quarta, 17 de abril de 2024
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Suzantur reafirma que vai parar no dia 26 de janeiro; população pode ficar sem o transporte público

Em entrevista coletiva, Claudinei Brogliato diz que, sem condições financeiras, empresa quer sair de São Carlos; empresário se sente perseguido

08 Jan 2018 - 12h26
Foto: Marcos Escrivani - Foto: Marcos Escrivani -

No dia 26 de janeiro, a Suzantur encerra as atividades em São Carlos, mesmo em detrimento ao decreto, publicado sábado, 6, pela Prefeitura Municipal, afirmando que a empresa deve permanecer por mais 90 dias no município.

O comunicado partiu do diretor presidente Claudinei Brogliato na manhã desta segunda-feira, 8, durante entrevista coletiva. Em grave crise financeira e sem receber aproximadamente R$ 9 milhões do Poder Público, o empresário afirmou que a empresa não tem condições para prosseguir com o transporte público e que encerra as atividades no município no dia 26 de janeiro. Participaram da coletiva o advogado da Suzantur, Luiz Donizete Luppi e Amador Peres Bandeira, advogado do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Araraquara e região.

MANIFESTO

Inicialmente, Brogliato pontuou fatos que ocorreram desde a chegada da Suzantur em São Carlos e teceu um histórico do trabalho da empresa no transporte público.

"Em julho de 2016 participamos de um contrato emergencial com duração de seis meses e vencemos. Naquela época, o então prefeito (Paulo Altomani, PSDB) prometeu uma licitação em definitivo, que iriar nortear o transporte público em São Carlos. Mas, em dezembro, tal licitação foi impugnada. Veio a nova administração e em janeiro de 2017 procuramos o prefeito Airton Garcia (PSB) para ver o que seria feito. Em março, foi feito novo contrato emergencial do qual participamos. Todavia, ele foi cancelado", disse.

De acordo com o empresário, pelo fato dessa indefinição, revelou que a Suzantur não investiu em veículos novos. "A princípio viemos para São Carlos para quebrar o galho", disse ao se referir ao contrato emergencial. "Estamos com os mesmos veículos provisórios e transportando mensalmente aproximadamente 450 mil passageiros com a mesma tarifa. Só que os insumos tiveram reajustes. A empresa hoje não tem dinheiro nem para pagar os funcionários. Faremos um empréstimo para quitar a dívida trabalhista", afirmou. "Vamos parar dia 26. Não adianta publicar um novo decreto de 90 dias. Não temos dinheiro para continuar. Hoje o transporte público de São Carlos é precário e deficiente. Precisa de uma reformulação, um novo modelo de transporte e isso cabe ao Poder Público", garantiu Brogliato.

SEM DIÁLOGO

Durante a entrevista, o empresário afirmou que não há diálogo com a Prefeitura. "Ele (prefeito) não recebe. Não me chama para o diálogo. Dizem que a empresa está ilegal, proferem calúnias. Mas queríamos dizer que não queremos ficar mais. A princípio era apenas seis meses. Se desde então o transporte público não é solucionado, o Município é incompetente e a empresa não pode ser responsabilizada por isso", alfinetou.

FUNCIONÁRIOS

Segundo Brogliato, a Suzantur, tem hoje 460 funcionários. "Eles transportam vidas humanas e trabalham inseguros. Ninguém defende eles. Todos tês família.Como controlar isso?" indaga.

LICITAÇÃO

O empresário, disse ainda que, segundo o prefeito, 20 empresas estariam interessadas em assumir o transporte de São Carlos. "Por quê não faz essa licitação? No dia 21 de julho de 2017 fui ao Ministério Público dizer que não participaria de nenhuma licitação", reafirmou. "Viemos para ajudar e o contrato está vencido há um ano. A Prefeitura nos deve R$ 9 milhões (subsídios)", emendou, lembrando que a empresa suporta desde outubro, um decreto que a obrigava a ficar em São Carlos por mais 90 dias. "Venceu hoje (segunda-feira). Poderíamos parar já. Mas vamos deixar os ônibus em atividade até o dia 26. Não temos condições de suportar por mais 90 dias. Vamos parar", afirmou, ao se referir ao novo decreto municipal.

SEM INVESTIMENTOS

Ele garantiu que a Suzantur trabalha dentro da lei e reafirmou que veio a São Carlos para tapar buraco através de um contrato emergencial. "Por isso não viemos com ônibus novos. Neste período não houve investimentos", reconheceu, levando em conta ainda a dívida municipal. "Caso vencêssemos a licitação de fato, havia a possibilidade de um investimento de R$ 20 mi (cada coletivo é avaliado em R$ 350 mil). Hoje a Suzantur trabalha com 110 ônibus em São Carlos. "Sei que o equipamento que temos hoje não é o correto, mas iríamos atualizar.

PERSEGUIDO

Brogliato disse que se sente perseguido em São Carlos e tachado com vários adjetivos através de entrevistas que teve conhecimento e ocorridas na imprensa falada. Entretanto, preferiu não rebater e dizer apenas que se sente "muito decepcionado".

"Acho que sou perseguido e sinto muita maldade. Acredito que as autoridades políticas não deve pensar no empresário e sim na população. Se não gostam desta empresa, deixe a gente ir embora. Se gostam da antiga (Athenas), sintam-se à vontade para retornar com ela", desabafou.

SUBSÍDIO

No final de sua fala, Brogliato afirmou que a tarifa está defasada. Mesmo com subsídio, deveria ser cobrado R$ 4,30 e não os atuais R$ 3,50. "O faturamento mensal da empresa é algo em torno de R$ 2,5 mi. Mas o ideal é de R$ 3,8 mi para que haja investimentos. Pagamos por exemplo R$ 3 o litro do óleo diesel. Sem contar que não recebemos os subsídios mensais. Estamos no vermelho", garantiu, salientando que o subsidio para o transporte coletivo foi criado em 2004 para beneficiar classes de baixa renda e transporte gratuito (para deficientes e idosos).

NOVA LICITAÇÃO

Segundo Brogliato, a Suzantur não participa desta nova licitação, baseando-se nos moldes em que o edital foi feito. "O desafio da nova empresa que assumir o transporte coletivo será econômico. Operar com uma tarifa de R$ 3,50 sem subsídios e com ônibus novos será muito difícil", analisou.

MAIS POLÊMICA

Luiz Luppi, advogado da empresa disse durante a coletiva que em março de 2017 a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito iniciou um procedimento emergencial para que a população não ficasse sem transporte coletivo, onde a Suzantur apresentou sua proposta. O encerramento aconteceu no dia 15, mas um dia depois uma empresa, mesmo após o prazo, queria participar e o secretário Coca Ferraz disse que, como não foi possível a inclusão, cancelou o procedimento.

Luppi pontuou ainda várias questões neste período, garantindo que a Suzantur sempre procurou atender as medidas legais e trabalhando em prol da população. Todavia questionou a eficiência da atual administração pública.

"A Suzantur foi taxada com uma empresa inerte. Mas não será o Poder Público que está em inércia? É só ver a situação da cidade. UPAs fechadas, asfalto deteriorando, mato alto em toda cidade. Acredito que isso seria uma ineficiência administrativa", ponderou.

PREOCUPAÇÃO

O advogado do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Araraquara e região, Amador Peres Bandeira, se mostrou preocupado. "Fomos pego de surpresa com essa reunião". Ele afirmou ter acompanhado todo imbróglio envolvendo empresa e Prefeitura, e disse que, a situação preocupa. "Sinto falta de interesse do Poder Público que poderia ter feito uma licitação há tempos. E se, realmente, a empresa parar dia 26, como será a partir do dia 27? Fica algo no ar que dá a entender que existe algo organizado pelo município nos bastidores. São Carlos não pode ficar sem transporte. Terá que ser feito um contrato emergencial do emergencial e ver qual empresa irá assumir", disse Bandeira.

De acordo com o advogado sindicalista, a Suzantur deverá colocar os 460 trabalhadores em aviso prévio no dia 26 e as homologações serão realizadas na sede do sindicato.

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