quinta, 25 de abril de 2024
Infectologista alerta

Resultados do Testar para Cuidar mostram que ainda não é hora de relaxar em São Carlos

Carolina Toniolo Zenatti, coordenadora do Sciras da Santa Casa e do mapeamento disse que distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos ainda precisam ser mantidos

31 Ago 2020 - 07h32Por Marcos Escrivani
Carolina Zenatti, infectologista da Santa Casa e uma das coordenadoras do Testar para Cuidar durante apresentação dos resultados finais do Programa de Mapeamento - Crédito: DivulgaçãoCarolina Zenatti, infectologista da Santa Casa e uma das coordenadoras do Testar para Cuidar durante apresentação dos resultados finais do Programa de Mapeamento - Crédito: Divulgação

Recentemente, no auditório do Paço Municipal, uma entrevista coletiva com médicos e pesquisadores que integram o Testar Para Cuidar – Programa de Mapeamento da Covid-19 em São Carlos, revelou os dados de quatro etapas de entrevistas que abrangeram 3,9 mil famílias.

Testar Para Cuidar Programa mapeia Covid-19 em São Carlos

A meta do programa foi de compilar dados para analisar a prevalência e a letalidade do novo coronavírus na cidade e iniciativas que devem ser tomadas no sentido de orientar a população e consequentemente não colapsar o sistema de saúde de São Carlos.

Pós-programa de mapeamento, a infectologista e coordenadora do SCIRAS (Serviço de Controle de Infecção Relacionada à Assistência em Saúde) da Santa Casa de São Carlos e uma das coordenadoras do Testar Para Cuidar, Carolina Toniolo Zenatti, com exclusividade, concedeu uma entrevista ao São Carlos Agora e alertou: ainda não é momento de relaxarmos quanto aos cuidados para se evitar a contaminação.  “Devemos ter atenção ao fato de que ainda há muita gente suscetível no município. O número de casos diários segue estável, bem como a taxa de letalidade, e isso é resultado do trabalho de vigilância epidemiológica que o município desenvolve, em parceria com a atenção primária em saúde. Porém, um dos grandes desafios dessa pandemia é a globalização e a facilidade de ir e vir. São Carlos não é uma cidade isolada”, afirmou.

Segundo a infectologista, o mapeamento que atingiu vários bairros de São Carlos, que foi dividida em 19 setores, previa testar até 5,6 mil pessoas nas quatro etapas e teve adesão de 70% delas, totalizando 3.914 entrevistados. Após os dados analisados, a estimativa é de que 2,7% da população tiveram o Sars-Cov-2.

“Esse resultado traduz o esforço não só das entidades governamentais e de saúde da cidade, mas principalmente de toda a população em seguir as recomendações de isolamento e distanciamento social”, elogiou.

Porém, Carolina Zenatti disse que a situação atual é de total anormalidade pela presença de um vírus desconhecido e pelo sistema imune. Para ela, uma normalidade só será retomada quando tiver uma vacina que consiga garantir imunidade de forma eficiente e a infecção deixe então de ser pandêmica. “Esse momento vai chegar, mas para isso cada um deve fazer sua parte”, relatou, ao se referir aos protocolos de segurança, como uso constante de máscaras, álcool em gel e distanciamento no sentido de evitar aglomerações.

A ENTREVISTA

A seguir, a entrevista exclusiva que Carolina Zenatti concedeu ao SCA:

São Carlos Agora - O Testar Para Cuidar – Programa de Mapeamento da Covid-19 em São Carlos foi criado quando? Como foram definidos os integrantes do grupo?

Carolina Toniolo Zenatti - O Testar para Cuidar foi idealizado pelo professor Jorge Oishi junto com outros cidadãos de São Carlos que estavam preocupados com a evolução da pandemia na cidade. Sabendo que a Covid-19 pode se apresentar de forma assintomática ou oligossintomática (sintomas leves) em até 80% das pessoas, um estudo de prevalência permite conhecer a real situação da doença no munícipio e assim tratar as estratégias de combate de forma mais eficiente. O estudo reuniu profissionais de saúde e pesquisadores da Santa Casa de São Carlos, Hospital Universitário, UFSCar, Statsol e Prefeitura Municipal que se interessaram em desenvolver um projeto dessa magnitude.

S.C.A. - O programa em questão, após quatro etapas, atendeu plenamente às expectativas? Após compilados os dados, que tipo de estratégia será montada para o combate ao Sars-Cov-2?

Carolina Zenatti - O programa previa testar até 5,6 mil pessoas nas quatro etapas e teve adesão de 70% delas, totalizando 3.914 entrevistados. Essa participação tem elevada significância estatística e permite que os dados encontrados sejam generalizados para toda a população com confiança. Assim, a compilação dos dados permite entender qual a real prevalência e letalidade da Covid-19 no município de São Carlos, qual a velocidade de disseminação da doença e quais as regiões da cidade com maior número de infectados. Informações sobre hábitos de higiene, adesão ao uso de máscara e isolamento social também foram obtidas.

SCA - Em um universo de 3,9 mil famílias visitadas, após os resultados finais, tem como mensurar de fato, que as expectativas foram atingidas? Com base nos números, têm de fato, como a pandemia atingiu São Carlos?

Carolina Zenatti - O universo testado é representativo e na última etapa concluímos que menos de 2,7% da população já teve contato com o vírus. Esse resultado traduz o esforço não só das entidades governamentais e de saúde da cidade, mas principalmente de toda a população em seguir as recomendações de isolamento e distanciamento social. As pessoas na cidade estão entrando em contato com o vírus de forma gradual, permitindo que o sistema de saúde dê conta de atender todos aqueles que necessitem de atendimento. Tanto que, em nenhum momento, faltaram leitos de UTI ou de enfermaria para quem precisou de internação. Por outro lado, ainda a maior parte da população é suscetível e deve manter os cuidados para evitar adoecer. Isso significa que as pessoas devem evitar sair de casa. E se essa saída for necessária, precisa usar as máscaras, fazer a higiene das mãos e manter o distanciamento social mínimo.

SCA - Pode-se se dizer que, após cinco meses de pandemia na cidade, a infecção está sob controle? Estaríamos ainda em uma fase ascendente, platô ou descendente?

Carolina Zenatti - Não. A doença não está sob controle e devemos ter atenção ao fato de que ainda há muita gente suscetível no município. O número de casos diários segue estável, bem como a taxa de letalidade, e isso é resultado do trabalho de vigilância epidemiológica que o município desenvolve, em parceria com a atenção primaria em saúde. Porém, um dos grandes desafios dessa pandemia é a globalização e a facilidade de ir e vir. São Carlos não é uma cidade isolada, recebe muitas pessoas naturais de outras cidades que trabalham, estudam ou até mesmo vem a veraneio para cá. Estamos cercados por cidades que vivenciaram o caos e a falta de leitos e, além disso, somos a referência em saúde para municípios menores da região. É muito arriscado e precoce se animar com esses dados, porque tudo pode mudar rapidamente.

SCA - Com as quatro etapas concluídas do Testar Para Cuidar, quais são os próximos passos?

Carolina Zenatti - As próximas etapas são organizadas em continuar testando e cuidando. Vamos continuar a realizar testes sorológicos na população. No entanto, isso agora vai ser feito de forma contínua e descentralizada, contando com o apoio das unidades básicas de saúde e unidades de saúde da família. Além disso, desenvolveremos junto com as entidades responsáveis, estratégias para dar suporte às áreas mais críticas identificadas no estudo.

SCA - Independentemente dos resultados, este grupo de pesquisadores e médicos irão lançar algum projeto para que continue a orientar a população para que tenha cuidados quanto aos protocolos de segurança e tentar fazer com que os desobedientes acreditem na Covid-19?

Carolina Zenatti - Na minha opinião, os bons resultados que obtivemos na cidade até então, foram graças à união de forças do poder público, privado e dos órgãos de governo. Em todos os momentos que conseguimos nos unir, temos sucesso. Porém, existem outros fatores que fazem a população relaxar e se descuidar e estamos atentos a eles para conseguir desenvolver estratégias de conscientização.

SCA - Para você, como será o “novo normal”? Ele demorará muito a chegar? O que será necessário para que as pessoas possam ter uma vida sem receios quanto a esta infecção?

Carolina Zenatti - Não acredito em um “novo normal”. Não acho normal não poder abraçar, beijar as pessoas ou circular por aí de forma livre. Estamos vivendo uma situação de total anormalidade pela presença de um vírus desconhecido por nós e pelo nosso sistema imune. A normalidade só será retomada quando tivermos uma vacina que consiga garantir essa imunidade de forma eficiente e a doença deixe então de ser pandêmica. Esse momento vai chegar, mas para isso cada um deve fazer sua parte. 

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