sexta, 29 de março de 2024
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DIA A DIA NO DIVÃ: Eu preciso passar no vestibular? E o que mais?

06 Nov 2017 - 03h30Por (*) Bianca Gianlorenço
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

No próximo domingo milhares de jovens realizarão a segunda etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), única porta de entrada para as Universidades Federais do país, mas será que é isso mesmo que esses jovens desejam? Se submeterem a jornadas estressantes de estudos?,a responsabilidade de escolher uma profissão aos 15, 16 ou 17 anos?

A juventude do Brasil tem diversos problemas, diversas demandas. Aqui, quero questionar como vai se construindo o plano de vida, plano de carreira de alguns desses meninos.

O cenário que vejo é esse: os pais pagam, até se endividam, para colocar seus filhos em boas escolas, para que passem direto do Ensino Médio para a Universidade. Não que esse seja o desejo desses jovens, mas tudo bem. Talvez alguns queiram morar fora por um tempo, fazer intercâmbio - talvez para aprender inglês, morar sozinho, trabalhar, ser independente. Não que não possam o fazer aqui no Brasil, mas tudo bem também.

Do outro lado, temos uma quantidade grande de escolas que querem números de alunos saídos diretos para a universidade. A que tiver o maior número, ganha o maior número de matrículas. O que vão fazer para conseguir isso, não importa. Sei que algumas características a seguir vão ser familiares a vocês.

Vamos colocar adolescentes que deveriam dormir dez horas/dia para iniciar os estudos às sete da manhã, e os ocupamos até o final da tarde. Aulas aos sábados, simulados, 23 matérias, 22 provas - ainda é obrigatório ter educação física. Horas vagas usamos para estudar "Atualidades", porque vai cair no ENEM.

Temos como resultado adolescentes estressados, que dormem mal, se alimentam mal, muitas vezes acima do peso, que não socializam e que, estranhamente, vão mal na escola (lá vai recuperação) - temos maus alunos.

Adolescentes cansados, frustrados, que serão adultos não muito diferentes disso. Será que essa é, de fato, a melhor educação para os nossos filhos? No consultório, recebemos jovens ansiosos, impotentes e escondidos atrás de sintomas. O que fazemos? Re-medicamos? Ansiedade e depressão são os hits do momento, junto do Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Então, empurramos esses (nem formados) jovens adultos para a universidade, mas nos decepcionamos quando vemos as notas ruins, as "cabuladas" para passar o dia no bar, as tais dependências: acabamos formando maus profissionais.

Nem paramos para pensar como estão essas cabeças. O que pensam, o que querem fazer de fato, se se acham capazes de fazer o que desejam. Não há tempo para formar cidadãos e ouvir suas individualidades, porque temos que aproveitar o tempo livre para a leitura obrigatória, seria melhor se pudessem ler pois assim o querem, e não porque vale nota.

Queremos nos desenvolver intelectualmente, muito mais que moralmente, mas penso que isso custe caro demais.

Será que faltamos naquela aula que ensina que pensar a longo prazo funciona mais? Que um cidadão coerente é mais útil à sociedade que uma aprovação na USP? Acho que nem temos essa aula - o que aprendemos é como EU posso ganhar mais dinheiro se EU tiver uma formação melhor.

Caímos nele, de novo, o dinheiro. Mas não sejamos injustos: as empresas não contratam cidadãos, contratam competências!

Claro que a formação profissional é importante, e seria um sonho vermos a maior parte da população cursando o ensino superior, mas para escolher uma profissão, é fundamental que o indivíduo se conheça bem, saiba quais são suas habilidades e preferências, e isso, não é algo que ocorre da noite para o dia, principalmente entre os adolescentes!

(*) A autora é graduada em psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica. Sugestões: biagian@hotmail.com 

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