quinta, 18 de abril de 2024
Homenagem

“Era uma alegria a aula de matemática do Luizão”

15 Jul 2019 - 12h41Por (*) Vanessa Gurian
“Era uma alegria a aula de matemática do Luizão” - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

Em 14 de julho de 1956 morria aos 55 anos, Luiz Augusto de Oliveira, o “Luizão” e o "Prefeito Perpétuo de São Carlos", título que lhe foi outorgado pela Câmara Municipal. Hoje tem seu nome o estádio municipal, a rodovia SP-215, uma escola estadual e uma avenida de nossa cidade.

Fui aluna da EEPG Prof. Luiz Augusto de Oliveira e convivi com a figura desse homem durante toda minha infância. A lembrança da primeira vez que vi o retrato dele, forte e imperativo, sobre a mesa da diretora é uma das mais marcantes da minha vida escolar. Encantei-me.

Neste artigo, o advogado e editor José Antonio Antonini apresenta momentos de sua relação, como aluno e amigo, com o professor e depois Deputado Estadual, Luiz Augusto de Oliveira. Em uma época de conceitos e costumes diferentes, Antonini traz recordações da criança que foi em São Carlos.

Cita lugares como a cachoeira do Broa antes da represa e outros nomes importantes e marcantes da nossa história como do Bispo Dom Gastão Liberal Pinto, Monsenhor Ruy Serra e de Ary Pinto das Neves.

José Antonio Antonini nasceu no dia 02 de junho de 1932, em Corumbataí, SP.  Órfão e ainda criança veio para São Carlos, SP, onde cresceu vivendo em regime de internato no Ginásio Municipal, hoje Diocesano La Salle. Foi presidente da Juventude Estudantil Católica no final dos anos 1940 e bem cedo começou a escrever artigos que eram publicados no jornal “São Carlos”. Mais tarde, fez Direito no Largo São Francisco USP, em São Paulo, onde se casou e teve dois filhos.

Indicado pelo próprio autor argentino Carlos González Pecotche, Antonini foi o primeiro diretor da Editora Logosófica no Brasil, encarregado de traduzir os livros da ciência logosófica do espanhol para o português, de 1964 até falecer em 8 de agosto de 2006.

E é com uma citação de Pecotche que ele termina o artigo, propondo-nos uma reflexão: “Seria bom que cada um recordasse essa criança, a que foi, a que morreu. Que a recordasse muito, porque nessa recordação vai implícito o enlace da atual existência com a que foi, pois o esquecimento não somente destrói o vínculo que as une, senão também a própria sensibilidade”.

Vanessa Gurian – julho 2019

ARTIGO SÃO CARLOS DO PINHAL

(*) José Antonio Antonini

(*) O autor é advogado e editor 02/06/1932 – 08/08/2006

Quando adolescente, escrevi artigos que foram publicados no jornal “São Carlos”.

Na época, eu estudava em regime de internato, no então chamado Ginásio Municipal que é hoje denominado Diocesano na cidade de São Carlos.

Em 1947, quando os publiquei, havia recém completado meus 15 anos e cursava a 4ª série ginasial.

Como presidente da Juventude Estudantil Católica, tinha formação religiosa e escrevia dentro dessa linha.

Na época, o Bispo era D. Gastão Liberal Pinto, que hoje tem seu nome numa praça de importância em São Paulo, na confluência da São Gabriel, Brigadeiro Luis Antonio e Santo Amaro. O Diretor do Ginásio era o Monsenhor Ruy Serra e nosso instrutor o Padre Ary Pinto das Neves.

O professor de matemática chama-se Luiz Augusto de Oliveira, que nós chamávamos de “Luizão”. Ele era alto, forte e truculento. Quando nos indagava sobre alguma questão da matéria e errávamos a resposta, ele dizia: “seu pândego”. E, às vezes, ia até a carteira do aluno e apertava seu nariz, repetindo: “seu pândego”. E a classe inteira gritava: “Mata seu Luiz. Mata que Deus Perdoa”. Era uma alegria a aula de matemática do Luizão, que era querido por todos. Na formatura da turma de 1947, eu fui o orador e ele o paraninfo. Depois, ele foi eleito deputado estadual e cheguei a visitá-lo na Câmara, que então ficava no Parque D. Pedro II em São Paulo. Após sua morte, foi dado o nome de Luiz Augusto de Oliveira à estrada asfaltada que liga São Carlos com acesso à represa do Broa. Eu conheci esse local antes de ser represa. Era a cachoeira do Broa. Local lindo com a cascata caindo sobre enormes pedras. Meu pai me levava lá em alguns domingos quando eu tinha cinco anos (1937), e ele morreu em 1938. Somente anos depois voltei ao Broa, que já não tinha cachoeira, pois era represa. Quanto eu recordava daqueles tempos da cascata!

Aí vai um pouco da história de São Carlos, que era chamada São Carlos do Pinhal.

Num artigo publicado na edição de 16 de outubro de 1947, tratei sobre o que levou por título “Formação da Personalidade”. E ali discorri sobre “caráter” e “personalidade”, significando que já nessa tenra idade me inquietavam as questões não materiais.

Esse tipo de inquietudes prosseguiu no passar dos anos: Quem sou eu? Como vim parar aqui? Para que? O que vai acontecer quando eu morrer? Porque somos diferentes uns dos outros? etc.

Quando já jovem, depois de buscar em muitas fontes, culminei por encontrar o autor C. B. González Pecotche, criador da concepção que denominou Logosofia, ou seja, a ciência do invisível. E invisível porque, cientificamente, ensina a conhecer como nascem, vivem, se reproduzem, atuam e morrer nossos pensamentos; como estão conformados a mente, o sistema mental, os sentimentos, o sistema sensível, etc. Tudo o que conforma esse “si mesmo” que é invisível, mas a maior de todas as realidades da qual ninguém pode se apartar.

Só que ali, contrariamente ao que me fora transmitido na adolescência, eu teria que SABER, à ciência certa, e não CRER.

Deste então, tudo mudou para a minha vida e destino.

Abandonando a linha dos pensamentos que ocuparam minha mente durante a meninice, encontrei a chave científica para ir satisfazendo minhas inquietudes espirituais.

Eu estava também abandonando a figura daquele menino que eu havia sido, quando encontrei um ensinamento contido no livro “Diálogos”, daquele criador da ciência do invisível.

“Pode-se pensar que o adulto é a continuação da criança; porém, no que nunca se pensa é que a criança morre enquanto nasce o adulto. Agora lhe pergunto: Quem recorda a criança morta? Durante seus dias maduros, quem tributa a homenagem de seus sentimentos a essa criança que só vimos com os olhos da inocência? No entanto, quanto suaviza os duros transes da vida a evocação dessa terna idade, sobretudo quando devemos cruzar caminhos eriçados de perigos!

Quem pensa nessa criança e a contempla através de suas recordações, observando-a em suas brincadeiras, em seus pensamentos, em suas inclinações e em sua inocência, verá quanto tem que aprender com ela e quanto lhe deve; mais ainda: Quanto deveria conservar daquele pequeno ser para que hoje, grande em tamanho e em idade, lhe seja permitido experimentar, ao menos, algumas daqueles inocentes, porém gratas sensações que brindaram à sua vida as melhores horas.

Seria bom que cada um recordasse essa criança, a que foi, a que morreu. Que a recordasse muito, porque nessa recordação vai implícito o enlace da atual existência com a que foi, pois o esquecimento não somente destrói o vínculo que as une, senão também a própria sensibilidade.

São muitas as reflexões que acodem à mente quando a recordação converge para a criança; mas, é necessário evocá-la com frequência para que nos inspire coisas sobre as quais até aqui não tínhamos pensado.

Se esquecermos nossa própria criança, aquela que morreu, cometeremos com isso, talvez sem querer, um crime simbólico: Morrerá também o jovem, e, sucessivamente, o que somos ou fomos em cada idade. Assim, se irá esfumando no esquecimento e, sem senti-la, morrerá em nós, lentamente, toda nossa vida”.

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