sexta, 19 de abril de 2024
Direito Sistêmico

A Postura Jurídico-Sistêmica e sua Importância na Resolução de Conflitos

07 Jun 2019 - 07h00Por (*) Dra. Rafaela Cadeu de Souza
A Postura Jurídico-Sistêmica e sua Importância na Resolução de Conflitos -

No final da semana passada aconteceu na OAB/São Carlos o Primeiro Workshop de Direito Sistêmico com o Advogado Dr. Fernando Cattelan Cordeiro, e por meio deste evento, foram abordados alguns temas importantes, e principalmente acerca da postura.

Quando o profissional da área jurídica atende uma das partes e coloca-se em estado de escuta ativa e à disposição da mesma e olhando para algo maior que existe, abrindo o olhar para as partes e para o que existe além do conflito apresentado, este pode ter uma percepção muito maior e com isso desenvolver um novo olhar e bem como saber qual realmente providência jurídica oferecer, com isso todos podem ter a sensação de que uma solução mais adequada poderá ser adotada, o que gera economia de recursos e de tempo.

Outro grande ensinamento foi de sentirmos como é o “lugar” de cliente, como é estar ali aflito diante de suas questões e a postura do profissional faz muita diferença nesse momento, pois se ambos estiverem aflitos, ansiosos ou até distraídos, a sensação sobre o que é relatado é totalmente diferente se houver conexão entre ambos e uma abertura a tudo que existe de oculto no conflito jurídico.

Assim, quando o profissional aprimora-se estudando o pensamento sistêmico, ele pode adotar uma postura sistêmica é o que ponto muito relevante, posto que quando ela é interiorizada ela não mais como se dissociar da pessoa e da profissional, é algo intrínseco, e também é natural, não é forçado.

Quando um conflito é gerado podemos compreender que cada parte é fruto de uma história e de um sistema familiar, e ambos podem apresentar dificuldades ou lealdades familiares que fizeram com que se encontrassem e como se um servisse ao outro no desenvolvimento de suas responsabilidades perante seus atos.

Ao propiciar a assunção e entendimento das responsabilidades de cada parte num conflito, o Direito Sistêmico propicia que os mesmos tenham a possibilidade de resolverem e até de autocomposição, o que favorece os acordos judiciais ou extrajudiciais, com isso a celeridade e economia processual, que são princípios judiciais brasileiros, são plenamente atendidos. Mas nem sempre será isto possível, sendo necessário na maioria das situações, o processo percorrer todas as suas fases processuais, mas mesmo assim, uma postura com uma visão mais ampliada diante dos fatos apresentados, pode contribuir para a efetiva Justiça.

Assim, o “conflito” seja ele jurídico ou não, pode servir de instrumento para que desenvolvimento da empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro, mas quando estamos ainda no sentimento primário de raiva, indignação, de não entendimento, torna-se demasiadamente difícil essa postura, a briga, às vezes passa a ser a única forma de comunicação, mas imagine, entre pais, que possuem filhos, como pode perdurar essa situação durante toda a vida? Por isso, o profissional capacitado para esse despertar de um novo entendimento do conflito para seu cliente e bem como abertura de novas formas de resolução dos conflitos, é algo sem retorno, o futuro do Direito necessariamente será pela sua própria natureza, que é humana, por mais inteligência artificial que o permeie, como já está acontecendo.

A adoção de uma postura sistêmica que contempla o olhar para o todo, para o sistema familiar das partes e para algo muito maior, pode sim contribuir para uma solução equitativa e pacífica para o problema apresentado, e assim estará atuando em consonância com os princípios éticos que regem a própria profissão.

(*) A autora é Advogada Sistêmica, inscrita na OAB/SP 225.058 e Presidente da Comissão de Direito Sistêmico e da OAB Concilia da 30ª Subseção de São Carlos.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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