sexta, 29 de março de 2024
Memória São-carlense

Dorival “Mazola” Penteado, vereador que elevou a política da cidade

31 Mai 2019 - 07h00Por (*) Cirilo Braga
Dorival “Mazola” Penteado, vereador que elevou a política da cidade - Crédito: CMSC/FPMSC/Álbum de família Crédito: CMSC/FPMSC/Álbum de família

Quem conversava com o vereador Dorival Antonio Penteado, conhecido como Mazola, impressionava-se com a maneira com que ele de pronto criava uma empatia com o interlocutor. Na vida pública, o homem simples se sobressaiu ao político e certamente por isso tenha recebido – e justificado – a confiança das pessoas em seis legislaturas de vereador no período de 1983 a 2011, quando faleceu aos 64 anos.

Eu o conheci em 1983, quando o professor de geografia da rede estadual e já então dono de uma autoescola, assumiu o primeiro mandato na Câmara Municipal, ressaltando o apelido “Mazola” que lhe foi dado pelo dentista Ubirajara Rosa durante jogos de futebol na escola infantil Cônego Manoel Tobias, na Vila Nery.

Aquela seria a primeira legislatura de uma série: 1989-1992, 1993-1996, 1997-2000, 2005- 2008 e 2009-2011. Figura destacada nos partidos que integrou, Mazola foi também candidato a deputado estadual e a vice-prefeito. Integrou a Mesa Diretora da Câmara em sete gestões, como secretário, vice-presidente e presidente na gestão de 1993-1994.

No período de 1º de janeiro de 1993 a 31 de dezembro de 1994, eram seus companheiros na condução da Mesa Diretora a Vice-presidente Regina Bortolotti, o 1º Secretário Lucas Perroni Junior e o 2º Secretário Emerson Pires Leal.

No mandato, a Câmara no período passou por mudanças para modernizar sua estrutura funcional: instituiu as assessorias parlamentares, realizou concurso público para admissão de funcionários do quadro permanente e instituiu o plano de cargos e salários e o plano de saúde dos servidores.  Na época, teve destaque a mobilização de parlamentares para respaldar conquistas de novos investimentos visando à geração de empregos no município. A administração local com apoio da Câmara buscava atrair empresas do setor automobilístico, realizando as tratativas que resultaram na instalação da Volkswagen Motores.

Mazola participou das Mesas Diretoras presididas pelos vereadores Vilberto Adolfo Cattani, Antonio Cabeça Filho, João Lourenço Carlos Gianlorenço, Paulo Duarte, Azuaite França e Lineu Navarro. O trânsito com desenvoltura entre os diversos partidos e a interlocução com representantes de diferentes correntes de pensamento revelavam o “estilo Mazola”: diálogo, entendimento e disposição para conciliar os divergentes. Assimilou com a militância política a capacidade de superar desafios, enxergar adiante, entender a arte de avançar e recuar no tempo certo, tática só dominada por quem descobre que liderança se conquista e não se impõe.

Filho de João Francisco Penteado e de Luiza Maria Toniolo Penteado, Dorival Antonio nasceu no dia 22 de outubro de 1946 em Ibaté. Casou-se com Soeli Aparecida Travaglini Penteado e teve três filhas: Gerusa, Geovana e Gislaine.

“Mazolinha” mudou-se para São Carlos em 1958. Concluiu a 4ª série da Escola Estadual Professor Luis Augusto de Oliveira e no contraturno praticava futebol na EMEI Conego Manoel Tobias. Trabalhou como entregador de pães aos 11 anos, quando levantava as 5 horas da manhã para entregar pães da padaria familia Rosenwinkel aos moradores das casas nas imediações da antiga Hero.

Aos 14 anos de idade ficou sabendo que a Indústria Refrigerações Camargo necessitava de um auxiliar de marcenaria, como já havia trabalhado com Zinho Carrara tomando conta de martelo e pregos, aguardou o chefe do setor as 6h30 e solicitou o emprego, conseguiu e foi registrado.

Aos 18 anos serviu o Tiro de Guerra, tendo que abandonar suas atividades profissionais temporariamente. Passou a jogar futebol, treinando no São Carlos Clube.

Em 1965 foi convidado pelo amigo Zezinho De Meo para trabalhar no Hotel Ferraretto, depois Hotel Vila Rica (atual sede da Prefeitura).

Como os horários eram alternados semanalmente trabalhando à noite, nos domingos e feriados começou a jogar no futebol amador e varzeano no Alvorada da Vila Nery e na Associação dos Funcionários da Escola de Engenharia de São Carlos. No trabalho no Hotel, passou a se interessar por leitura através dos jornais.

Aprendeu a dirigir na garagem do Hotel, onde trabalhou até os 24 anos de idade iniciou em 1975 suas atividades como instrutor na Autoescola Mancuso, do Diolindo Mancuso. No ano seguinte comprou a Autoescola Mimo em sociedade com Luiz Geraldo Nineli. Cinco anos mais tarde, montou a Autoescola Mazola.

Também exerceu a função de servente escolar concursado, formou-se Técnico em Contabilidade e professor de Geografia, História, Estudos Sociais e Pedagogia. Lecionou Geografia na rede estadual de ensino e por 12 anos foi diretor das escolas estaduais Aracy Leite Pereira Lopes e Orlando Perez, onde se aposentou em 2000 por tempo de serviço.

Ingressou na política após a restauração do pluripartidarismo, filiando-se ao PMDB, partido pelo qual alcançou a eleição em 1982, reelegeu-se em 1988 – como o mais votado – e em1992 e 1996. Foi presidente da Câmara Municipal no biênio 1993-1994 e durante os diversos mandatos ocupou cargos nas principais comissões técnicas do Legislativo. No ano 2000 concorreu a vice-prefeito e, em 2004, já no PSDB, voltou à vereança.  Candidato a deputado estadual nas eleições de 2006 teve 32 mil votos. Em 2008, no pleito municipal, foi eleito para cumprir o sexto mandato legislativo.

Em 1984, participou do movimento das “Diretas Já”, presente às mobilizações realizadas pela União dos Vereadores do Estado (UVESP) e União dos Vereadores do Brasil (UVB) – incluindo uma caravana em “marcha à Brasília”, barrada ao chegar à capital federal pelo então general Newton Cruz.  Em 1991, tomou parte da caravana que visitou Lipetski, na Russia, em intercâmbio liderado pelo sindicalista são-carlense Antonio Cabeça Filho.

No ano de 2010 foi escolhido pela Associação Comercial e Industrial e Sindicato do Comércio Varejista, “Comerciante Homenageado do Ano”, recebendo a outorga em solenidade na Câmara.

Mazola lutou pela construção das escolas estaduais Estadual Aracy Leite Pereira Lopes e Orlando Perez, além do CAIC na Cidade Aracy, participou do movimento pela implantação do Hospital Escola e deu especial atenção à saúde pública, por meio de questionamentos às autoridades em busca de melhor atendimento e da destinação de recursos em defesa de um tratamento digno da população. Em seus discursos e encaminhamentos, atuou pela valorização dos educadores e dos funcionários públicos. Foram também frequentes suas proposições em apoio ao Círculo de Amigos do Menino Patrulheiro, destinação de verba parlamentar para entidades assistenciais do município e incentivo ao voluntariado. “Ser voluntário”, dizia, “é unimos as nossas mãos sem interesse próprio nem esperarmos recompensa, mas construir agora um futuro melhor. Talvez seja isso que aprendemos com rostos tão carentes como nós e que só esperam um pouquinho para nos dar muito mais”.

Um texto alusivo à sua campanha para deputado ressaltava a “preocupação de servir e não ser servido” e a “demonstração na prática, do compromisso com a moralidade, a transparência e o combate à corrupção”.

Dorival Antonio “Mazola Penteado” estava licenciado do cargo de vereador quando faleceu no Hospital da Unicamp, em Campinas, em setembro de 2011. Findava uma jornada de duros combates no tratamento de saúde e uma trajetória de intensa dedicação aos interesses do povo de São Carlos no parlamento.

A Câmara e a Prefeitura na ocasião decretaram luto oficial por três dias em sua homenagem, reconhecendo-o como “um líder político que ao longo da vida pública soube honrar e dignificar o exercício da representação popular”. Na tribuna do Legislativo, dias depois, diversos vereadores se alternaram na tribuna para relatar histórias, lembranças e ressaltar os valores de Mazola. Sua família, em comunicado, agradeceu a “todos os são-carlenses que sempre lhe deram forças e apoio para continuar na vida política com o único intuito de ver o engrandecimento da cidade de São Carlos”.

“Ficam para todos nós”, concluía, “os ensinamentos, o amor, a conduta, o labor de um homem digno e honesto, um cidadão que amava sua cidade”.

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente

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