quinta, 28 de março de 2024
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Sentimentos e emoções de fim de ano

30 Dez 2019 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Sentimentos e emoções de fim de ano -

As festas de fim de ano costumam despertar as mais variadas emoções.

Certamente, este é um período que não passa despercebido para a maioria das pessoas, é um momento mais intenso, o que acaba sensibilizando a todos, tanto positivamente como negativamente.

Com as festas e a expectativa das férias, os níveis de estresse acabam aumentando, e muitas vezes se associam a sentimentos melancólicos e até depressivos, pois é o momento quando algumas pessoas sentem que tem a “obrigação” de serem felizes.

Um sentimento de que se ela não estiver com a mesma alegria das outras pessoas, então, é sinal de que há algo muito errado com ela. Para muitas pessoas é comum as reformas e as grandes limpezas, para que a casa fique em ordem para a entrada do ano novo. É como se nós colocássemos um limite, para arrumar o que não foi feito durante o ano inteiro, e diante disto, a agitação aumenta.

Mas, se pararmos para pensar e refletir sobre o porquê de nos colocarmos nessa situação limite, e o porquê dessa pressa, não encontraremos muitas explicações coerentes.

Então, racionalizando, sabemos que pouca coisa muda com a passagem do Natal ou com a virada do ano, mas simbolicamente criamos muitas expectativas neste período, no qual tudo precisa ser resolvido imediatamente.

Para um grande número de pessoas este é um período de muita tristeza, que geralmente vem dos mais diversos motivos.

Já o estresse característico dessa época de final de ano pode surgir tanto de fontes internas quanto de fontes externas.

As fontes internas estão relacionadas com nossa personalidade e de como lidamos no nosso dia a dia com as exigências e com nossos sentimentos.

Já as fontes externas podem vir de situações que não dependem de nossos sentimentos, como perdas, doenças, problemas profissionais e financeiros.

Esse período atiçam nossas lembranças, reativam velhos sentimentos, e acabam desencadeando intensas emoções.

As lembranças da infância se revigoram, tornando-nos mais sensíveis, com possibilidades de sentimentos de vulnerabilidade, emotividade e às vezes até desamparo. Uns guardam lembranças negativas dos Natais e Réveillons passados, porque não eram comemorados com alegria, outros ficam muito ansiosos com medo de que as pessoas não se lembrem dele, e não o procurem. Para outros, é motivo de muita festa.

É uma época de festas em família, e é comum ficarmos mais sensíveis, emotivos, mais suscetíveis aos sentimentos e atitudes daqueles que amamos.

 O final do ano é uma época particularmente perigosa, na minha visão. Talvez a “loucura” desse período devesse ser incluída nas síndromes traumáticas do cotidiano, ao lado da angústia de domingo à noite, e da euforia vazia e efêmera das sextas-feiras. Essas ocasiões estão associadas a situações de risco social iminente, pela ruptura da rotina, da organização do tempo, e pela variação caótica de encontros, desejados e indesejados que pode desencadear.

Assim como as sextas e as segundas-feiras, o final de ano marca um ponto de passagem, mas diferentemente das duas primeiras, sua localização temporal é indeterminada. Para alguns o período começa em novembro; para outros, na semana do Natal; há ainda aqueles que confundem a loucura de fim de ano com complexo das férias perfeitas. Estabelece-se assim uma sequência de retraumatizações que às vezes só se resolvem pela pacificação representada pelo reinício do ano.

É importante que cada um possa refletir sobre o real significado que este período tem para sua vida. Parece que existe uma inversão, este, que deveria ser um período de desaceleração, de paz e tranquilidade para que se possa ter uma reflexão positiva sobre nossas vidas, acaba sendo um período de estresse e agitação.

Desejo que 2020 seja repleto de Saúde Mental!

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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