Rui Sintra - Crédito: arquivo pessoal
Ao participar das comemorações dos 100 anos das ciências quânticas aqui no Instituto de Física de São Carlos (USP), sinto que não estou apenas celebrando um marco científico, mas presenciando um encontro simbólico entre passado e futuro. São Carlos, que respira conhecimento e inovação, abriga universidades e polos tecnológicos de ponta, como a USP, a UFSCar e diversos centros de pesquisa e startups que fazem de São Carlos o que muitos chamam de “O Vale do Silício brasileiro”. E nada poderia ser mais inspirador do que associar esse ambiente vibrante à ciência que, há um século, revolucionou nossa compreensão do universo: a Física Quântica. Quando penso no surgimento dessa teoria, lembro-me de que ela nasceu da dúvida — da coragem de alguns cientistas em questionar o óbvio. Planck, Einstein, Bohr, Schrödinger e tantos outros abriram caminho para uma nova forma de pensar o real. Hoje, um século depois, vejo esse mesmo espírito pulsando nos laboratórios e centros de inovação de São Carlos, pois comemoramos o que ainda está em curso. Aqui, pesquisadores exploram materiais quânticos, sensores de altíssima precisão, dispositivos de computação e comunicação que, até pouco tempo atrás, pareciam pura ficção científica. Ao andar pelos corredores da USP de São Carlos, percebo o quanto o pensamento quântico transcende a Física. Ele inspira engenheiros, químicos, biólogos, cientistas da computação e até filósofos a repensar suas fronteiras. Essa interdisciplinaridade é a alma da ciência moderna — e é exatamente o que torna São Carlos um terreno fértil para o florescimento dessas ideias. A cada novo projeto de pesquisa, a cada startup de base tecnológica que surge, há um pouco da semente plantada há cem anos por aqueles que ousaram questionar a rigidez da matéria e a previsibilidade do mundo.Pessoalmente, o que mais me fascina nas ciências quânticas é o paradoxo entre o invisível e o real. Elas nos mostram que o universo é feito de probabilidades, de campos sutis, de relações que escapam aos sentidos comuns. E, talvez por isso mesmo,elas se conectem tanto ao espírito universitário: porque a universidade é o espaço da dúvida, da curiosidade, do pensamento livre. Celebrar os 100 anos da física quântica, portanto, é também celebrar a vocação das universidades e dos polos de tecnologia de São Carlos em desafiar os limites do conhecimento. Hoje, enquanto assisto às palestras, aos debates e às demonstrações que marcam este centenário, percebo que estamos vivendo um momento histórico. A física quântica, que nasceu das equações e paradoxos de laboratório, está agora nos fundamentos das tecnologias que moldarão o século XXI — da computação quântica às comunicações seguras, da inteligência artificial à medicina de precisão. E São Carlos, com sua tradição científica e seu espírito inovador, está no centro dessa transformação. Cem anos depois, a mecânica quântica continua a nos ensinar que o universo é dinâmico, criativo e imprevisível — assim como a própria ciência. E, ao ver o brilho nos olhos dos jovens pesquisadores desta cidade, sinto que a próxima grande revolução quântica talvez já tenha começado — aqui mesmo, nos laboratórios, nos projetos e nas ideias que brotam em cada esquina de São Carlos.





