quinta, 28 de março de 2024
S.Carlos no mundo da ciência e da tecnologia

Curcumina: Composto chave no tratamento das infecções por ação fotodinâmica

10 Out 2021 - 07h58Por Kleber Chicrala
Descontaminação da boca de pacientes para evitar progressão de infecção, ou no preparo do paciente antes de procedimentos odontológicos e médicos, a fim de evitar contaminação dos próprios profissionais. - Crédito: divulgaçãoDescontaminação da boca de pacientes para evitar progressão de infecção, ou no preparo do paciente antes de procedimentos odontológicos e médicos, a fim de evitar contaminação dos próprios profissionais. - Crédito: divulgação
Entrevistado: Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato
Diretor do Instituto de Física de São Carlos – USP
Coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) – IFSC –USP
Membro do grupo de Biofotônica do IFSC- USP

 

 
Muitas já ouviram falar do açafrão. Aquele ingrediente de muitas culinárias e que deixa a comida amarela e ajuda a realizar pratos deliciosos. Pois é, as mesmas substâncias que deixam a comida amarela é também um poderoso composto químico que permite controlar infecções de forma moderna e eficiente, quando combinado com luz. Este composto, e sua ação fotodinâmica, tem sido foco de estudos do grupo de Biofotônica do IFSC – USP São Carlos. É este tema que descreveremos nesta entrevista/reportagem.
 
A chamada “curcumina” é o nome de moléculas curcuminoides presentes, extraídas do açafrão, e tem longa tradição de ajudar na prevenção de diversas doenças. No entanto, estas moléculas que deixam tudo amarelo, tem também uma propriedade extremamente importante, como explica Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato, membro do grupo de Biofotônica do IFSC- USP, sendo: ” A curcumina, é o que chamamos um fotossensibilizador natural, isto é quando exposta a luz azul, ela gera radicais livres e promove reações que podem eliminar microrganismos de uma forma bastante eficiente. Este processo é chamado de processo fotodinâmico, fenômeno que estudamos regularmente no Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica do IFSC-USP “.
Segundo Bagnato, os estudos para uso da curcumina tem evoluído tanto, que eles estão inclusive produzindo sinteticamente este composto.
 
Um dos projetos antigos do grupo, é o uso de curcumina para descontaminação de feridas, ajudando no processo de cicatrização. As chamadas ulceras indolentes, são feridas que não se cicatrizam. Promovendo a desinfecção com curcumina e ação fotodinâmica, juntamente com fotobioestimulação, os resultados tem sido fantásticos. Outro projeto de grande relevância é o tratamento da onicomicose (fungos de unha), já aprovado pela ANVISA e com sucesso nas aplicações. Há, no entanto aplicações modernas que são fantásticas. Um dos projetos que chama muito a atenção é o do tratamento das infecções de garganta com a técnica fotodinâmica. Nesta técnica, uma pastilha contendo curcumina é dada ao paciente que fica chupando a pastilha por cerca de 5 min. Neste tempo, a pastilha vai se dissolvendo e as moléculas de curcumina ficam aderidas as placas bacterianas da infeção na garganta. Após alguns minutos, faz-se a iluminação com uma fibra especial, promovendo a morte dos microrganismos que estão localizados na infecção. Esta técnica tem resultado em excelentes resultados com mais de 90% eliminação das infeções tratadas. A grande vantagem disto é que pode impedir a necessidade abusiva do uso de antibióticos, contribuindo para a diminuição da resistência bacteriana. Este projeto é comandado pela Dra. Kate Blanco com diversos colaboradores.
 
Além do controle das chamadas faringotoncilites ( nome mais elaborado para a infecção de garganta), um trabalho recente conduzido pelos doutores Lucas Danilo Dias e Kate Blanco com a aluna Amanda Zangirolami tem permitido incorporar moléculas de curcumina na superfície dos chamados tubos de intubação para pacientes que precisam de uso do respirador mecânico ( bastante em evidência nesta pandemia da COVID). Após esta incorporação, uma fina fibra óptica permite a iluminação interna do tubo, fato que promove apenas na superfície a reação fotodinâmica, evitando a formação de placas bacterianas, principal causa da infeção e óbitos em pacientes intubados. Este trabalho vem ganhando destaque no mundo, e já começa os preparativos para que possa ser incorporado em breve ás práticas clínicas. Isto deverá diminuir, e muito, as mortes por pneumonia durante a intubação.
 
Além disto tudo, pesquisa do grupo realizada em parceira com empresas da região, tem desenvolvido uma forma de colocar pellets contendo curcumina em locais de acúmulo de água, onde ocorre a procriação do mosquito Aedes Aegypti. Neste caso as larvas do mosquito absorvem a curcumina, e a luz ambiente é suficiente para causar sua morte. É uma foto-eliminação das larvas, sem causar danos ou perigos ao meio ambiente ou aos outros animais.
 
Neste caso, os estudos já estão realizando testes em campo, e deverão brevemente tornar-se técnica usual e prática rotineira.
 
Para quem pensa que o uso da curcumina para por ai, está enganado. Muitos outros trabalhos técnicos/científicos vem sendo realizados pelo CEPOF/INOF(INCT) - IFSC – USP, e pelo seus diversos parceiros, localizados na UFSCar e na UNESP de Araraquara. Onde a descontaminação de alimentos é um dos projetos em andamento. A mais recente aplicação, é a descontaminação da boca e do nariz para evitar contaminação pela COVID. Mas isto é tão fantástico que falaremos exclusivamente em uma outra matéria.
 
Figura mostrando a cúrcuma longa, da qual se extrai a fantástica molécula da curcumina
Tubo endotraqueal funcionalizado e iluminado durante processo de intubação de pacientes. Evitando infecções dos pacientes intubados.
Fontes: Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato - Diretor do Instituto de Física de São Carlos – USP - Coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) – IFSC –USP e Membro do grupo de Biofotônica do IFSC- USP e Ms. Kleber Jorge Savio Chicrala – Coordenador de Jornalismo Científico do CEPOF – INCT – IFSC – USP
kleberchi

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