terça, 23 de abril de 2024
Artigo Rui Sintra

O sapato

06 Jun 2020 - 07h00Por (*) Rui Sintra
O sapato - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

Para quem ainda não saiba, o português é um exímio contador de histórias, principalmente de piadas. Contudo, não é raro acontecerem episódios verídicos na vida de muitos portugueses que, por sua originalidade e hilaridade, bem podiam constar nos melhores livros de piadas do mundo. A história que vou contar aos meus leitores (na primeira pessoa) é verdadeira e aconteceu com um português que reside em São Carlos (não sou eu... Juro!), cujas iniciais de seu nome são PP.

“Naquele tempo, eu estava prestes a me divorciar. Portanto, vocês já imaginam qual era o clima com minha mulher. Clima do inferno!!! Como a minha vida já estava estragada, mesmo, resolvi sair uma noite para beber, sózinho, umas cervejas num bar requintado de minha cidade. Entrei, pedi uma cerveja bem gelada e sentei-me numa mesa meio que afastada da confusão característica de um típico início de fim de semana. Várias vezes me senti observado, mas, conforme o tempo passava, cada vez que olhava disfarçadamente em meu redor, não conseguia ver nada de anormal. Certamente, era já o efeito das cervejas cujas garrafas vazias se alinhavam em cima da mesa. Em determinado momento, quando lentamente erguia o copo para beber mais um último gole, eis que me deparo com uns olhos negros, lindos, me encarando de frente numa mesa afastada: quase que cuspi o resto da cerveja que tinha na boca. Convidei-a para sentar na minha mesa e ali estivemos quase duas horas numa conversa bacana, divertida, devidamente selada com um prolongado beijo que abriria as portas para uma noite delirante.

O sol já estava nascendo quando entrei em casa, em bicos dos pés. Estendi-me no sofá e rapidamente Morfeu me abraçou, mas não por muito tempo. Acordei, sobressaltado, com o grito estridente de minha mulher: “Ainda estás dormindo??? Esquecestes que prometeste levar a minha mãe hoje ao Santuário de Fátima? Da próxima vez não prometas aquilo que não podes cumprir!!!”. Aquele tom de voz, aqueles gritos obrigaram a que eu me levantasse rapidamente e tomasse uma ducha rápida. Em dez minutos eu estava acompanhando minha “querida” mulher e minha sogra para o carro. Estávamos a poucos quilómetros do Santuário e eis que de repente, na última descida para a cidade de Fátima, um monstruoso congestionamento. Começamos um irritante anda e pára e a cada freada eu sentia algo batendo no meu calcanhar. Dez minutos depois me irritei com aquela incessante cutucada e freei um pouco mais forte. Senti algo escorregar entre meus pés. Era um sapato feminino... Aflito, tentei várias empurrar o sapato de volta para debaixo do banco, mas não deu certo. Pensei comigo: “Ontem à noite ela deixou um sapato aqui e agora vou ter que resolver isto, senão vai haver escândalo aqui mesmo”. Em um determinado momento, consegui colocar o maldito sapato perto da porta e alegando que ela estava mal fechada, abri, curvei-me disfarçadamente e num ápice peguei o sapato e joguei-o num gesto rápido no meio do asfalto. Conforme ia descendo a estrada, no congestionamento, olhava o espelho retrovisor conferindo que o danado do sapato ia se distanciando. Que alívio!!!!

Finalmente, chegamos ao Santuário de Fátima. Eu e minha mulher descemos do carro, enquanto minha sogra, de repente, se inquietou, gritando e esperneando no banco de trás: “Cara@@@@@@@, está faltando um de meus sapatos, fo@@-@@”. O final da história foi que eu fiquei em silêncio enquanto ela vociferava e a filha tentava arrumar uma justificativa.

Fui até uma loja popular onde comprei um par de chinelos para a velhinha, não parando de rir”.

(*) O autor é Jornalista profissional / Membro da GNS Press Association (Alemanha) / Correspondente internacional freelancer. MTB 66181/SP.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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