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DIA A DIA NO DIVÃ: Amor ou dependência emocional?

27 Nov 2017 - 01h20Por (*) Bianca Gianlorenço
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

A dependência emocional é aquela necessidade de estar com outra pessoa.

O dependente emocional necessita da aprovação, aceitação e reconhecimento do outro para lidar com as situações da vida, pois não acredita no seu próprio valor, no seu poder de tomar decisões, fazer escolhas, e até mesmo, na sua capacidade de conquistar alguém e  muitas vezes aceita relações destrutivas, como um prêmio de recompensa.

É uma pessoa submissa e insegura, pois sua percepção de si mesma é muito frágil. Sente-se incapaz de agir adequadamente sem o auxílio de outras pessoas, e por isso recorre frequentemente aos outros para ser orientada, ajudada e direcionada, sendo que tudo isto, surge da necessidade de satisfazer suas necessidades internas, e não pelo desejo de estar na companhia da outra pessoa.

Demonstra em suas ações e sentimentos uma fragilidade e carência que pode afetar negativamente seus relacionamentos, seja nas relações amorosas, como entre amigos, colegas de trabalho, pais e filhos, entre outras.

O fato que torna mais grave essa situação é que, o dependente emocional, muitas vezes, aceita qualquer tipo de relação por medo de perder a outra pessoa. Com o medo de ser abandonada, muitas vezes tolera abusos sexuais, verbais, físicos, entre outros.

A dependência emocional, faz com que a pessoa se anule diante do outro, ela vive o que esse outro acredita que é o melhor para ela, e muitas vezes não percebe isso, e quando percebe, não encontra soluções para mudar isso.

A origem da dependência emocional, está na infância. A maneira como as crianças são criadas, são fundamentais para o desenvolvimento de adultos seguros, confiantes e independentes emocionalmente, portanto, a forma como somos educados e preparados por nossos pais, avós ou cuidadores, possuem um papel prioritário em nossas vidas.

Existem pais que culpam, desprezam, humilham e que não respeitam os sentimentos de seus filhos. As crianças que são tratadas assim, sentem que não são dignas de serem queridas, amadas e passam a omitir seus sentimentos porque não sentem estes como sendo importantes.

O fato não é que os pais não amem seus filhos, mas muitas vezes com a intenção de acertar, supervalorizam o que seus filhos fazem de errado (apontando frequentemente uma falha) e desprezam totalmente as vitórias e as conquistas dele.

Outros tipos de pais protegem demasiadamente seus filhos. É bastante comum que muitos pais protejam seu filho em excesso, satisfazendo todas as suas necessidades, como uma forma de compensar sua ausência frequente no papel de pai. Outros protegem demais por medo de "perder" o filho e ficarem sozinhos, desta forma, induzem os filhos a acreditarem que só debaixo de suas "asas" estarão seguros.

Alguns pais tornam-se permissivos em excesso, pagando todas as contas do filho, cedem coisas materiais sem limites, e não incentivam os filhos a trabalhem fora para ganhar seu próprio sustento, ou seja, propiciam ao filho um mundo de fantasias que na realidade não existe.

Os filhos que não precisam fazer muito esforço para conquistar as coisas por si próprio, apresentarão dificuldades a ser mais independentes no futuro, quando forem adultos, já que os pais supriram todas as suas necessidades.

Como os pais podem ajudar?

Os pais precisam estimular seus filhos a adquirir autonomia e autoconfiança.

Demonstrando amor e confiança nas ações dos filhos, desenvolvem adultos com uma boa autoestima, seguros de si e pouco dependentes da aprovação dos outros.

Tanto a falta de demonstração de amor e carinho, como a superproteção exagerada, podem desenvolver adultos dependentes. A criança que não sente que é amada, pode se tornar insegura em relação ao amor dos outros, pois cresce com a crença que não será amada nas relações futuras.

A criança precisa se sentir valorizada e amada para acreditar em si própria e na sua capacidade de se nutrir principalmente emocionalmente. Assim, se tornam pessoas completas e não pessoas que ficam à espera dos outros para se completar. Essas pessoas acreditam que são incapazes sozinhos (porque em algum momento alguém o fez acreditar que era incapaz).

Necessitamos de uma forma de proteção mesmo depois de nos tornarmos adultos. Esta proteção significa um apoio emocional, mas muitas pessoas "dependem "deste apoio, como algo ou alguém que poderá salvá-lo de situações extremas e impedir suas frustrações. Essa é a dependência doente, que faz com que muitas pessoas se mantenham em relações destrutivas e de muito sofrimento.

Amor ou dependência emocional?

Muitas vezes as pessoas justificam a entrega total ao outro dizendo: "olha como eu amo essa pessoa!!!" e não percebem o quanto as suas fragilidades estão embutidas neste pensamento.

A pessoa anula-se de tal forma que perde sua identidade e exige do outro este empenho na mesma proporção. Quando não recebe esse retorno afetivo, revoltam-se pela falta de gratidão e reconhecimento, chegando ao ponto de sentir uma raiva incontrolável sobre os outros e sobre si próprios, porque fica com o sentimento: "Eu dei tudo de mim e não percebi mudanças".

A pessoa estrutura a sua vida em torno da vida do "outro" de tal forma que é difícil para ela imaginar sua própria existência sozinha. O dependente emocional demonstra uma forma de dependência em relação às pessoas, semelhante à dependência de drogas ou álcool, sexo ou compulsão alimentar e necessita de tratamento, pois pode destruir a própria vida.

Quando o relacionamento amoroso do dependente emocional chega ao fim, este tem a tendência em procurar outra pessoa, para dar início a um novo ciclo. Ele não consegue passar um tempo sozinho, não se sente bem com ele próprio.

O primeiro passo para reduzir esta dependência é iniciar um processo de psicoterapia para adquirir autoconhecimento e consciência do seu próprio valor.

O psicólogo irá auxiliá-lo a identificar em que áreas da vida essa dependência surge, e de que forma está afetando sua vida e suas relações, além de buscar as causas e tratá-las.

Neste processo fortaleceremos a sua autoestima, tornando-o mais seguro e dependente de si próprio. Quando as pessoas começam a gostar de si mesmas, aprendem a cuidar de suas próprias feridas.

Este ciclo de dependência pode ser interrompido e desfeito quando a pessoa dependente, com auxílio do psicólogo, compreende que a solução do seu problema mora dentro de si próprio, pois precisa tomar responsabilidade por si, tomar conta da sua vida!

(*) A autora é graduada em psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica. Sugestões: biagian@hotmail.com. Facebook: Bianca Gianlorenço 

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