sexta, 19 de abril de 2024
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DIA A DIA NO DIVÃ: Transtorno de Personalidade Antissocial

15 Jan 2018 - 02h14Por (*) Bianca Gianlorenço
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Transtorno de personalidade antissocial é uma condição em que a pessoa tem pensamentos e atitudes disfuncionais. No caso, essas pessoas tendem a explorar as outras, para ter algum ganho, seja material ou mesmo pessoal.

Em geral, pessoas com transtorno de personalidade antissocial não fazem distinção entre certo e errado e não consideram os direitos, desejos, e sentimentos dos outros. Por este motivo, os especialistas se dividem se o transtorno seria o mesmo que a psicopatia, porém não é. Psicopatia é outro transtorno.

Este tipo de Personalidade, tal como o próprio nome indica, caracteriza-se por um padrão de comportamento antissocial, de desrespeito e desconsideração pelas regras sociais, e, pelos direitos dos outros.

Desta forma, as estratégias de manipulação tendem a ser frequentemente utilizadas, e têm como principal objetivo, a obtenção de benefício próprio e prazer. No que diz respeito ao estabelecimento de relações afetivas ou sociais, tem grandes dificuldades, e mesmo que o desejem, são incapazes de estabelecer vínculos profundos e estáveis.

Normalmente são pessoas muito centradas em si. Possuem uma necessidade de satisfação imediata, que pode leva-los a reagirem de forma impulsiva, e muitas vezes violenta às situações que não vão ao encontro do que desejam. E assim, sem atenderem às possíveis consequências negativas dos seus atos, podem pôr a sua vida bem como a dos outros, em risco.

A desconsideração, o desrespeito e a violação das regras sociais, e dos direitos dos outros, tende a ter suas primeiras manifestações ainda na infância ou início da adolescência, e persiste na idade adulta. Esse desrespeito pelas leis e regras, pode originar comportamentos criminosos, como roubos, destruição de bens ou outras atividades ilegais. Se ainda estão presentes o abuso de álcool e drogas, verifica-se um acentuar destes comportamentos.

Por uma combinação de razões de ordem biológica e ambiental/social, algumas pessoas desenvolvem determinados traços psicológicos, característicos deste tipo de personalidade.  Na população em geral, a porcentagem de pessoas com essa personalidade é de cerca de 3 %, sendo mais frequentemente identificada em homens.

Não se sabe ao certo quais são as causas do transtorno de personalidade antissocial. Há indícios de que o fator ambiental esteja relacionado, principalmente na infância. Por exemplo, sabe-se que crianças que foram abusadas na infância, ou, que cresceram em ambientes familiares instáveis ou caóticos, que perderam os pais devido a algum divórcio traumático, são mais propensas ao problema.

Pode haver também uma relação entre a falta de empatia desde cedo (capacidade de entender o sentimento do outro e se colocar em seu lugar) e o aparecimento desse transtorno mais para frente.

Pessoas com transtorno de personalidade antissocial tem um comportamento específico, tais como:

  • Desconsideração pelo que é certo ou errado;
  • Uso persistente de mentiras e fraudes para explorar os outros;
  • Uso de charme ou sagacidade para manipular os outros em prol de si mesmo;
  • Egocentrismo, senso de superioridade, vaidade e exibicionismo;
  • Dificuldades recorrentes com a lei;
  • Abuso ou negligência com crianças;
  • Hostilidade, irritabilidade significativa, agitação, impulsividade, agressão ou violência;
  • Ausência de empatia com as outras pessoas e de remorso por prejudicar os outros;
  • Comportamentos perigosos;
  • Relacionamentos pobres ou abusivos;
  • Comportamento irresponsável no trabalho;
  • Dificuldade em aprender com as consequências negativas de seu comportamento.

 

Em geral, os sintomas começam na adolescência e mostram seu auge durante os 20 e 30 anos. Além disso, a maioria das pessoas que tem esse transtorno, foi diagnosticada com transtorno de conduta na infância.

Em geral, a pessoa que tem um transtorno de personalidade, como o transtorno de personalidade antissocial, não tem noção de que tem um problema, já que essas características fazem parte de sua personalidade, e só buscam por ajudar quando entram em problemas legais, ou são forçadas a buscar tratamento por um juiz.

Mas caso você desconfie que tem algum transtorno de personalidade, como esse, o ideal é buscar pela ajuda de um psiquiatra, ou, psicólogo os melhores especialistas para diagnosticar o problema.

Não há um exame específico que possa detectar o transtorno de personalidade antissocial, assim como não há para outros transtornos de personalidade. Dessa forma, o diagnóstico é feito através da conversa e da avaliação por um desses profissionais.

Pessoas com transtorno de personalidade normalmente não sabem que tem um problema desse tipo, e chegam ao consultório com outras queixas, como ansiedade, depressão, dependência química, ou outras questões menos ligadas à personalidade em si. Em geral, o profissional precisa perceber sozinho que o paciente tem algum transtorno de personalidade, por trás desses problemas. Como esses são critérios subjetivos, o diagnóstico se torna bem difícil.

Em geral, o paciente com transtornos de personalidade antissocial costuma deixar as pessoas a sua volta triste, pois se considera superior, e não tem empatia por seus sentimentos.

Além disso, o histórico de sintomas na adolescência é importante. Por mais que não se possa fazer o diagnóstico desse transtorno antes dos 18 anos, ter sido diagnosticado com transtorno de conduta na infância ou adolescência, ou se houverem relatos de sintomas de transtorno de personalidade antissocial nessa idade são critérios de diagnóstico.

Tratamento

O tratamento engloba psicoterapia. Medicamentos podem ser usados no tratamento da depressão e ansiedade, mas não existem medicamentos indicados apenas para o tratamento desse tipo de transtorno. Em geral, mudanças comportamentais são muito importantes, por isso, terapia individual, grupos de apoio e terapia familiar, costumam ser importantes nesses casos.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

(*) A autora é graduada em psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica. Sugestões: biagian@hotmail.com. Facebook: Bianca Gianlorenço. 

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