terça, 16 de abril de 2024
Resplandecente Alma

Os Três Níveis de Relacionamento e a Pandemia

29 Mai 2020 - 17h18Por Anaísa Mazari
Os Três Níveis de Relacionamento e a Pandemia -
Relacionar-se é inerente à vida humana e as formas de conexão consigo próprio, com as pessoas e com a vida tendem a se elaborar cada vez mais ao longo do desenvolvimento. Através das cotidianas interações desde a infância, as relações vão ganhando forma e até mesmo padrões – padrões estes que muitas vezes necessitam ser sentidos e repensados na fase adulta, uma vez queas formas de se relacionar estão permeadas por transmissões afetivasque determinam a interpretação acerca dos acontecimentos, moldando o pensar, o sentir e o agir nas interações. Qualidade de vida emocional e prazer nos relacionamentos são indicativos de que os padrões podem estar saudáveis ou disfuncionais e sim, seremos convocados pela vida muitas vezes através dos incontáveis desafios da jornada a fazermos adaptações diversas para crescer e experienciar as diferentes etapas de evolução e amadurecimento emocional.
 
Até 5-7 anos de idade, a grande maioria das experiências emocionais são largamente absorvidas principalmente pelo instinto de sobrevivência que nessa fase encontra-se muito intensificado. Ou seja, os ambientes predominantes da criança trarão mensagens diversas que ficam gravadas contribuindo para os relacionamentos posteriores e para a forma como estes relacionamentos serão desenvolvidos ao longo da vida. A partir da função materna, aprendemos o primeiro nível relacional: o intrapessoal (você com você mesmo). A autoimagem é como um espelho, construída a partir do que foi sentido e ouvido na infância, sobretudo da mãe, e uma infância com estímulos positivos certamente trará as bases para uma boa autoconfiança, autoestima, amor próprio, criatividade e até mesmo saúde e disposição física (que são aspectos diretamente influenciados pelo mundo emocional). O contrário, ou seja, uma relação intrapessoal com aspectos negativos, de impotência, de autocrítica exacerbada e autodepreciação, revela um passado de escassez afetiva que merecerá especial atenção na fase adulta, demandando o desenvolvimento de percepções mais positivas acerca de si mesmo que pode ser alcançado através de autoconhecimento e autocuidado emocional.
 
Já o relacionamento interpessoal (você e o outro) são os vínculos diversos criados ao longo da vida, vínculos familiares, conjugais ou amorosos, sociais e profissionais. Para bons relacionamentos em geral, é primordial uma boa conexão intrapessoal. Quando mudamos a visão acerca de nós mesmos, certamente nos comportaremos de forma diferenciada também na troca interpessoal, passando a aceitar as pessoas como elas são, desenvolvendo pontos de vista e ações mais empáticas, assim como colocando limites quando necessários. A infância (novamente) também tem seus espelhamentos neste nível de relacionamento, pois acontecerão projeções nos vínculos atuais acerca de como na infância já aconteciam essas trocas com cuidadores, se a espontaneidade era permitida, como eram acolhidos os sentimentos e manifestações em geral, o que era valorizado ou não na troca com familiares, o que era necessário fazer para se sentir querido e amado etc.
 
O terceiro nível se remete ao relacionamento sistêmico, abrangendo os valores acerca da vida, referenciais diversos relativos aos vários papéis que assumimos na idade adulta, propósitos maiores da existência humana e missão. Relacionar-se sistemicamente de forma saudável e proveitosa tem suas raízes na ampliação da consciência, na mudança de referenciais pouco saudáveis muitas vezes perpetuados pelo sistema familiar de origem, consciência do pertencimento à humanidade como um todo maior, o que traz responsabilidades, mas também plenitude.
 
A pandemia do novo coronavírus é considerada uma crise sistêmica em todas as suas dimensões. O aprendizado de novos comportamentos, de mudanças na forma de sentir e pensar, e mais do que isso, a necessidade de mudanças de postura perante a vida e o reconhecimento de que não somos seres isolados, tornaram-se imperativos. Ainda em adaptação, “relacionar-se” com a realidade da vida considerando que o papel e compromisso que cada um de nós temos em relação ao próprio desenvolvimento pessoal traz ressonâncias significativas e impactos para o relacionamento sistêmico, nos torna participantes ativos do bom enfrentamento do momento de crise. As conexões sempre existiram e são incomensuráveis; basta reconhecê-las e usá-las como as potentes ferramentas que são para compreensões acerca da vida mais abrangentes e promissoras.

           

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