quinta, 18 de abril de 2024
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O Desafio da Responsabilidade Coletiva em Tempos de Pandemia

31 Jul 2020 - 16h37Por Anaísa Mazari
O Desafio da Responsabilidade Coletiva em Tempos de Pandemia -

A cada dia que passa, os casos da Covid-19 sobem cada vez mais e não mais raro é que tenhamos conhecidos e parentes cada vez próximos acometidos pelo vírus. O que antes assustava por existir, mas por ora, estava relativamente distante dos cotidianos de quem não convivia com pessoas infectadas, ainda possuía, sobretudo para os negacionistas, alguma licença de ganhar interpretações equivocadas acerca da gravidade da situação. Manifestações diversas expressadas na trama social ainda sinalizam minimização do problema e ausência da consciência de que a responsabilidade coletiva ainda é o caminho comportamental possível para um maior controle da doença e suas consequências até o surgimento de tratamentos e vacina que possam garantir maior proteção.

Por responsabilidade coletiva compreende-se o conjunto de atitudes e comportamentos provenientes dos atores da trama social que confluem para o cuidado coletivo, sendo este cuidado construído pelas responsabilidades individuais. Em meio a uma pandemia e suas respectivas crises sistêmicas, o autocuidado para com a saúde por exemplo, está diretamente relacionado a não proliferação do vírus e, portanto, relacionado ao cuidado da comunidade. Implicar-se na realidade de que a letalidade ou gravidade do quadro mediante a infecção pela doença pode não ser tão grande de acordo com alguns perfis, mas que como potenciais transmissores, pessoas vulneráveis podem ser atingidas letalmente por comportamentos inapropriados para tempos de pandemia, seria relevante para trazer a consciência para a necessidade de atitudes preventivas. Mas infelizmente o que se observa é uma compreensão individualista ainda predominante e a busca por “culpados” quando se sabe de notícias que informam a contaminação de alguns nichos específicos, quando na realidade somos todos, sem exceção, partes integrantes e importantes do controle do problema. Deixar de se proteger e assim, abster-se dessa responsabilidade coletiva, trará consequências diversas para o meio social e também para as esferas individuais.

Para Émile Durkheim, sociólogo, antropólogo e psicólogo social francês (1858-1917),as possibilidades de sobrevivência em âmbito social dos indivíduos relacionam-seà solidariedade social e interdependência. Solidariedade aqui não significa o ato caritativo de ajudar o próximo geralmente associado a benevolências, mas sim traz a essência de uma profunda consciência grupalde que o meio social é como um organismo vivo que depende de interações através das relações de cooperação entre os indivíduos. Mesmo com funções tão diferenciadas no meio social, cada um ocupa papéis que se complementam e são interdependentes. Ou seja, a solidariedade consiste nessa engrenagem onde todos os comportamentos dos indivíduos pertencentes a ela apresentarão ressonâncias importantes na vida social global. Através da interdependência, toda atitude afetará direta ou indiretamente a todos nós, mais cedo ou mais tarde, trazendo resultados de acordo com a natureza dos atos praticados beneficiando ou atingindo negativamente a totalidade.

Para melhores níveis de responsabilidade coletiva, o sentimento de pertencimento é uma das principais forças que mobilizam para o senso de coletividade. Pertencer (ou não) é algo que já começa a ser experimentado desde a infância no sistema familiar, considerando também que pertencimento é uma das leis sistêmicas postuladas por Bert Hellinger, criador das constelações sistêmicas. Segregações, preconceitos diversos, desigualdades em âmbito macrossocial atentam contra o sentimento de pertencimento em uma sociedade que ainda apresenta profunda dificuldade de integração das diferenças de seus membros, praticando exclusões e disseminando fragmentações que comprometem a coesão social e a solidariedade, fragilizando a responsabilidade coletiva.

Pertencer, solidarizar-se - sempre lembrando que sendo solidários no sentindo social para com os outros, estaremos sendo “medicinais” para com nossa própria existência e qualidade de vida - responsabilizar-se, serão as necessidades para enfrentamento da pandemia e de outras crises sistêmicas. Nortearão comportamentos mais promissores coletivamente, observando ainda que no atual contexto, as instâncias individual e coletiva se fundem e se interpenetram indissoluvelmente. Somos participantes. E que façamos o melhor com nossas contribuições.

        

           

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