego, bullying e separações traumáticas, podem afetar e intensificar desejos suicidas. Um histórico de abuso físico ou sexual também pode servir de gatilho, assim como tentativas prévias de suicídio.

COMO CONVERSAR

Conversar com alguém que tenha tendências suicidas pode parecer complicado mas, para saber o que dizer e como agir, basta ter paciência e escolher o tom certo. Quando alguém estiver exibindo sinais de risco, é fundamental falar sem julgamentos. Escute com paciência, não diga que a pessoa está fazendo drama ou exagerando, e nem fale que ela precisa ser mais forte. Não diga que ela deve se sentir com sorte pela vida que tem, e nem a faça se sentir envergonhada ou menor pelos seus pensamentos. Ao dizer esse tipo de coisa, você vai piorar a situação e fazê-la se sentir ainda mais determinada em tirar a própria vida. Ninguém mergulha nesse sentimento horrível por escolha própria, ninguém quer se sentir assim e ninguém deseja continuar nesse estado. Por isso, você precisa compreender e conversar sobre isso! Uma recomendação é ser direta e perguntar se a pessoa planeja algo ou pretende tirar a própria vida. Você vai sentir na resposta os sinais de alerta e, então, deve ligar para a emergência se souber que a pessoa já elaborou planos e precisa de ajuda imediata. Mas não espere a pessoa dizer que quer se matar para buscar ajuda. Muitas vezes, a pessoa não conta seus planos ou compartilha seus pensamentos. Por isso, se algum conhecido está exibindo os sinais acima, procure ajuda.

BUSCANDO AJUDA PROFISSIONAL

Quem estiver passando por esse transtorno, deve procurar ajuda psicológica e iniciar imediatamente um acompanhamento.

Existe no Brasil o CVV, Centro de valorização da vida, que é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal. Presta serviço voluntário e gratuito, de apoio emocional e prevenção do suicídio, para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo.
Realizam mais de um milhão de atendimentos anuais por aproximadamente 2.000 voluntários em 18 estados mais o Distrito Federal. Esses contatos são feitos pelo telefone 141 (24 horas), pessoalmente (nos 72 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br via chat, VoIP (Skype) e e-mail.
É associado ao Befrienders Worldwide, entidade que congrega as instituições congêneres de todo o mundo e participou da força tarefa que elaborou a Política Nacional de Prevenção do Suicídio do Ministério da Saúde.
O CVV desenvolve outras atividades relacionadas a apoio emocional além do atendimento, com ações abertas à comunidade que estimulam o autoconhecimento e melhor convivência em grupo e consigo mesmo em todo o Brasil..

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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