terça, 15 de outubro de 2024
Artigo Rui Sintra

5 de maio - Dia Internacional da Língua Portuguesa - Conversando com Luís Vaz de Camões

05 Mai 2023 - 08h20Por (*) Rui Sintra
5 de maio - Dia Internacional da Língua Portuguesa - Conversando com Luís Vaz de Camões -

Neste dia 5 de maio de 2023 comemora-se o “Dia Internacional da Língua Portuguesa” e da “Cultura Lusófona”, uma efeméride que foi oficializada em 2009, no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O propósito foi - e é -  promover o sentido de comunidade e de pluralismo dos falantes do português. Nesta ocasião, governos e sociedade civil celebram a relevância do idioma como parte da identidade dos povos lusófonos. Hoje, acordei com os pés virados para a lua que ainda não tinha sumido no horizonte, e pensei que seria bom recordar Luiz Vaz de Camões e de sua mui nobre obra; afinal, está tudo interligado na história, sendo que os acontecimentos se sucedem a outros acontecimentos e que a maior riqueza de um homem é, por vezes, a sua aparente pobreza camuflada sobre o manto incólume da genialidade.

Diz Eugênio de Andrade: “De Camões, em pura verdade, muito pouco sabemos. Nasceu pobre, viveu pobre e morreu mais pobre ainda, senão miseravelmente. Ele, que acumulou bens que milhares e milhares d’homens não têm chegado para delapidar. Fora do nosso coração não sabemos onde Camões nasceu, nem o ano, ou o dia em que saiu da materna sepultura para o primeiro amanhecer. Como não sabemos onde estudou ou quem lhe ensinou o muito que sabia... O muito que nos ensinou”. Não há nenhum poeta português digno desse nome que não tenha os seus poemas em um verso de Camões e, por isso, atrevo-me a citar, com todo o respeito, a obra “Palavras ditas” do ator português Mário Viegas (10/11/1948-01/04/1996).

- Luiz Vaz, em que dia nasceu?

- O dia em que eu nasci?... O dia em que eu nasci... O dia em que eu nasci, moura e pereça não o queira jamais o tempo dar, não torne mais ao mundo, e, se tornar, eclipse nesse passo o sol padeça. A luz lhe falte, o sol se escureça, mostre o mundo sinais de se acabar, nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar, a mãe ao próprio filho não conheça. As pessoas pasmadas, de ignorantes, as lágrimas no rosto, a cor perdida, cuidem que o mundo já se destruiu... Ó gente temerosa, não te espantes, que este dia deitou ao mundo a vida mais desgraçada que jamais se viu.

- Por culpa de quem? Do desconcerto do mundo, ou erros seus?...

- Erros meus!... Erros meus!... Erros meus! Erros meus, má fortuna, amor ardente em minha perdição se conjuraram. Os erros e a fortuna sobejaram, que para mim bastava o amor somente. Tudo passei; mas tenho tão presente a grande dor das cousas, que passaram, que as magoadas iras me ensinaram a não querer já nunca ser contente. Errei todo o discurso de meus anos; dei causa que a fortuna castigasse as minhas mal fundadas esperanças. De amor não vi senão breves enganos. Oh! quem tanto pudesse que fartasse este meu duro gênio de vinganças.

- E o mundo? Que é feito dos maus e dos bons?

- Os bons?... Os bons vi sempre passar no mundo graves tormentos; e pera mais me espantar, os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos, cuidando alcançar assim o bem tão mal ordenado. Fui mau, mas fui castigado. Assim que, só pera mim, anda o mundo consertado.

- O que poderá esperar deste mundo?

- Que poderei do mundo já querer, que, naquilo que pus tamanho amor, não vi senão desgosto e desamor, e morte, enfim; que mais não pode ser. Pois vida me não farta de viver, pois já sei que não mata grande dor, se cousa há que mágoa dê maior, eu a verei, que tudo posso ver. A morte, a meu pesar, me assegurou de quanto mal me vinha; já perdi o que perder o medo me ensinou. Na vida desamor somente vi, na morte a grande dor que me ficou; parece que para isto só nasci.”

Feliz 5 de maio para todos, é o que desejo.

O autor é jornalista profissional / correspondente para a Europa pela GNS Press Association  / EUCJ - European Chamber of Journalists / European News Agency) - MTB 66181/SP.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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