terça, 23 de abril de 2024
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Janeiro Branco: por uma cultura da Saúde Mental

06 Jan 2020 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Janeiro Branco: por uma cultura da Saúde Mental -

O Janeiro Branco é uma campanha, ainda recente, que merece muita atenção. Ela objetiva mobilizar a sociedade em favor da saúde mental, mudando a compreensão cercada de tabus sobre a saúde mental e promovendo mais possibilidade de acesso a saúde mental a todos os indivíduos e a sociedade como um todo.

O assunto ainda é pouco discutido pela sociedade e ainda há o tabu em volta do tema. É preciso compreendermos o conceito de saúde mental de forma ampliada, como um estado de equilíbrio que proporciona bem-estar ao indivíduo e a sociedade como um todo. Com essa ideia em mente, o Janeiro Branco pretende colocar o tema da saúde mental em evidência durante esse primeiro mês do ano, fazendo com que as pessoas reflitam, discutam e atualizem suas ideias sobre o que é a saúde mental.

Temos um número crescente de casos de depressão, ansiedade, fobias, pânico e agressividade. Isso mostra que as pessoas precisam começar a cuidar também dos aspectos mentais e emocionais

Os seres humanos são seres de conteúdos psicológicos, suas vidas, necessariamente são estruturadas em torno também de questões mentais sendo portanto, imperioso e necessário, que a subjetividade humana possua lugar de destaque em nossa cultura e em nossos cotidianos, sob pena de sermos vítimas de nós mesmos e de quem despreza as próprias necessidades psicológicas e as necessidades psicológicas alheias.

A campanha ainda é nova, começou em 2014 em Minas Gerais.

Já em 2014 foram realizadas em Uberlândia palestras em diversos espaços da cidade e uma ampla divulgação do tema online.

Hoje a campanha conta com colaboradores em diversas cidades do Brasil e cada ano mais pessoas aderem e ajudam. Em muitas cidades é possível participar de palestras ou mesas de debate sobre o assunto.

Infelizmente aqui em São Carlos há pouquíssimas ações em prol da campanha.

O mês de janeiro foi escolhido a dedo, por alguns motivos.

O primeiro é que em janeiro, as pessoas têm a sensação de um novo começo, novos planos e novo estilo de vida. Os criadores da campanha quiseram aproveitar esse clima para que as pessoas comecem o ano pensando também em sua saúde mental.

Além disso, muitas pessoas passam pela melancolia de fim de ano, e janeiro é um momento em que muitas pessoas estão fragilizadas por isso, sendo esse o momento ideal para buscar ajuda profissional e começar a cuidar da mente.

Já a cor branca representa o quadro em branco, o papel em branco, no qual escreveremos ou desenharemos uma nova história da saúde mental, sem os tabus e preconceitos que a cercam.

Infelizmente, a saúde mental ainda é cercada de tabu. A maioria das pessoas acha que ir ao psicólogo é “coisa de louco”. Isso é herança de uma cultura antiga e ultrapassada de higienização, onde se tirava tudo aquilo que incomodava na sociedade e isolava em manicômios. Assim, o “louco”, era visto como inferior, sem cura, que devia ser isolado e afastado para não incomodar os saudáveis. Junto com essa fama desrespeitosa, a compressão do trabalho do psicólogo também se inferiorizou, começou-se a acreditar que essa era a profissão que cuidava só dos “loucos”, aqueles que deviam ficar isolados.

Hoje vemos um avanço e o tratamento da chamada “loucura” é muito mais humanizado, há ações no sentido de inserção na sociedade e não mais o contrário. Hoje, há a compreensão que o psicólogo cuida de saúde mental, da nossa parte emocional, e esse lado emocional todos nós temos. O Psicólogo cuida daquilo que mais negligenciamos o tempo todo, aquilo que faz com que nos sintamos bem ou mal. Por isso, precisamos falar sobre saúde mental, precisamos desconstruir essa ideia de que a pessoa ir ao psicólogo significa que é louca, que precisa ter vergonha disso. Buscar ajuda psicológica não significa perder o controle de sua vida, pelo contrário, significa manter-se no controle, significa compreender que a situação te fragiliza e você precisa encontrar formas de lidar com isso.

Quando falamos em saúde do corpo, todos aceitam o cuidado preventivo.

Faz sentido cuidar do corpo para que ele não sofra e adoeça, não é mesmo? Para não “ficarmos na mão” no futuro. Mas, e da mente? Por que a mente só recebe cuidados quando a coisa já está “no fundo do poço”? Quando fazemos exercício para promover saúde ao nosso corpo, colocamos um bom tênis, para que o nosso joelho não sofra com o impacto. Mas e o impacto diário em nossa vida emocional? O estresse, os problemas financeiros, familiares, as inseguranças, os medos? Por que não podemos vestir algo para amortecer esses impactos em nossa vida também? Parece mais do que justo que cuidemos daquilo que controla todo o nosso corpo, pois o corpo pode estar bem, mas se a cabeça vai mal, tudo vai mal.

Há sofrimentos que podem ser prevenidos. Dores que podem ser evitadas, violências que podem ser impedidas, cuidadas ou reparadas. Exemplos que podem ser partilhados. Ensinamentos que podem ser difundidos em nome de povos mais saudáveis e mais bem resolvidos em termos emocionais.

Reflita, procure ajuda, peça indicações de bons profissionais e vamos cuidar da nossa saúde mental, pois sem ela não há saúde!

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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