sexta, 29 de março de 2024
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Analfabetismo Emocional

07 Jan 2019 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Analfabetismo Emocional -

Há muitas pessoas hábeis no domínio de diversas competências, dispõem de intermináveis títulos e diplomas, mas sofrem de analfabetismo emocional, fazem a mesma gestão emocional que uma criança de três anos. Esse aprendizado não vem de “fábrica” e é, querendo ou não, um assunto pendente do qual devemos dedicar mais recursos.

Sabemos quais são os princípios de uma boa saúde física, ou seja: uma dieta balanceada e o mais natural possível, exercícios, dormir todas as noites pelo menos de 7 a 9 horas e fazer exames médicos regulares para nos assegurar de que tudo está bem.

No entanto, se há algo negligenciamos de forma quase alarmante é o que está contido em nosso cérebro, não estou me referindo ao conjunto de células nervosas e estruturas e sim nos indicadores de nossa saúde emocional, na capacidade de nos relacionarmos, no gerenciamento das nossas emoções, na capacidade de controlar nosso humor, etc.

Somos seres sociais e emocionais, dimensões estas muitas vezes negligenciadas e subvalorizadas. Quantas vezes agimos diante de uma situação e depois refletimos, com aquela famosa frase: “nossa como eu pude fazer isso”? Não nos conhecemos, não temos o controle sobre nossas emoções principalmente em situações estressantes, difíceis.

O termo analfabetismo possui uma conotação negativa, porém não podemos nomear diferentemente essa condição social tão evidente.

Vejamos algumas características:

  • Incapacidade para gerenciar suas emoções e entender a dos outros;
  • Falta de empatia;
  • Habilidades sociais rígidas, faltando assertividade e sensibilidade;
  • Pensamento polarizado, repressão, racismo, narcisismo, necessidade obsessiva de ter razão.

Além disso, há um dado não menos importante que é importante lembrar.

O analfabetismo emocional, isto é, a falta de recursos psicológicos e mecanismos emocionais para administrar melhor as dimensões como a tristeza, a raiva, o medo ou a decepção, nos torna muito mais vulneráveis a uma série de transtornos mentais.

Assim, condições como a depressão ou os estados de ansiedade crônica são muito comuns em perfis com pouca ou nenhuma capacidade para gerenciar os estados internos.

Devemos ensinar a inteligência emocional, devemos nos capacitar nessas habilidades, sermos mais aptos em matéria de emoções. Temos ouvido isso até não poder mais, temos lido livros, temos feito cursos e dizemos que sim com a cabeça toda vez que somos lembrados da importância de ter uma maior competência nesta habilidade. No entanto, as lacunas ainda existem.

Muitas vezes nós mesmos atingimos nosso estágio adulto com um mundo de inseguranças. Também nos levantamos todos os dias conscientes de que nos faltam ferramentas para dominar nossas emoções, assim como certas habilidades para enfrentar melhor a adversidade. Desta forma, se não começarmos em primeiro lugar por nós mesmos nos conscientizando de nosso analfabetismo emocional, dificilmente teremos o talento para motivar os menores, para treiná-los em empatia, assertividade e em habilidades sociais.

Uma boa “alfabetização emocional” nos dota de grandes benefícios. Assim, algo que aprendemos em primeiro lugar é que cada emoção tem seu espaço e sua utilidade, que diferenciar entre emoções “negativas” e “positivas” nem sempre é certo, porque, na realidade, os estados que muitas vezes evitamos sentir, como a tristeza ou a decepção, têm seus espaços de conhecimento, sua utilidade e seu significado valioso.

Das emoções, portanto, não se foge. É preciso enfrentá-las para saber o que querem nos dizer. É uma maneira sensacional de autoconhecimento que nos dá forças, que oferece à nossa visão um espectro mais amplo e ao mesmo tempo flexível.

Portanto, não abandonemos ou desprezemos a necessidade de estarmos “atualizados” em termos de emoções. Lidemos com o mundo interior onde podemos reconhecer, expressar, gerenciar e transformar os sentimentos de modo que eles fluam a nosso favor, e não contra.

“Seu intelecto pode estar confuso, mas suas emoções nunca mentirão para você”. (Roger Ebert)

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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