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Artigo Rui Sintra: “(...) Nunca foi eleita, nem para síndica de condomínio (...)”

E o Brasil chega ao fim do poço!

11 Mai 2016 - 06h02Por (*) Rui Sintra
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Depois de uma série de capítulos de uma novela incrível, com vários protagonistas e enredos maquiavélicos envolvendo golpes atrás de golpes, desferidos entre o governo e seus aliados, entreex-aliados, governo, oposição e restantes órgãos de poder, tudo bem temperado com pitadas de traição de parte-a-parte, o país está perante um cenário que aponta 99,5% de chances de ver sua presidente da república ser impedida de exercer o cargo, pelo menos durante 180 dias. Culpa de quem?

Bem, o certo é que o encanto do PT (que nos encantou e entusiasmou também, já que somos equilibrados e não fanáticos) acabou por não resumir nem responder aos anseios de uma esquerda naturalmente sedenta de poder, mas que, por sortee pelo período de oito anos, conseguiu liderar as tendências esquerdistas brasileiras e conseguiu conquistar, diga-se, com mérito, as camadas populares do Brasil.

Contudo, um dos pecados capitais mais terríveis para quem governa (a grana voando bem em frente dos olhos) acabou por esmagar as teorias e os projetos esquerdistas, como o fez e continua fazendo aos de centro-esquerda, centro-direita e direita: ou seja, o poder e o dinheiro cegam, e o PT se enrolou todo, soçobrando lentamente através de financiamentos untados de maracutaias, ou seja, de crimes de toda a espécie, que foram e estão sendo descobertos aos poucos.

Já escrevi nesta coluna, em outros momentos, que muita gente de valor, muitos quadros de grande excelência abandonaram o Partido dos Trabalhadores exatamente quando nos bastidores do poder eles enxergaram que o PT estava sendo literalmente assaltado por gente sem escrúpulos, em suma, por bandidos: e esse foi o início do fim de um projeto governativo.

Conforme afirmou recentemente o Prof. Daniel Aarão Reis, historiador e docente universitário da Universidade Federal Fluminense (RJ), que abandonou o PT em 2005 exatamente por não concordar com os desvios graves que o partido optou por trilhar, o Partido dos Trabalhadores precisa sair do poder por forma a ter alguma hipótese de se regenerar, já que abandonou, ao longo do tempo, todas as propostas reformistas a que se propôs, comprometendo, dessa forma as políticas e a disseminação das ideias da esquerda brasileira, que por um breve período conseguiu protagonizar.

Se é fato que o sistema político brasileiro está podre há muito tempo, o certo é que essa podridão virou putrefação, virou decomposição no último mês, emergindo os cadáveresdas ações e as entranhas fedidas das manobras incríveis que foram feitas visando a persistente tentativa da eternização no poder de uma personalidade e de um partido completamente esvaziados, sem condições de governar este imenso país que dá pelo nome de Brasil e que perderam, por mérito próprio, num curto espaço de aproximadamente dois anos, mais de 54 milhões de votos na reeleição de 2014 (atente-se aos níveis de popularidade). Ao contrário do que o PT afirma, não foi preciso a oposição fazer muita coisa ao longo destes últimos dois anos contra o governo, já que o próprio governo, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados se encarregaram dessa tarefa.

Curioso é o comentário feito por Aarão Reis em entrevista à "Globo News", quando enaltece a figura e o trabalho de Lula, que após 8 anos de governo conseguiu sair pela porta grande do Palácio do Planalto, com uma popularidade que será difícil igualar num futuro próximo "(...) tendo, inclusive, conseguido eleger Dilma Rousseff, que nunca foi eleita, nem para síndica de condomínio, sabendo-se, antecipadamente, o quanto é difícil transferir votos (...)". Contudo, segundo o docente, o futuro político de Lula está muito incerto, devido às posturas e decisões tomadas pelo ex-presidente nos últimos tempos.

A opinião do Prof. Daniel Aaarão Reis coincide com a minha, já expressa diversas vezes nesta coluna: o sistema político brasileiro está viciado, "está podre até à medula" e existe a necessidade de ser profundamente reformado. Quem sabe, não está na hora de ouvir novamente a opinião do povo sobre a hipótese de se mudar o sistema atual para um regime parlamentar, que, no mínimo, não admite bandidos nas suas bancadas e que sai muito mais barato ao erário público.

Mudanças serão bem-vindas, até porque as coisas não podem nem devem permanecer como estão, para bem de todos os cidadãos.

(*) O autor é formado em História e Jornalismo desde 1985 nas áreas de Política, Social, Ciência e Tecnologia. Possui credenciamento profissional emitido pelos Estados Brasileiro e Português e é correspondente internacional para a União Europeia pela GNS - Internacional Press Association.

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