sexta, 19 de abril de 2024
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Perfil psicológico dos abusadores de animais

10 Dez 2018 - 05h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Perfil psicológico dos abusadores de animais -

Semana passada mais um caso triste de crueldade contra animais causou grande revolta nas redes sociais. A violência aconteceu no dia 30 de novembro, em uma loja da rede de supermercados Carrefour, em Osasco, São Paulo, e resultou na morte de uma cachorra.

Ovídio, antigo poeta nascido em Roma, já nos havia advertido há mil anos que “a crueldade contra animais ensina a crueldade contra humanos”, no entanto, parece que o tempo passou em vão. Cada vez mais temos notícias de animais queimados, envenenados, cegados, enforcados, enterrados vivos, mutilados, e inclusive, pintados por diversão ou para passar o tédio. Estas torturas escondem algo mais profundo: o desejo, e às vezes a necessidade, de pessoas psicologicamente e socialmente fracas se mostrarem-se grandes, fortes e valentes.

Pessoas que desde muito cedo desconhecem seus próprios limites sociais, intelectuais ou culturais. Que, ao perseguirem uma criatura mais vulnerável, se sentem por um momento mais fortes, ou melhor, menos fracas. Identificar alguém mais suscetível e frágil é a maneira fácil de não se sentir o último dos últimos.
O problema quase sempre surge nos primeiros anos de vida. Cerca de 30% dos atos de violência contra animais é cometido por menores de idade, muitas vezes em grupo. Onde 94% são homens e 4% tem menos de 12 anos.

Pessoas com antecedentes de violência contra animais são cinco vezes mais propensas a cometer violência doméstica.

Cerca de 20% dos casos é cometido no entorno familiar.
A família é o lugar principal onde o ser humano cresce e aprende os comportamentos, as emoções, os sentimentos e os traços que forma a sua personalidade. Se dentro desse lugar é visto como normal abusar de outros, muito provavelmente esta atitude será assimilada pela criança.

As razões que levam uma criança a maltratar um animal podem ser diversas: falta de empatia, ter sido vítima de abusos, crueldade ou abandono; falta de uma educação adequada, dirigida a reconhecer o animal como ser vivo, ainda que diferente; ou, finalmente, a imitação dos gestos violentos praticados pelos pais contra ele ou contra o animal, inclusive, para punir a própria criança.

A relação com o diferente tem um papel fundamental no desenvolvimento psicológico humano e a educação quanto aos animais é essencial para a formação dos conceitos de empatia, altruísmo e aceitação.

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais[1] (UNESCO, 1978), no seu preâmbulo, declara que todo o animal possui direitos e que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza. Considera que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo; que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros; que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante; e que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais.

No entanto, o homem têm demonstrado cada vez mais sua frieza com relação a esses direitos. Ainda é comum e tolerado por muitas pessoas o sacrifício de animais em rituais religiosos, como rodeios, vaquejadas e touradas, as práticas folclóricas bárbaras, os animais de tração, animais em circos e zoológicos, a caça esportiva, animais para treinamento cirúrgico, a forma como são criados e utilizados como alimento, etc.

A crueldade com animais é uma das características em crianças e adolescentes que mais chamam a atenção dos médicos para diagnosticar o transtorno de conduta. Se for recorrente e estiver aliado a mentiras frequentes, furtos e agressões, por exemplo, esse comportamento pode ser bem preocupante. Especialistas afirmam que existem 3 fatores de risco para a psicopatia: a predisposição genética, um ambiente hostil e possíveis lesões cerebrais no decorrer do desenvolvimento. Sabe-se ainda que a maioria dos psicopatas sofreu algum tipo de abuso na infância, seja físico, seja sexual ou psicológico.

A violência contra os animais é propriamente um grande indício de desvio de personalidade e conduta, uma grande demonstração de má índole, de poder sobre o mais fraco, sobre aqueles que não podem ou não têm como se defender. Atos cruéis com os animais são o primeiro passo para que o instinto perverso de muitos vá aos poucos se solidificando e sofisticando até colocar em prática com os de sua espécie, aquilo que já foi praticado anteriormente com os indefesos animais.

A Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA) realizou uma pesquisa, com o intuito de alertar as autoridades e a Justiça sobre o alto grau de periculosidade das pessoas que matam animais em série ou em massa e cujo rastro de sangue e dor pode ser contido se forem investigadas, detidas e monitoradas. A pesquisa demonstrou que animais incendiados ou enterrados vivos, espancados até a morte, enforcados, torturados, envenenados ou mortos por injeção letal – todos esses procedimentos são comuns em psicopatas. O alvo predileto: criaturas frágeis, indefesas, fáceis de capturar e manter sob seu domínio – e os animais se enquadram em todos os itens, assim como as crianças, mulheres e idosos que, numa segunda etapa da vida de um psicopata, podem se tornar seus alvos.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma em cada 100 pessoas teria tendência à psicopatia. Segundo pesquisas americanas, a cada 100 pessoas, quatro são psicopatas. Isso explica porque são tão “comuns” os torturadores de animais.

Crueldade com animais é algo difícil de compreender para quem nutre tanto respeito e compaixão por bichos, falta de empatia e de caráter são algumas das razões.

A meu ver é inaceitável, é um crime bárbaro torturar um animal até a morte! É revoltante!

É preciso denunciar, não podemos aceitar violência de qualquer espécie, seja com animais ou com humanos. Os noticiários mostram diariamente a prática de violência e a impunidade escancarada.

Até quando?

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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