Há um consenso de que matemáticos têm uma dose a mais de crueldade com os reles mortais. Alguns, para exercer em grau máximo o seu sadismo, tornam-se professores universitários. Quem fez cálculo I, II e III sabe de que falo.
O professor P era um deles. Além de sua fala baixa e problemas de dicção, parecia sofrer de uma espécie de gagueira mental. Como ele ainda trocava o L por R, nós o apelidamos de Ceborinha.
(Para ser justo, o professor P era uma ótima pessoa. Depois que terminei a faculdade, participei de um grupo de estudos com ele. Era muito inteligente e divertido. Mas, assim como Newton, Einstein, Da Vinci, Agatha Christie e outros, P era disléxico. Em outras palavras, vivia em outro planeta. Via coisas que nós, mesmo com muito esforço, nunca veremos).
Mas, aos fatos: veio a primeira prova do professor Ceborinha e todos fomos mal, muito mal. Saímos desolados e combinamos que na próxima aula, dia da entrega das notas, iríamos todos protestar contra o professor. Se necessário faríamos greve e até pedir para ele ser demitido.
E, como combinado, lá estávamos. Ele começou a distribuir as provas e notas: furano, dois e meio; cicrano, quatro; beltrano, zero. E entre dois, zeros, meios, fomos todos.
A maior nota foi do Valtinho, o maior CDF e puxa-saco da escola, tirou quatro e meio.
Ele já tinha distribuído todas as provas quando falou com uma certa naturalidade:
- Tem uma prova aqui que o aruno não pôs nome!
Nós nos entreolhamos, pois todos estavam presentes e com suas respectivas provas (e péssima nota) em mãos. E ele continuou:
- E a prova foi feita a rápis.
- E o aruno foi bem na prova!
Isso aguçou ainda mais nossa curiosidade e espanto.
- Ere teve nota oito!
Diante a perplexidade da classe, o Valtinho se aproximou e pediu licença para ver a prova e concluiu:
- Professor, este é o seu gabarito!
(*) O autor é Escritor/Filósofo