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Artigo Tati Zanon: Ensino para o vestibular, não para a vida

05 Mai 2016 - 06h03Por (*) Tati Zanon
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

"Surfando" nas ondas do repugnante "politicamente correto", entra a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), iniciativa do Ministério da Educação (MEC) que objetiva a "renovação e aprimoramento da educação básica como um todo" e "assume um forte sentido estratégico nas ações de todos os educadores, bem como gestores da educação, do Brasil", de acordo com descrição fornecida no próprio site da BNCC.

Em editorial publicado na Folha de São Paulo na última terça-feira (3), de autoria do professor titular do Instituto de Física "Gleb Wataghin" (Unicamp), Marcelo Guzzo, o docente critica veemente algumas das propostas elencadas na BNCC, entre elas a de apresentar o Big Bang (teoria que explica a origem do universo) juntamente à "Cosmologia indígena brasileira" e à cosmologia dos povos pré-colombianos. E faz uma ressalva para justificar sua crítica: "O conhecimento científico não se divide em territórios geográficos ou culturais. É patrimônio comum da humanidade".

Não tive a oportunidade de ler na íntegra as propostas feitas na BNCC, mas nem perderei meu precioso tempo, pois, para mim, o problema não está no que se ensina nas escolas, mas na maneira que se ensina.

Para dar corpo ao meu posicionamento, recorro à infância, aquela fase da vida durante a qual todos nós, sem exceção, somos consumidos pela curiosidade de conhecer as coisas, o que se manifesta através da "caça" a formigas e joaninhas no quintal até o desmonte de todos os equipamentos eletrônicos que derem sopa; aquela fase dos "porquês", quando tudo no mundo nos deslumbra e nos incita o aprendizado.

Então, de repente, vem o ensino escolar para sufocar nossa curiosidade e tornar todas as explicações de mundo chatas, sem sentido. E, junto com a morte de nossa curiosidade, também se despede o nosso prazer de aprender, já que não conseguimos encontrar a conexão daquilo que aprendemos na sala de aula ao mundo que nos rodeia.

O educador e poeta Rubem Alves afirma em mais um de seus belos textos que "a mensagem que educa não são os conteúdos curriculares, a teoria que se ensina nas aulas, educação libertária etc. A mensagem verdadeira, aquilo que aprende, é o 'embrulho' em que esses conteúdos curriculares são supostamente ensinados".

Para mim, o "embrulho" perfeito é aquele que consegue conectar o que é ensinado nas escolas ao que está presente em nosso cotidiano; ensino útil para a vida, e não para as provas da Fuvest. Esse embrulho não mataria a curiosidade das crianças e, consequentemente, não formaria apenas alunos débeis, que "aprendem" somente para passar nos exames.

Se o ensino fosse focado nesse tipo de "embrulho", dificilmente ouviríamos uma frase muito comum por aí: "Nunca vou usar isso em minha vida". Educadores que lutarem por esse novo formato na educação trarão uma real e efetiva melhora ao ensino. E, com certeza, educadores com essa filosofia de ensino não perderão tempo em propor absurdos sob a falsa justificativa de "renovação e aprimoramento à educação".

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