quinta, 25 de abril de 2024
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Artigo Rui Sintra: Até que meus dedos sangrem de tanto escrever

18 Mai 2016 - 05h53Por (*) Rui Sintra
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

Quantas vezes tenho me questionado se valeu a pena toda a minha paixão, entrega e devoção à área da comunicação: ao jornalismo.

Após roubar um cigarro sem filtro do maço pousado no criado mudo, bem ao lado de meu pai, docemente entregue nos braços e no embalo de Morfeu, era a penumbra de meu quarto que acolhia os esboços atrapalhados daquilo que viria a ser a minha primeira redação fora da escola. Puro ímpeto...

Lá fora, a chuva caía fina, irritante, com o vento trazendo os sons das ferraduras dos cavalos da guarda republicana replicando nas calçadas irregulares das ruas estreitas: era o tempo da ditadura civil, onde os cafés fechavam às dez da noite e as pessoas estavam proibidas de se encontrar ou de conversar na via pública. Grupos com mais de três pessoas eram considerados "subversivos" e iam presos para interrogatório.

Sociedade, esporte, política e "faits-divers" moldaram, esculpiram e aprimoraram essa minha velha paixão, transformando-a no ar que hoje respiro, no constante suor que brota de meus poros, no suspiro sempre presente cada vez que escrevo ou falo algo para os outros, impulsionado por uma frase, por um sorriso, por um olhar, por uma expressão facial, ou por uma lágrima de quem entrevisto, com quem dialogo.

Entretanto, meu azimute apontou para uma área que até há alguns anos era estranha para mim: a difusão da ciência e tecnologia para o público leigo começou a ocupar um espaço importante na minha vida profissional, numa tentativa ínfima de colaborar com uma educação e uma cultura popular que teimam em singrar em nosso país. Mas tentemos, até que os dedos nos doam!!!

E, se o mundo que percorri e as situações que vivi me ensinaram que existe sempre uma esperança que pode ser relatada, que a comunicação não tem fronteiras e que ela é multifacetada e complexa, por outro lado o Brasil me ensinou, pela sua condição particular de país emergente, que aqui vale a pena cumprir a minha missão, até porque é muito mais prazeroso contribuirmos com o nosso esforço e dedicação para o crescimento de uma democracia que ainda usa fraldas, sem perdermos, em nenhum momento, a visão direta e crítica do que acontece em nosso redor: porque também somos cidadãos, também somos contribuintes, também temos voz!...

Citando Alberto Dines "A sociedade é maior do que o mercado. O leitor não é consumidor, mas cidadão. Jornalismo é serviço público, não espetáculo", permitindo-me citar, igualmente, Mino Carta "Não vamos esmorecer na nossa crença de que jornalismo é algo que se faz com espírito crítico, fiscalizando o poder."

Assim, continuarei por aqui, sujeito às críticas construtivas, constantes, às opiniões contrárias, mas sempre pronto para a réplica consciente e aguçada.

Continuarei por aqui, até que meus dedos sangrem de tanto escrever!

(*) O autor é formado em História e Jornalismo desde 1985 nas áreas de Política, Social, Ciência e Tecnologia. Possui credenciamento profissional emitido pelos Estados Brasileiro e Português e é correspondente internacional para a União Europeia pela GNS - Internacional Press Association.

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