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Artigo Tati Zanon: Alckmin contra o progresso

26 Jan 2017 - 07h18Por (*) Tati Zanon
Foto: www.freewords.com - Foto: www.freewords.com -

Depois de quase um mês sem passar por aqui, meus queridos, volto com o primeiro artigo do ano. Tinha prometido a mim mesma que ele teria uma dose de otimismo, para começar com o pé direito. Mas, para que isso fosse viável, eu precisaria morar em outro país.

As primeiras notícias do ano já renderam material suficiente para que a rede Globo construa sua retrospectiva. As rebeliões e mortes nos presídios brasileiros deram o tom de tragédia logo no mês um de 2017, criando uma atmosfera trágica e de ainda mais desesperança para a população brasileira, que vê tanto bandido morto nas prisões, mas ainda completamente impunes no Planalto. 

Pior do que um político bandido é um político bandido que não dê a mínima, no sentido literal da palavra, importância a algumas instituições públicas chave para o progresso de um país e de seu povo. E, nesse momento, não há ninguém melhor do que o governador Geraldo Alckmin que se enquadre nessa descrição.

Poderia falar de inúmeros erros de gestão do governador, mas, como pesquisadora, vou acabar "puxando a sardinha" para o meu lado, e simplesmente lamentar com profundidade sua última ação que, de maneira ditatorial e inconstitucional, impôs que a maior agência de fomento do país, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), receberá menos repasses em 2017. De acordo com editorial da Folha de São Paulo "Alckmin contra a FAPESP", em dezembro de 2016, Alckmin aprovou uma lei orçamentária desviando R$120 milhões da dotação assegurada pela Constituição à Fundação. Vejam bem: assegurada pela Constituição.

É muito importante lembrarmos que a pesquisa científica não se presta somente para colocar um país em destaque no cenário internacional ou trazer soluções para problemas reais e urgentes enfrentados por um povo (a exemplo do zika vírus e da dengue), motivos estes que já seriam mais que suficientes para impedir que investimentos na área científica e tecnológica fossem cortados ou reduzidos. A pesquisa pode esclarecer, com a exatidão e a confiabilidade que somente o método científico proporciona, respostas a algumas questões que a grande maioria da população enxerga de maneira totalmente equivocada (como a redução da maioridade penal, a legalização das drogas, a permissão do aborto, e por aí vai), e, de fato, melhorar a qualidade de vida das pessoas das mais diversas maneiras que se possa imaginar, a começar pela investigação e análise de programas sociais, educacionais, políticos, de saúde etc., e seus respectivos benefícios (ou não), viabilidade (social e financeira), entre outros. E aqui só estou falando apenas de uma ínfima fatia do enorme bolo de benefícios que a pesquisa científica pode trazer.

A decisão de Alckmin me indigna, porém (e infelizmente) não me choca. Para alguém que lá atrás já disse que a FAPESP "prioriza pesquisas sem utilidade prática" e "projetos acadêmicos sem nenhuma relevância", e que vive "numa bolha acadêmica desconectada da realidade", retirar 0,1% de recursos da Fundação é uma atitude perfeitamente compatível com sua postura. Nessa toada, são mais pontos para ele e para todos os outros políticos que, como Alckmin, pouco se importam com o bem-estar social. Com menos verbas para pesquisa, o progresso do país e, por sua vez, do povo brasileiro, também é reduzido. E até o maior dos ignorantes já sabe que nada de bom vem da falta de conhecimento. Lamentável, governador, lamentável...

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