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Artigo Tati Zanon: Solidão assassina

28 Jul 2016 - 10h19Por (*) Tati Zanon
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Há alguns dias, comecei a ler um livro chamado "Como fazer amigos e influenciar pessoas", de autoria de Dale Carnegie, escritor estadunidense falecido em 1955. A indicação da obra foi de Leandro Karnal, historiador e docente da Unicamp, cujas reflexões chamam minha atenção, e ganham minha simpatia e concordância com cada vez mais frequência.

No segundo capítulo do livro, Carnegie, sempre apoiado em fatos históricos para traçar seus comentários e gerar premissas, afirma que, entre as coisas que o homem mais necessita, como alimento, saúde e preservação da vida, dinheiro, repouso e satisfação sexual, está o desejo de ser importante. E afirma: "Este desejo faz você querer usar roupas da última moda, dirigir os últimos carros e falar sobre seus inteligentes filhos. É este desejo que leva muitos rapazes a se tornarem bandidos e assassinos. A média dos jovens criminosos de hoje tem o ego inflado, e seu primeiro pedido depois da prisão é ver os jornais que fazem deles heróis".

Essa interessante colocação de Carnegie despertou minha atenção. De fato, todos temos um forte desejo de ser reconhecidos, importantes. O que diferencia os "bandidos" dos "mocinhos" é a maneira que escolherão para que isso ocorra. Seria essa a razão para explicar o assustador fenômeno dos "lobos solitários"?

Em uma matéria publicada no Jornal do Brasil, reporta-se que um relatório divulgado este mês pela Interpol aponta que os lobos solitários sofrem de problemas emocionais, que podem se agravar por aspectos ideológicos ou religiosos. Mas, o que me chamou a atenção no texto foi a seguinte ponderação, que reproduzo a seguir:

... se o suicídio seria uma marca destas ações, e estaria supostamente ligado à total entrega do seu autor à ideologia e à causa do Estado Islâmico, por que os grandes líderes terroristas não estão entre os que se matam? Quais foram os líderes destes grupos extremistas que se suicidaram? Quais foram os chefes que fizeram o que eles recomendam que seus comandados façam? Osama Bin Laden, o terrorista de maior notoriedade em todo o mundo, foi incansavelmente caçado durante dez anos, e lutou por sua sobrevivência nos mais improváveis esconderijos até ser morto em 2011, por forças dos Estados Unidos, num bunker no Paquistão.

Não sei vocês, queridos leitores, mas nunca tinha parado para pensar nesse fato. Seriam esses "lobos solitários", realmente, solitários? Como são suas vidas? O desejo de ser importante seria o combustível que move suas ações?

A esse respeito, outro ponto de vista (que reforça o de Carnegie) foi colocado pelo médico e vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP Paulo Saldiva, na edição do último dia 21 de julho do Jornal da Cultura. Na opinião de Saldiva, a pior coisa que um jovem pode sentir é indiferença, e isso facilita a adesão a grupos como ISIS. "Muitos jovens, hoje, não são lembrados para nenhuma coisa que os destaque, e pertencer a algo onde eles tenham importância pode levá-los a cometer esses assustadores atos".

A lógica que se encontra nas reflexões de Saldiva e Carnegie me assusta muito, simplesmente porque faz sentido. Em que momento da vida, ou em qual situação, escolhemos agir como "bandidos" ou "mocinhos"? A complexidade que envolve essa escolha merece ser estudada. Mais do que isso, solucionada com urgência, dedicação e, sobretudo, amor.

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