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Mundo Mistério no Episódio 3 levanta possibilidades sobre viagem no tempo

15 Set 2020 - 10h36Por Kleber Chicrala
Mundo Mistério no Episódio 3 levanta possibilidades sobre viagem no tempo -
Não precisa disfarçar: sabemos que pelo menos uma vez, você já pensou nas possibilidades de voltar para o passado e consertar um erro, ou de ir para o futuro e ver como está a sua vida. O conceito de viagem no tempo é muito explorado nos filmes, nas séries e até nos games, e não passou despercebido na série Mundo Mistério, da Netflix, protagonizada por Felipe Castanhari, do Canal Nostalgia. O terceiro episódio da atração visa levantar uma pontinha de esperança acerca dessa possibilidade.
Em entrevista ao Canaltech, Castanhari confessa que o episódio mais desafiador da série foi justamente o terceiro. "Para mim, o episódio mais difícil foi o episódio três, da Viagem no Tempo. Coincidentemente é um dos episódios que eu estou recebendo mais feedback positivo, e aparentemente o que está com melhor nota no IMDb", conta.
 
"Foi o mais difícil de fazer por causa do tema em si. Explicar a viagem no tempo de forma científica não é nada fácil, principalmente porque a gente precisa passar ali por termos científicos que não são de fácil digestão, como a teoria da relatividade e como ela se aplica à viagem no tempo. Mas ainda bem que a gente teve ajuda dos especialistas", o youtuber ainda acrescenta.
 
No episódio, Castanhari faz uma visita à USP - Universidade de São Paulo Campus de São Carlos, onde há relógios atômicos, e cita um experimento realizado com esses relógios que acaba sendo um dos responsáveis por essa questão da possibilidade da viagem no tempo ser real. Para entender isso melhor, conversamos com o professor Daniel Varela Magalhães, da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.
 
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Prof. Dr. Daniel Varela Magalhães
Professor Associado
Departamento de Engenharia Mecânica - Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) - USP
Diretor do EESCin - Centro Avançado EESC para Apoio à Inovação
Membro do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) – IFSC – USP
 
Daniel explica que um relógio atômico é qualquer sistema que seja capaz de se referenciar a uma transição para atômica para gerar um marcador de tempo, e a diferença de energia entre níveis atômicos é discretizada, por isso falamos de saltos entre níveis atômicos. "A energia que um átomo precisa absorver para subir de nível, ou a que ele libera ao descer em energia, tem frequência característica. Algumas dessas frequências estão até em espectro visível, como algumas de sódio que são amarelas, e podemos checar visualmente", introduz o professor.
 
Ele acrescenta que, quando estimulamos uma dessas transições num átomo e vemos que ela realmente acontece, sabemos que estamos na frequência certa e característica daquele átomo. Daí podemos usar essa frequência característica como um tique-taque para um contador e "constituir" o nosso relógio atômico. "Quando temos a parte sem o contador dizemos que temos um Padrão de Frequência Atômico. Como se fosse apenas a parte do pêndulo, sem os ponteiros. As aplicações de frequência e tempo tem sido cada vez maiores, porque vão abrindo novas possibilidades". Como exemplos, Daniel cita a navegação por satélite, redes de comunicação e autenticação de transações financeiras.
 
O episódio cita um experimento em que os relógios atômicos foram iniciados ao mesmo tempo e levados a diferentes altitudes. Quando foram colocados lado a lado de novo, estavam diferentes. "Com a alta resolução possibilitada pelos relógios atômicos, experimentos como o citado no episódio do Netflix ficam mais acessíveis. A medida de uma diferença temporal entre os dois relógios em altitudes diferentes na terra só pode ser feita com alta resolução. Os relógios atômicos são instrumentos que permitem ver melhor essas variações sem a necessidade de esperar muito tempo", diz o professor.
 
Ele acrescenta que, devido à alta resolução temporal dos Relógios Atômicos é que conseguimos fazer medidas de grande sensibilidade temporal mais rapidamente. "Costuma-se muito falar que um relógio atômico atrasaria 1 s em cerca de 300 milhões de anos, por exemplo, mas sua real utilidade para nós, nesse caso, é ser capaz de medir o tempo em segundos com 16 casas decimais. Daí uma diferença temporal dessa ordem seria perceptível rapidamente. Pode-se fazer a medida em 1 segundo, ao invés de esperar 300 milhões de anos para verificar a diferença temporal".
 
Na USP tem relógios chamados de comerciais, que são usados como ponto de partida, e relógios construídos por eles mesmos. Em vários casos, Daniel conta que em alguns casos é preciso desenvolver algum subsistema por não encontrar algo comercial com o desempenho necessário. Daniel ainda conta que no Brasil há o Serviço da Hora, no Observatório Nacional do Rio de Janeiro, que é o responsável pela Hora Legal Brasileira e o Laboratório de Tempo e Frequência, no Campus de Xerém do Inmetro, que está desenvolvendo formas de fornecer base de tempo para diferentes laboratórios. "Apesar de serem instituições diferentes, mantemos uma colaboração com complementaridade, para fortalecer essa área tão importante para o país", conclui.
                             
Fontes: Kleber Chicrala – Jornalismo Científico do CEPOF – INCT – IFSC – USP e https://canaltech.com.br/series/mundo-misterio-episodio-3-viagem-no-tempo-170452/ - Por Nathan Vieira e Mundo Mistério, da Netflix, protagonizada por Felipe Castanhari, do Canal Nostalgia.
 

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