quinta, 28 de março de 2024
Artigo Rui Sintra

A New Xerif

01 Nov 2018 - 10h18Por (*) Rui Sintra
A New Xerif -

Estive afastado alguns meses deste espaço de opinião. Minha atenção ficou completamente voltada para o período que antecedeu a campanha eleitoral, a movimentação dos candidatos e como eles se perfilaram perante o eleitorado. E senti, nesse período, que tudo aquilo que eu estava habituado a ver no Brasil estava se transformando dia após dia, como uma espécie de metamorfose rápida e incisiva. Contudo, também percebi que os tradicionais e principais atores que habitualmente participam do momento eleitoral para a presidência da república não olharam para o que estava acontecendo, não se aperceberam (ou não quiseram se aperceber) da transformação que estava se operando na sociedade: estavam confiantes em suas próprias estratégias, como se elas fossem eternamente eficientes.

Em minha opinião e tal como escrevi em outros momentos, a esquerda brasileira continuou, em, 2018, sua estratégia de sempre, ou seja, insistindo num discurso que fez furor e que foi altamente eficiente na década de 70 do século passado, beneficiando da conjuntura política internacional dessa época, apelos esses que, por se terem esgotado com o tempo, foram perdendo fôlego no seio da sociedade, continuando, porém, a aquecer os ânimos da cada vez mais minguada militância de cada partido político. Com isso, a esquerda brasileira começou a perder a noção da realidade do que acontecia em todo o Brasil, com o pagamento de uma fatura que viria a ser muito cara, como se observou com o resultado das eleições passadas.

Somando erros estratégicos ano após ano, a esquerda brasileira foi literalmente arrastada pelo PT, manchado por inúmeros escândalos de corrupção e principal protagonista de ações e políticas que desde há muito tempo estavam fadadas ao insucesso: uma dessas estratégias erradas foi discursar apenas para a militância, como se ela fosse o restante da sociedade, mantendo um estilo e forma que já não mais pertencem à nossa realidade. Em anterior artigo, escrito há algum tempo no São Carlos Agora, observei que essa mesma estratégia poderia abrir as portas para a entrada da extrema-direita no país, e, se tal acontecesse, essas portas seriam abertas exatamente pelo voto de uma sociedade – principalmente a pertencente à classe média, onde se incluem seus novos integrantes que ascenderam de classes menos favorecidas - que ao longo dos anos se sentiu vilipendiada e ofendida diversas vezes, inclusive por quem detinha o poder, por quem deveria ter respeitado e promovido sua imagem de presidente de todos os brasileiros, unificando o povo https://www.youtube.com/watch?v=uhpsgGjDuI4

Nestas eleições, mais do que votar em um candidato polêmico que viria a ganhar as eleições para a presidência da república, de fato a maior parte da sociedade votou no escuro – e com todos os riscos inerentes -, estando provado que o fez simplesmente para que o PT (ou a esquerda, se preferirem) não voltasse a governar o país. E Mano Brown, em comício do PT antes do pleito eleitoral, tocou na ferida da esquerda: “A cegueira atingiu o PT (...) Não consegue falar em nome do povo (...) Se falhou vai ter que pagar, mesmo (...) O que mata é a cegueira e o fanatismo (...) Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil (...) Volta para a base e vai procurar saber(...) - https://www.youtube.com/watch?v=ojQ0QuYDT9Q

A esquerda brasileira e o PT - principalmente - precisam mudar radicalmente seus discursos e suas ações no seio da sociedade, precisam deixar de, em desespero para ganhar uma eleição, prometer gás R$ 49 e aumento de 20% no valor dos benefícios do “Bolsa Família”, ações que lembram os  “coronéis” lá nas mais recônditas  cidades do Norte e Nordeste, que ofereciam dentaduras, tênis, meias, moletons e pintura de casas a quem votasse em determinado candidato: não tem diferença...

Com esta cegueira, com esta falta de discernimento para falar com TODA a sociedade, a esquerda brasileira está fadada a um eclipse total, a um descrédito sem precedentes, com a agravante de ter que lidar com uma nova realidade nunca antes imaginada: “There’s a new Xerif in Town”

(*) O autor é Jornalista profissional / Membro da GNS Press Association (Alemanha) / Correspondente internacional freelancer.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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