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Vencendo o desafio de inovar no Brasil

07 Mai 2016 - 16h00Por Rui Sintra/Assessoria de Imprensa
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Em 2014, a Cellco, uma empresa criada por três ex-alunos do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e dedicada àpesquisa,consultoriae distribuição de reagentes para biotecnologia, incubou-se no IFSC, via convênio com a Universidade, tendo como coordenador e entusiasta o Prof. Dr. Rafael Guido (IFSC/USP), membro do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar)*, cujo time de pesquisadores conta com a atuação de especialistas e docentes do Grupo de Cristalografia do Instituto.

O desejo de criar uma empresa surgiu em meados de 2011, quando os ex-alunos do IFSC, Fernando Maluf, Maria Amélia Oliva Dotta e Fernanda Cristina Costa, já haviam atuado com pesquisa no exterior e sentido as grandes dificuldades que cientistas brasileiros enfrentam diariamente, seja durante a solicitação de reagentes que demoram semanas - ou meses - para serem entregues, ou na difícil tentativa de desenvolver uma pesquisa de alto impacto.

"No Brasil, a inovação é um grande desafio e, pelo fato de não ser muito comum, os órgãos competentes ainda não estão preparados", explica Maria Amélia, complementando que, durante a criação da Cellco, os empreendedores encontraram bastantes obstáculos em cada etapa que surgia para estabelecerem a empresa, o que demonstrou, para a pesquisadora, o quão despreparado está o Brasil, neste sentido. "A legislação não é atualizada na velocidade em que as coisas evoluem,hoje", pontua Fernando.

No Brasil, onde o empreendedorismo ainda não é uma iniciativa tão comum, são enormes as dificuldades estabelecidas para aqueles que querem abrir o próprio negócio. Talvez seja ainda mais complicado quando se deseja empreender na área da ciência. A insegurança em investirem em algo tão novo no país e a cascata de burocracias desanimaram esses três amigos logo nos primeiros passos dados para fundar a companhia. "Os obstáculos para abrir a empresa foram tão grandes, que nos deixaram perdidos. Não tínhamos amparo ou estratégia. Não desistimos, mas não conseguimos seguir em frente com essa ideia naquelemomento", diz Fernando Maluf.

A ideia de empreender na área de biotecnologia nasceu em 2012, durante uma visita àJenaBioscience, companhia alemã fundada em 1998 por cientistas do Instituto Max-Planck Dortmund(Alemanha), que hoje produz e fornece reagentes para laboratórios de pesquisa e indústrias farmacêuticas de vários países.Naquela ocasião, Maluf e Fernanda tiveram a oportunidade de conhecer e estagiar nessa indústria e também de conversar com o CEO da companhia, MathiasGrün. "Nesse encontro, conversamos muito com Mathias, que comentou que tínhamos ótimas oportunidades para explorar no Brasil e que a JenaBioscience poderia dar suporte para abrirmos nossa empresa".A conversa animou Maluf, Fernanda e Maria Amélia, mas, como cada um deles estava dedicado e centrado nem seus próprios projetos individuais, a ideia de estabelecer uma companhia tornou a esfriar.

Em 2014, Maria Amélia trabalhava na empresa farmacêutica SEM. Por seu turno,Fernanda desenvolvia o pós-doutorado no Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBio/CNPEM), sediado em Campinas (SP), enquanto Maluf finalizava o doutorado em Física Aplicada, no IFSC/USP. Logo no início desse ano, os três amigos decidiram retomar a ideia empreendedora e concretizar a empreitada de abrir a Cellco. "Nos comprometemos a descartar a ideia apenas quando ela de fato não desse certo", relembra Maluf.Em fevereiro de 2014, após ter recebido um e-mail de Fernando, que relatava a decisão dos amigos em criar a Cellco, Mathiasveio ao Brasil, onde conversou com os egressos do IFSC,deu o suporte que havia oferecido meses antes eembarcou no sonho desses três amigos. A vinda do fundador da JenaBioscienceao país e o empenho dos jovens empreendedores resultaram na incubação da Cellco no Parqtec, em São Carlos, em novembro de 2014.

No início, a empresa se dedicava estritamente ao desenvolvimento de pesquisa eà consultoria na área de ciências da vida, propondo oferecer sua expertise para auxiliar pesquisadores em seus projetos. "Ao invés do pesquisador se deslocar para fazer uma clonagem [etapa simples, porém indispensável em muitos projetos], por exemplo, nós próprios nos oferecemos para desenvolver essa fase dos estudos, terceirizando o trabalho", explica Fernando.

Atualmente, além de consultorias e prestação de serviços, a Cellco tem se dedicado ao desenvolvimento de enzimas e reagentes de uso aplicado em pesquisa na academia e na indústria com resultados promissores, que deram origem a protótipos que serão produzidos e comercializados em breve. Uma dessas enzimas, inclusive, passou por avaliação de qualidade feita pelaJenaBioscience, tendo se mostrado superior àquelasjá comercializadas.

Recentemente, após quase dois anos de espera, a empresa obteve uma licença ambiental que liberaa produção e comercialização de suas enzimas. Além disso, a jovem companhia representa com exclusividade a marca JenaBioScienceno Brasil, objetivando, também, produzir e fornecer reagentes para laboratórios do Brasil e de outros países, em especial, aos da América Latina.

*Um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (CEPID's/FAPESP).

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