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quinta, 06 de fevereiro de 2025
História

"São-carlense" Ernesto Sousa Campos foi fundador da USP e ministro da Educação

Ex-ministro da Educação, professor que passou boa parte de sua vida em São Carlos grande trabalho em prol do ensino superior no Brasil

04 Fev 2025 - 10h46Por Marco Rogério
Ernesto de Souza Campos em várias fases da vida: o grande idealizador das universidades brasileiras - Crédito: divulgação/USPErnesto de Souza Campos em várias fases da vida: o grande idealizador das universidades brasileiras - Crédito: divulgação/USP

Praticamente um são-carlense, Ernesto de Souza Campos, tem seu nome diretamente ligada as principais universidades do Brasil, como USP, UNICAMP E UNESP, além de outras oito universidades federais.  Ele passou a infância na Fazenda Santa Maria do Monjolinho, em São Carlos.
Por ser um homem tímido e avesso à política, sua saga é ainda pouco conhecida. “Ele era meu tio-avô e morou aqui na fazenda durante mais de dez anos. Nosso objetivo com o livro é divulgar mais o trabalho deste homem que dedicou toda sua vida à educação”, ressalta o engenheiro agrônomo e fazendeiro Décio Malta Campos.

Cândido era o irmão mais velho da família com 27 anos e Ernesto era o caçula com dez anos quando vieram para São Carlos em 1904. O pai de Cândido era médico em Campinas. Curiosamente ele foi a primeira pessoa nascida em Campinas que formou-se em Medicina. Cândido comprou a Fazenda Santa Maria porque iria casar com uma jovem que era filha de Procópio de Toledo Malta, então um industrial paulistano muito rico. “Ele não permitia que a filha se casasse com um homem simples, sem recursos”, explica Décio Malta Campos.

Segundo o fazendeiro, o pai da moça ofereceu a possibilidade a Cândido comprar a fazenda. “Ele financiou o Cândido para comprar uma fazenda de café. “Tornou-se fazendeiro de café, casou-se com a filha do industrial e vieram morar na Santa Maria, em São Carlos. O Ernesto, irmão caçula veio morar aqui também, onde ficou até os 20 anos. Depois disso ele foi para são Paulo e concluiu a Escola Politécnica, de onde saiu Engenheiro Civil. Não exerceu a profissão por muito tempo e ingressou na Escola de Medicina. Tornou-se professor de Medicina na área de Microbiologia, que era um área completamente nova para a época”, conta Décio.

Ernesto, como professor, em 1928, conseguiu construir em São Paulo os prédios que ainda hoje abrigam a Escola de Medicina. O Estado tinha quatro escolas isoladas na época: a Politécnica, a de Direito (São Francisco), a de Medicina, que ficava na Vila Buarque e a Luís de Queiroz, em Piracicaba. A escola de Medicina tinha quatro prédios alugados na Vila Buarque para tocar a Medicina.

Em 1934 Ernesto assume a diretoria da Faculdade de Medicina. Neste cargo conseguiu convencer o governador Campos Sales de Oliveira para que juntasse estas escolas a uma nova escola de Filosofia e criasse uma universidade, que seria a USP. Então, era Ernesto de Souza Campos o elemento aglutinador que tinha ideias e tomava as iniciativas para o nascimento da USP.

Porém, à época o mérito foi todo para Armando Sales de Oliveira. Isso ocorreu porque devido à Revolução Constitucionalista de 1932, o presidente Getúlio Vargas estava de pirraça com o Estado de São Paulo. Dentro deste clima não queria uma universidade em São Paulo. Então, para Armando Sales de Oliveira aceitar a implantação da USP foi preciso muita pressão de Ernesto de Souza Campos.
Com a criação da USP, Ernesto assume a cadeira de professor de Microbiologia. Em 1939, Fleming acabava de descobrir a Penicilina, nos Estados Unidos, como remédio para combater micróbios. Nesta época Ernesto parte para os EUA, onde ficou um ano e meio estudando este tema. Na volta, os norte-americanos interessados em agradar o Brasil liberaram uma generosa verba para a USP, com a qual a universidade construiu o Hospital das Clínicas, que é projeto do Ernesto, e até hoje é o maior hospital do Brasil.


A escrivaninha e os materiais que Ernesto quando morava na Fazenda Santa Maria do Monjolinho, em São Carlos - Foto Divulgação

AS ORIGENS

Nasce a Escola de Engenharia de São Carlos

Em 1950, Ernesto Sousa Campos trouxe para São Carlos a Escola de Engenharia. O trabalho foi todo de bastidores e não está nos livros. Em 1947 havia uma campanha para eleição de governador e Adhemar de Barros era candidato. Ele fazia discurso nas cidades maiores. Pedia votos em São Paulo e prometia uma universidade.

“Havia uma onda na política sobre implantação de universidades. Nesta época havia um deputado estadual muito combativo que se chamava Miguel Petrilli. Ele era nascido em São Carlos, mas foi eleito por Ri beirão Preto, onde fazia corretagem. Ele ajudou muito a região e falava muito em universidade”, conta o fazendeiro Décio Malta Campos

Segundo ele, alguns jornais também reivindicavam e todos achavam muito fácil implantar curso superior. Quando Adhemar de Barros é substituído no governo paulista por Lucas Garcez, há uma grande pressão para criação de cursos superiores no interior. O novo governador foi ouvir o professor Ernesto sobre o tema e este lhe indicou a criação de duas novas escolas ligadas à USP. Assim ele, Garcez, indicou uma Escola de Engenharia para Campinas e outra de Medicina para Ribeirão Preto.

“Mas Ernesto não gostou da indicação de Campinas, que estava muito próxima de São Paulo. Ele argumentou que mais ao interior não havia nada em termos de cursos superiores e indicou São Carlos, onde já havia morado. Assim começou a campanha em prol de São Carlos. Miguel Petrilli pediu para o governador montar as escolas em Ribeirão e São Carlos, mas o governador resistia. O filho do Cândido, que era sobrinho do Ernesto, tinha estudado juntamente com Lucas Garcez desde o primário até o colegial na mesma classe. Ambos tinham uma forte amizade. O filho do Cândido, Doca, foi então, ao governador para tirar Campinas da jogada e incluir São Carlos. Garcez disse que só faria tal mudança com apoio da Assembleia Legislativa, que teve a articulação comandada por Miguel Petrilli.  Assim nasceu a Escola de Engenharia de São Carlos, que foi implantada por Theodureto Souto, que havia sido colega de escola de Ernesto.

No final do mandato de Garcez, o mundo político de Campinas exigia a implantação de alguma escola pública de ensino superior. O governador recorreu a Ernesto e pediu sua opinião. E o professor sugeriu a implantação de uma universidade em Campinas. Além disso, se propôs a fazer o projeto das construções e propôs o nome de Zeferino Vaz, que havia acabado de implantar a Escola de Medicina da USP em Ribeirão Preto. “A Unicamp só existe porque São Carlos tem a Escola de Engenharia. São fatos curiosos que não vão para jornais e que ocorreram nos bastidores”, conta Décio Malta Campos.

Em 1953, Ernesto consegue ainda a criação de mais quatro Escolas de Ensino Superior no Interior Paulista. Criou a Escola de Geologia em Rio Claro, a Escola de Química de Araraquara, a Escola de Odontologia em Bauru em uma Escola de Medicina em Bauru.  “Após isso surgiram outras escolas que se somaram com outras novas e formaram, anos depois, a UNESP”.

Dois anos depois, Ernesto torna-se ministro de Educação do presidente Eurico Gaspar Dutra, quando cria 8 universidades federais.  Em 1957 e4le consegue um terreno perto do Butantã em São Paulo e cria a Cidade Universitária. Ele recebeu 18 prêmios honoris causa no Brasil e em outros países e também possibilitou a implantação da primeira fábrica de penicilina no Brasil.  Todos os títulos, acervo e medalhas de Ernesto Souza Campos estão na Fazenda Santa Maria Monjolinho.

Dr. Ernesto salvou a vida do Sobrinho Décio

Quando tinha 3 anos, Décio Malta Campos teve a vida salva pelo seu tio-avô.  Então com 3 anos, foi acometido por uma infecção de peritônio, que se chamava peritonite.  Os médicos o desenganaram e disseram que ele e morreria em 3 dias.  Seu pai, desesperado, chamou Dr. Ernesto que disse que iria salvar o menino.  Ele fez um dreno onde a purgação saía. Ele tirou o este elemento cheio de bactérias, diluía na água e injetava no seu pai, que recebia então milhares de bactérias e ficava com febre alta durante todo o dia. Depois Ernesto tirava o sangue do pai e injetava no filho. Durante seis meses este procedimento foi feito e curou Décio da doença que até então era incurável.  Assim, Décio chegou aos 87 anos.

Biografia

UMA HISTÓRIA RICA E QUASE DESCONHECIDA

Ernesto de Sousa Campos nasceu em Campinas (SP) no dia 21 de setembro de 1882, filho de Antônio de Sousa Campos, senador do Império, e de Rosa Cândida Bittencourt de Sousa Campos. Era descendente de uma família tradicional cujas origens remontam à época da colonização do território paulista.

Fez seus estudos iniciais no Colégio Americano, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, bacharelando-se no ano de 1906 em engenharia pela Escola Politécnica de São Paulo. Cursou mais tarde a Faculdade de Medicina de São Paulo, por onde se formou em 1919,
Em janeiro de 1946, no início do governo de Eurico Gaspar Dutra, eleito no ano anterior com o apoio da coligação formada pelo Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Sousa Campos foi nomeado ministro da Educação e Saúde. Sousa Campos atuou também na área diplomática, exercendo as funções de embaixador especial do Brasil na Colômbia, no Equador, no Chile, na Argentina e no Uruguai. Foi membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, além de presidente do Pen Club de São Paulo. Faleceu na capital paulista no dia 1º de janeiro de 1970. Era casado com Celestina Brito de Sousa Campos, com quem teve cinco filhos.

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