sexta, 29 de março de 2024
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Coluna no Divã: Adolescência no divã

28 Set 2016 - 13h03Por (*) Karina Younan
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

O café da manha já não tem mais ritalina, mas a vida é um mundo paralelo. Redes sociais consumidas sem moderação, inconstância de humor, necessidade patológica de se sentirem feios ou inadequados, excluídos pelos demais. Difícil lidar com tanta negação a si mesmo!

Já não somos mais seus heróis e eles se abandonam num sono avassalador. Pra não ajudar, o desejo anda bem longe das obrigações escolares. Pra quem tem mais de um filho nesta fase, um conselho amigo: pratique yoga, mantra, reze. Por que passa, graças ao bom Deus, mas enquanto não passa, paciência.

Eles recebem "nãos" pra quase tudo. Não pode beber, nem dirigir, nem passar as férias com os amigos (sabe quanto custa à mensalidade do seu colégio?), nem pular de pára quedas, nem namorar alguém muito mais velho. É não que não acaba mais, fica difícil ser bacana ou popular com tanta limitação. Demora, mas chega o dia em que percebem que um sim não os levaria aonde queriam. Que os limites os protegeram de um sem número de tragédias que o impulso pelo prazer não os deixavam calcular adequadamente.

A segunda coisa que um adolescente escuta, depois do não, é que ele não carrega peso nenhum, por que não paga contas. Que não faz nada, tudo é recebido sem esforço, ou que ele não aproveita bem as oportunidades que tem. É pesado, dá pra entender a rebeldia, o desejo de se afastar. .

Conviver com estranhos nesse período é bem mais fácil, a necessidade de se separar do pensamento familiar e testar o mundo é importante e necessário. A família da gente ganha em valor depois que vivenciamos outras, por que família sem erros não existem, e é nessa experiência que a gente descobre que o lugar mais confortável do mundo é o ninho em que fomos criados, com os valores que nos protegeram.

A terapia nessa fase lida com a relação intensa com os pais, muitas vezes envolvidos em suas próprias crises pessoais. Começa, então, um processo de mudança na forma de enxergar a vida, livre de mágoas e de esperas fantasiosas. Abordar a autoestima e aceitação, ciúmes, insegurança, sonhos, paixões tóxicas, escolhas ruins, letargias e excessos sociais. Longe da overdose familiar, com delicadeza e bom humor.

Aos poucos entendem que a vida é curta pra se ter opinião formada sobre tudo, ou que os amores, invariavelmente não correspondidos e profundos, estão longe do pra sempre ou nunca mais.

A maturidade começa no entendimento que a liberdade está na responsabilidade, no cumprimento das obrigações, na consciência e no auto cuidado. Quando um adolescente aparece no consultório, eu digo que ele saberá o dia exato em que a vida adulta começar, por que nesse dia ele fará aquilo que deseja, mesmo que seus pais concordem.

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