sábado, 20 de abril de 2024
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Sem Lucas, são 9 anos de buscas, esperança, angústia, dor e tristeza

Menino desapareceu da frente da casa dos avós no Jardim Beatriz em 2008.

19 Jun 2017 - 19h40
O engenheiro Antonio Carlos Ratto e o filho Lucas. (foto arquivo pessoal) - O engenheiro Antonio Carlos Ratto e o filho Lucas. (foto arquivo pessoal) -

O dia 21 de junho de 2017 será um conjunto de tristeza, angústia e de dor para Antonio Carlos Ratto; de esperança também. Farão 9 anos que seu filho Lucas Pereira, com então 3 anos e 6 meses, desapareceu. Hoje, estaria com 12 anos e 6 meses.

No dia 21 de junho de 2008, ele caminhava por uma calçada no Jardim Beatriz. Passava as férias na casa dos avós. Ele morava no Rio de Janeiro com os pais Antonio Carlos, engenheiro aposentado da Petrobrás, e de Marcelene Erika Pereira. Com olhos e cabelos castanhos, na época do desaparecimento, trajava camiseta de manga comprida verde, calça preta e tênis.

Desde então, a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investigam e procuram informações que possam levar ao paradeiro de Lucas.Foto divulgada pelo DHPP mostra como estaria Lucas em 2013.

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Antonio Carlos reside no Rio de Janeiro. Via whatsapp e email concedeu entrevista exclusiva ao São Carlos Agora. O entristecido pai respondeu a inúmeras perguntas feitas pela reportagem.

Com lucidez e coerência, aliada a uma profunda angústia, dor e tristeza, relata os 9 anos longe do seu filho. Diz ainda, que um dos piores momentos do ano é a época natalina (o filho aniversaria no dia 24 de dezembro) e o Dia das Crianças. Conta ainda, que tem esperanças, que acredita em Deus e que um dia irá ver novamente seu filho. "Algumas datas são muito tristes para mim. Eu me isolo em meu quarto, desligo o celular, tranco a porta e não quero conversar com ninguém, principalmente nas datas: 24/12 (aniversário do Lucas), 25/12 (natal) e Dia das Crianças", disse na entrevista.

Antonio Carlos, afirmou ainda que, desde o desaparecimento do seu filho alterou profundamente a sua rotina, sua maneira de viver. Garantiu ainda que procurou todos os meios possíveis e imagináveis com o intuito de localizá-lo.

O caso foi arquivado pela Polícia Civil de São Carlos, mas segundo o delegado Gilberto de Aquino da DIG, sempre que uma nova informação chega, ela é checada. No momento o desaparecimento do menino é tratado pelo Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP) de São Paulo.

A ENTREVISTA

Abaixo, a entrevista concedida pelo pai de Lucas, dias antes de completar nove anos do desaparecimento do seu filho:

São Carlos Agora - Dia 21 completa 9 anos do desaparecimento do pequeno Lucas. Como é desde então o seu dia-a-dia?Atiradores do Tiro de Guerra ajudaram nas buscas ao menino que desapareceu na frente da casa dos avós, no Jardim Beatriz. (foto arquivo SCA)

Antonio Carlos Ratto - Dia 21/06/2017 completará 9 anos de desaparecimento do meu filho Lucas. Naquela época, 2008, apesar de ter tempo para me aposentar, não o fiz, e o trabalho me ajudou muito no equilíbrio emocional para não fazer besteiras. Somente fui me aposentar em 2011. O meu dia a dia, desde então, tem sido sazonal, períodos de muita saudade e poucos períodos de alegria, que os outros meus filhos e minha família me proporcionam.

SCA - Neste período sempre manteve a esperança de localizá-lo?

Antonio Carlos - Agora, durante todo esse período, eu sempre mantive a esperança de localizá-lo e sei que um dia isso vai acontecer. Nada está acima de Deus e um dia, quando menos esperar, Ele vai trazer meu filho de volta.

SCA - As buscas continuam com esta perspectiva?

Antonio Carlos - As buscas diminuíram muito. A Polícia Civil de São Carlos arquivou processo. Dra. Maria Helena, delegada da Divisão de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil de São Paulo está cuidando do caso.

SCA - O que mudou na sua vida desde que Lucas desapareceu?

Antonio Carlos - Após o desaparecimento do Lucas, muitas coisas mudaram em minha vida, tais como: saber com quem ando, quais as qualidades das pessoas que me cercam, valorizar mais meus outros filhos e continuar dando de tudo para transforma-los em cidadãos.

SCA - Já chegou a pensar no pior ou sempre manteve a esperança e o otimismo?

Antonio Carlos - No início, em 2008, pensei o pior, pensei até em suicídio, mas logo passou, porque tinha outros filhos, tinha minha mãe, tinha meus irmãos, que poderiam me proporcionar alegrias e me ajudar nessa caminhada. Outra coisa que me dizia para ter forças e manter minha saúde é a esperança de um dia poder rever meu filho Lucas.

SCA - Você usou todos os meios possíveis e imagináveis para localizar seu filho?

Antonio Carlos - Usei todos os meios possíveis e imagináveis para localizar meu filho, diversas investidas, junto com a polícia em São Carlos, favelas no Rio de Janeiro, trouxe presidiários de outros estados para depor na Dig, carro de som, 6000 cartazes, participação no Fantástico, Domingo Espetacular, reportagem nos principais jornais do Brasil; O Globo, Jornal do Brasil, O Estadão, Folha de São Paulo, etc, e continuo até hoje, com participação no programa da Fátima Bernardes, Jornal da SBT e Record no Rio de Janeiro, DNA na USP de São Paulo, DNA na UERJ do Rio de Janeiro, duas comparações de DNA com crianças parecidas, etc, etc.

SCA - Qual o sentimento que fica? Desde então, como ficou o seu Dia dos Pais, os Natais, os Dias das Crianças?

Antonio Carlos - Tem algumas datas que são muito tristes para mim. Eu me isolo em meu quarto, desligo o celular, tranco a porta e não quero conversa com ninguém. As datas são: 24/12 (aniversário do Lucas), 25/12 (natal) e Dia das Crianças.

SCA - Se tivesse que fazer um pedido para ver novamente seu filho, o que pediria? Se tivesse a chance de vê-lo novamente, consideraria um milagre?

Antonio Carlos - Se tivesse que fazer um pedido seria para DEUS, para que Ele me ajudasse e também para a pessoa que está com meu filho, que trate bem o Lucas, que cuide da saúde dele, que de boa educação e se possível, colocasse a mão na consciência e me devolvesse para acabar com o sofrimento de um pai à deriva. Isto seria um milagre, mas milagres existem.

SCA - Qual análise que faz sobre os trabalhos policiais neste período de 9 anos.

Antonio Carlos - Os trabalhos da Polícia foram paupérrimos, sem recursos, sem vontade, sem capacidade, sem inteligência. A polícia Civil e Polícia Militar são instituições falidas. Não fazem jus aos impostos que pagamos. Minha esperança de encontrar Lucas está na Sociedade, está nas minhas preces.

Eu não acredito nas instituições. Um país onde os líderes políticos, os líderes empresariais estão presos ou sendo processados e o povo vive num lamaçal incomensurável de propinas, injustiças, hospitais fechando as portas, tráfico e insegurança aumentando de forma exponencial, qual a esperança que devo ter nas instituições para encontrar meu filho.

SCA - Considerações finais

Antonio Carlos - Volto a repetir. Eu vou encontrar meu filho, mas não com ajuda da polícia, mas sim com ajuda de pessoas de boa índole e de minhas preces.

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