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DIA A DIA NO DIVÃ: Relacionamento sem compromisso ou medo de nos relacionar?

25 Dez 2017 - 02h35Por (*) Bianca Gianlorenço
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Relacionamento sem compromisso é estar com alguém sem estar formalmente com esse alguém, é como se não houvesse tempo no cotidiano acelerado, que muitos se encontram mergulhados e afogados.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, elabora e aprimora esse pensamento.

Ele nos traz a vida líquida e como esta acontece dentro de uma modernidade líquida, como peças que se completam silenciosamente, mas causando barulhos muito altos depois. Relacionamento Sem Compromisso

A liquidez moderna são condições sobre as quais as pessoas agem em um período mais curto do que aquele necessário para tornar algo sólido ou mesmo ter mais conhecimento sobre algum tema, ter mais habilidade para realizar alguma tarefa ou dedicar-se a uma relação. Para ele, as relações escorrem entre os dedos, não há uma preocupação em solidificá-las.

Há uma pressa em pensar táticas e estratégias para sair, trocar ou não se aproximar, como se fosse pouco recomendável enfrentar novas possibilidades.

É a falsa ideia de estar em movimento, sendo que na realidade todas as ações acabam levando para repetições.

Para alguns é visto como algo apenas habitual, pois ''não é nada sério''.

Velocidade e não permanência das relações regem o ritmo.

Os laços das escolhas ficam afrouxados, de uma forma um tanto quanto amedrontada de serem feitas, um descompasso entre o que pensamos e o que sentimos começa a acontecer, pois é impossível separar ou não utilizar esses dois conjuntos separadamente.

Racionalmente, não há escolha por um compromisso de estar com a outra pessoa, como também não existe um lugar claro, reconhecido e organizado. Relacionamento Sem Algo como desejar ter uma companhia em dias definidos, mas também não permanecer em uma única relação se privando de outras.

Como a ideia que norteia essa forma de relação é a ausência de compromisso, com o tempo o entrave entre emoção X razão aparecem, as disputas começam, os desencontros também, mil questionamentos surgem, e, para alguns, a cobrança pela companhia e atenção.

Mas o que faz a pessoa continuar ali?

O que lhe faz escolher permanecer em algo que lhe traz tanta angustia, dúvidas e incertezas?

Não é incomum que seja o medo da solidão ou o medo de sofrer se a relação não durar para sempre (apesar de racionalmente negar, para alguns o desejo de durar para sempre existe, sendo sufocado por vezes).

A avalanche emocional começa então: insegurança, baixa autoestima, necessidade de controle, ansiedade, tristeza e a sensação de recusa para alguns.

O medo é proibido de ser nomeado, mas impossível de ser sentido.

A possibilidade de senti-lo se a relação chegar ao fim, traz sofrimento no presente, fazendo com que mais pessoas estejam em relações vazias, desfrutando de solidão estando acompanhado.

O medo de ter medo pode nos levar a experimentar caminhos solitários em meio a pessoas recheadas de auto boicotes, autocrítica aflorada, e autocensura mais afiada que navalha.

A cada dia, mais as pessoas parecem estar convidando a insatisfação para se relacionar.

Soa como algo egoísta ou individualista. Relacionamento Sem Compromisso

Importante sabermos que ter individualidade é diferente de todos os termos que mencionei anteriormente.

Ela consiste em ser autor e ter autonomia sobre si e suas ações como pessoa, reconhecendo seus sucessos e fracassos, festejando os primeiros e tendo habilidade em reparar os segundos.

Parece que as pessoas estão mostrando pouco interesse em se relacionar, onde manter um compromisso é cada vez mais difícil, o "estar junto de vez em quando", é mais fácil, não há cobranças. Será que estamos passando por uma conversão de valores?

Talvez ainda não tenhamos a resposta certa para esta questão.

Contudo, uma coisa é verídica: ainda temos que nos relacionar muito, seja conosco e com os outros também.

Por todas as pessoas que acompanho ou que acompanhei e que buscaram se atualizar na qualidade e não na quantidade de seus relacionamentos e relações, demonstraram alcançar, potencializar e constituir a si de maneira mais autentica e saudável.

Assim, se lançar, mas sendo cauteloso é necessário e reconhecer seus próprios limites se torna fundamental e indispensável.

(*) A autora é graduada em psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica. Sugestões: biagian@hotmail.com. Facebook: Bianca Gianlorenço. 

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