quinta, 28 de março de 2024
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Artigo Tati Zanon: Saudades daquelas cartas

25 Fev 2016 - 05h54Por (*) Tati Zanon
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Há muitos e muitos anos, em uma terra mais tolerante e civilizada, as pessoas costumavam trocar cartas. Já ouviu falar, querido leitor? Que tempo bom era esse! Sempre com o jornalismo "na veia", ou simplesmente a paixão pela escrita, eu, desde criança, costumava trocar muitas cartas com amigas de outras cidades ou paquerinhas da adolescência.

O ritual era muito interessante e meigo. Lembro-me que cada carta enviada, escrita nos belos papéis de carta, contava com 12 cores diferentes de tintas de caneta, adesivinhos da famosa coleção Stickers colados em diversas partes do manuscrito e, para finalizar, o esguicho (muitas vezes exagerado) de perfume sobre o papel.

Que alegria não somente enviar, mas receber uma carta. Era incrível como uma única folha podia agregar tamanha beleza, capricho, carinho e novidades. Até mesmo a espera pela carta, que nos consumia de ansiedade, era uma espera boa.

Então, de repente, veio a Internet. A rede não era capaz de trazer uma carta (que na Internet se chamaria "e-mail") com a beleza, o cheiro e o charme das antigas cartas de papel, mas a instantaneidade que se oferecia no recebimento de novidades e declarações de amor fazia nossos olhos brilharem. Porém, em pouco tempo, os e-mails de tal natureza começaram a desaparecer.  

Algum tempo depois, uma nova possibilidade dessa troca de mensagens veio com a inauguração do falecido Orkut. Porém, novamente em pouco tempo, essa troca desapareceu para dar lugar às mensagens prontas, em formato de ilustrações, muitas vezes tão sem sentimento e tão sem beleza quanto o conteúdo que delas faziam parte. E você sabe, querido leitor, que o mesmo ocorreu com o Facebook e, mais recentemente, com o próprio Whatsapp, a última esperança que eu tinha para uma troca de mensagens mais sadia e menos impessoal.

Tenho, até hoje, guardadas numa velha caixa de sapato, as inúmeras cartas que recebi durante minha infância e adolescência. Uma sensação de nostalgia e saudosismo me consome quando abro essa caixinha e me recordo desse tempo em que tínhamos mais disposição em nos comunicar com as pessoas; desse tempo em que não havia tantas mensagens prontas e que nos esforçávamos mais para escrever sobre amor, amizade, saudades e lembranças.

Hoje os tempos são outros, como bem sabemos. Mas me sinto feliz por ter guardado comigo aquelas antigas cartas de papel. Revê-las e relê-las, além do saudosismo e da nostalgia, também me traz felicidade. Mais do que isso, traz-me a esperança, inclusive de que aqueles que hoje gastam tanta energia para escrever mensagens ofensivas direcionem sua inspiração para escrever mais mensagens de amor, paz e tolerância, mesmo que essas mensagens, no final das contas, nunca conheçam uma folha de papel.  

E você, querido leitor, costumava trocar cartas com seus amigos, familiares e paqueras? Aguardarei seus comentários em minha página no Facebook

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