quinta, 25 de abril de 2024
Memória São-carlense

Irmã Jeanne D`Arc, educadora que semeou esperança

21 Jun 2019 - 07h00Por (*) Cirilo Braga
Irmã Jeanne D`Arc, educadora que semeou esperança - Crédito: FPMSC/Divulgação Crédito: FPMSC/Divulgação

Chamou-se Irmã Maria Jeanne D`Arc a religiosa que percorreu os caminhos da fé e da intelectualidade e sempre com otimismo, desenvolveu brilhante trajetória na direção do Colégio São Carlos e das Obras Sociais Sacramentinas.

Fiquei feliz quando em 2007 ela, conterrânea de nossa pequena Boa Esperança do Sul, me presenteou com o livro que então lançava intitulado “Em direção ao Infinito”, uma coletânea de artigos escritos em épocas diferentes, abordando vários temas. Padre Luiz Cechinato, no prefácio da obra, apropriadamente comparou os artigos a “sementes de esperança lançadas ao longo do caminho”.

Guardo o exemplar com carinho e frequentemente releio alguns trechos, convidativos à reflexão.

“Nenhuma palavra dita ao coração será em vão quando se tem o desejo de fazer crescer e tornar os outros felizes”, dizia ela, num dos textos, refletindo a sabedoria do seu modo de pensar sobre a vida cotidiana.

Quando “Irmã Jeanne”, nascida Shirley, foi homenageada na Câmara Municipal com o título de Cidadã Honorária, ao lado de seu irmão Jorge, pude notar a dimensão de sua obra. Ao mesmo tempo relembrei os tempos em que na minha infância em Boa Esperança eu via frequentemente seus pais, Tufik e Jeanne, grande amiga de minha mãe. Os Buainaim possuíam um comércio ao lado do grupo escolar numa época em que comerciantes estavam sempre a postos para servir os clientes e dispostos a uma boa prosa em frente à loja.

Irmã Jeanne era contemporânea de minha irmã Vera de Lourdes, a Irmã Maria Bernadete da Ordem das Sacramentinas. Ambas seguiram para a congregação colocando-se a serviço do que preconizava o Padre Vigne, que direcionou seus seguidores para uma atuação missionária e educadora. Era também madrinha de batismo de minha irmã Rita, que foi sua aluna no Colégio São Carlos.

Ainda jovem, logo após fazer os primeiros estudos no Colégio Progresso, de Araraquara, Irmã Jeanne transferiu-se para o Colégio São Carlos, onde fez o curso normal e onde sentiu também despertar sua vocação para a vida religiosa. Cursou Pedagogia, Orientação Vocacional, Administração Escolar, Teologia e Psicologia.

Fez o curso de Pós-graduação na área de Educação, recebendo título de mestre em Filosofia da Educação. Como religiosa sacramentina, trabalhou em Salvador no Colégio do Santíssimo Sacramento e na Universidade Católica.

Em São Carlos, ministrou aulas de psicologia no Colégio São Carlos, no curso normal e colegial. Em 1968 participou do Capítulo Geral da Congregação, realizado na França, tornando-se posteriormente, diretora do Colégio São Carlos, cargo que exerceu até o ano de 2007 quando passou a dirigir a Obra Social Sacramentina.

Sob seu comando o Colégio expandiu-se na estrutura física e investiu na qualidade do ensino. Além do título de Cidadã São-carlense, recebido em 1989, também foi agraciada com o título de Mulher do Ano pela União Cívica Feminina no dia  8 de março de 1991.

De suas reflexões e estudos brotaram três livros importantes para se compreender a jornada da ordem religiosa que abraçou. Além de “Em Direção ao Infinito”, escreveu “Atividades Educacionais da Congregação Sacramentina no Brasil” e “Padre Vigne, Missionário e Educador”.

Na introdução de seu último livro Irmã Jeanne recordou a felicidade com que ouvia os comentários que sua mãe sobre seus escritos: “Agradava-me sempre ouvir os comentários que minha mãe fazia quando lia os meus artigos e assim me estimulava a continuar escrevendo. Ela lá no céu está me dizendo “continue filha”, como ela fez por ocasião da minha defesa de tese quando diante da banca examinadora, na sua simplicidade, fez questão de dizer o que achava da minha pesquisa”.

Destacava como palavras de incentivo do pai e da mãe foram importantes para sua realização pessoal e procurava enfatizar essa verdade às suas alunas. “O que se ouve na infância e na juventude tem reflexos na nossa vida adulta”.

Tufik e Jeanne, seus pais, já haviam falecido quando em 8 de agosto de 2008 a religiosa recebeu nova homenagem na Câmara Municipal, ao lado de seu irmão, o dentista Jorge, que também escolheu São Carlos para formar uma família e desenvolver prestigiosa carreira na profissão.

A leitura dos textos de Irmã Jeanne me fez descobrir muitas afinidades com seu modo de pensar, como naquele em que define a escola como um “lugar de encantamento”. Observava que são raras as pessoas que não se recordam de fatos agradáveis ocorridos na vida escolar.

“Cada um de nós traz, dentro do coração, a Escola que amou. Para alguns, em decorrência dos contratemos, ela ficou apenas no sonho. Falamos dela hoje e lembramos com saudades. Mínimos detalhes são evocados facilmente quando começamos a ler, escrever, contar histórias. A figura do mestre, talvez ele nem se lembre, marcou efetivamente a nossa personalidade pelas lições de amor que para nós se tornaram vida”.

Palavras de quem ficou na lembrança de suas alunas, a quem nas aulas se dirigia com o vocativo “caríssimas”.

Pois o encantamento do Colégio e os exemplos de uma educadora como ela foi trazem a marca de uma pessoa que sabia valorizar a família e aqueles que semearam no seu coração a boa palavra, o afeto, a lição de vida e a amizade.

Como um epitáfio, ou uma senha às novas gerações, ela escreveu: “Foi dito que a amizade, depois da sabedoria é a mais bela dádiva feita aos homens”.

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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