quarta, 24 de abril de 2024
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Artigo Rui Sintra: Do candomblé ao público de merda

17 Ago 2016 - 09h05Por (*) Rui Sintra
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Fiquei incomodado com as declarações feitas pelo técnico francês,Philippe d'Encausse, ao jornal francês "Le Monde", após seu atleta Renaud Lavillenie ter perdido a medalha de ouro olímpica no salto com vara para o brasileiro Thiago Braz: a derrota do francês, segundo seu técnico, teria acontecido devido à introdução daquilo que ele classificou de "forças místicas", tendo aludido, inclusive, o candomblé como o principal culpado pela derrota de seu pupilo, num país que classificou como "bizarro"...

Que "forças místicas" certamente não estiveram por trás da vitória merecidíssima de Thiago Braz nesta Olimpíada, isso é um fato, sendo que essa alusão só poderá ter acontecido por falta de argumentação e de justificação dos franceses em face à supremacia de Thiago, atendendo a que quem disputa qualquer esporte está sujeito à derrota ou à vitória, por muito bom que seja: da mesma forma que "forças místicas" não estiveram por trás do abalo sofrido pelo nosso país nos últimos treze anos. Certo? Já no que diz respeito ao "país bizarro"... Bem, aí podemos interpretar a frase num sentido bem mais lato, mas que não vem ao caso neste momento.

Voltando ao tema da coluna de hoje, outro ponto que devemos ponderar é a reclamação feita por Renaud Lavillenie em relação às vaias que recebeu do público, mesmo antes de sua prova: com a medalha de ouro prestes a ser pendurada no pescoço de Thiago, Renaud disse "(...) Dei tudo de mim e não tenho nenhum arrependimento. Uma prova inacreditável!! Só estou decepcionado com a total falta de respeito do público. Isso não é digno de um estádio olímpico (...)". Será que o atleta francês teve razão no seu desabafo? Será que o público confundiu uma prova de atletismo - onde os atletas necessitam de concentração absoluta -, com um mero jogo de futebol entre Corinthians e Palmeiras? Será que, efetivamente, há falta de educação desportiva no povo brasileiro? E se essas vaias tivessem acontecido com Thiago Braz, no exterior? Qual teria sido a nossa própria reação? Contudo, nada justifica que Renaud Lavillenietenha dito à emissora francesa "iTele" que a torcida brasileira era um "público de merda". Faltou a ele inteligência para retrucar com diplomacia e com luvas de pelica.

Entendo que houve razões e excessos de ambos os lados neste caso particular - do público, do atleta e de seu técnico -, o que nos faz ponderar na necessidade de conscientizar a todos sobre o respeito que devemos ter com o esporte de alta competição e com esportistas de alto nível, principalmente em provas individuais, independente de serem brasileiros, ou não. Não presenciamos isso na final dos 100 metros, nem na final em argolas, nem na trave, nem nas provas de solo - aliás, não vimos isso em nenhuma competição individual, com ou sem brasileiro na disputa por um lugar no pódio.

Erros acontecem: por vezes nos excedemos e esses excessos normalmente desencadeiam outros erros e outros excessos. É tempo de reflexão, o que não inibe de elevarmos bem alto o nome daqueles que deram e que irão dar tudo que têm na conquistado ouro olímpico para o nosso país... Merecidamente!

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