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Artigo Rui Sintra: Brasil: na busca do brilho perdido

14 Set 2016 - 05h49Por (*) Rui Sintra
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Ao assistir à posse da nova presidente do STF, ministra Carmén Lúcia Antunes Rocha, em cerimônia ocorrida no passado dia 12 de setembro, tive a certeza de que o Brasil ainda tem gente muitíssimo competente e que ama o País acima de qualquer coisa. A postura e a personalidade de Carmén Lúcia contrastam profundamente com tudo aquilo que, desde há alguns anos a esta parte, estamos habituados a assistir no Brasil e, principalmente, contrastam abismalmente com as várias - inúmeras - personagens que cotidianamente tentam nos vender a imagem de "personalidades", sem, contudo, conseguirem ser, isso pela dimensão e extensão de suas incompetentes e ignorantes formas de ser e estar.

Ao ouvir o discurso de posse da nova presidente do STF, senti uma espécie de lufada de ar fresco invadindo meu corpo e minha mente, até então conspurcada pelas barbaridades cuspidas e escarradas ao longo dos últimos anos pelas bocas fétidas de verdadeiras alcateias do mal. No dia 12 de setembro de 2016 tomei um banho de civilidade, de cultura, de sentido de vida. Eis, finalmente, que o sol rompeu as nuvens negras de um obscurantismo torpe que cobriu o Brasil, durante largos anos, através de um raio de pureza, de determinação, de inteligência, cultura, ponderação e sentido de justiça: a vênia, respeito e humildade com que a ministra Carmén Lúcia brindou os cidadãos brasileiros, colocando-se abaixo deles e ao seu serviço, mostrou como é forjada uma personalidade do bem e qual o nível de responsabilidade que um servidor público deve ter perante o cidadão, seja qual for o cargo que ocupe. Note-se: estamos falando da Presidente do Supremo Tribunal Federal.

E o discurso de Carmén Lúcia não foi circunstancial, antes pelo contrário, seguiu a linhaque ela própria traçou ao longo de sua carreira, que começou como simples advogada, passando, posteriormente, pelos cargos de Procuradora do Estado de Minas Gerais,Professora Titular  de  Direito  Constitucional  da  Faculdade  Mineira  de  Direito  da  Pontifícia  Universidade Católica  de  Minas  Gerais, Membro  da  Comissão  de  Estudos  Constitucionais  do  Conselho  Federal da OAB, Membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros - IAB, Membro fundadora do Instituto de Defesa das Instituições Democráticas - IDID, Membro da Academia Internacional de Direito e Economia e Ministra do Supremo Tribunal Federal desde 2006, entre muitas outras funções.

Mais do que um discurso para dentro da instituição ou para agradar seu pares (e outros pares, que não seus!), suas palavras foram dirigidas para fora deles, em direção à sociedade civil, principalmente em direção ao povo, sinalizando que sua atuação estará balizada pela esperança numa justiça mais abrangente e célere, sem foro privilegiado. Carmén Lúcia não se resignou a um discurso de posse: ela fez um discurso embasado na realidade atual, sinalizando muitas coisas que, na justiça, deverão ser melhoradas em prol da população, principalmentequanto à morosidade dos processos que, muitas vezes, descambam em verdadeiras injustiças, bem como no prosseguimento de inúmeros outros objetivos, como é o caso do combate à corrupção.

Sem querer fazer analogias, mas tentado a fazê-las quando no meio de um oceano vazio e putrefato descubro uma ilha paradisíaca limpa de poluição, a lucidez, postura, linha de raciocínio, cultura e sentido de serviço público demonstrado ao longo do tempo pela ministra (e agora presidente) do STF, Carmén Lúcia, me leva a crer que existem, sim, pessoas capazes de levar o Brasil a bom porto, recuperando o brilho perdido de um país que foi jogado na lama por uma corja de malfeitores.

O Brasil precisa de timoneiros com o calibre de Carmen Lúcia (e de outros), que sorriu delicada, mas expressivamente, quando recentemente o seu antecessor (ministro Ricardo Lewandowsky) perguntou se ela queria ser tratada como "presidenta".

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