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Pesquisadores da UFSCar desenvolvem proteína alimentícia com bagaço da cana-de-açúcar

13 Out 2016 - 06h03Por Redação
Foto: Divulgação - Foto: Divulgação -

O professor Octavio Antonio Valsechi, do Departamento de Tecnologia Agroindustrial e Socioeconomia Rural (DTAiSeR), do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e a aluna do segundo ano do curso de Biotecnologia, Júlia Gandolphi, desenvolveram inovadoras cápsulas de proteína extraídas da cana-de-açúcar. O produto é feito a partir do bagaço da cana, de onde são introduzidos microrganismos que aumentam o seu teor proteico, fazendo com que possa ser utilizado como suplemento alimentar. "Inoculamos um fungo no bagaço que, por ser um microrganismo que consome produtos lignocelulósicos, os transforma e os armazena na forma de proteína", explica o docente. Valsechi conta que o diferencial da tecnologia é que as cápsulas podem ser consumidas por pessoas com intolerância à lactose justamente devido ao fato de derivar de microrganismos cultivados em bagaço de cana.

Os pesquisadores lembram que a ideia inicial do estudo foi de sua colega de pesquisa, a professora Dejanira de Franceschi de Angelis, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), que inicialmente visava utilizar o bagaço da cana como suplemento proteico na ração animal, já que, quando esse bagaço é tratado com os microrganismos, a lignina e a celulose são degradadas ao mesmo tempo, tendo o teor de proteína elevado. "Avançamos nessa ideia e criamos cápsulas que podem ser consumidas por humanos. Com isso, conseguimos transformar o bagaço em um produto com muito valor agregado, tendo em vista que a proteína tem diversas funções benéficas para o organismo, já que faz parte da constituição, intelecto, saúde, dentre outros. Além de ser um produto com alto teor proteico, o produto contém ainda uma série de aminoácidos e betaglucana, que é um anticancerígeno natural", afirma o docente. Esse produto final, portanto, é proteico, nutritivo, isento de lactose e que pode ser consumido in natura, já que é um fungo, ou desidratado, moído e encapsulado.

Agora, os pesquisadores estão testando os produtos para acelerar a produção das cápsulas. Segundo a aluna Júlia, os próximos passos com a pesquisa envolvem a viabilização para a comercialização do produto. "A ideia é conseguir um investimento para poder colocá-lo no mercado. Como o projeto foi apresentado na Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética (FENASUCRO) deste ano, que aconteceu em Sertãozinho, já percebemos, em contato com o público, que há um grande interesse no produto. A ideia, portanto, é continuar com os estudos no escopo do projeto, visando melhorias e, ainda, descobrir mais benefícios nessas cápsulas e poder comercializá-las e torná-las disponíveis à sociedade", ressalta.

CAPACITAÇÃO EM BENEFÍCIO DA SOCIEDADE

Segundo Valsechi, o Campus Araras da UFSCar encampou o berço do Proálcool e é referência mundial no setor sucroenergético. Isso ocorre devido ao seu pioneirismo na área, especialmente com a criação de cursos, capacitação de alunos e com o estabelecimento de netwoking entre os participantes. "O próprio projeto que transforma o bagaço da cana em proteína alimentícia é fruto das aulas de nosso Master of Technology Administration (MTA), primeiro programa de pós-graduação lato sensu brasileiro e único no mundo em Gestão Industrial Sucroenergética. Percebemos que ideias práticas e benéficas à sociedade como esta surgem de muito estudo e contato entre pesquisadores e profissionais da área", ressalta o docente.

A aluna Júlia, que cursa Biotecnologia, acredita que seu envolvimento com pesquisa aplicada - que se transformou em um projeto de iniciação científica - está sendo muito benéfico. "Ter a experiência de utilizar os conhecimentos que adquiri em sala de aula para trabalhar com algo que gosto, um projeto inovador e de uso prático, além de aprender muito, é gratificante. O trabalho com esse projeto me mostrou com o que eu realmente quero trabalhar e que rumo dentro da minha profissão eu quero seguir".

Valsechi ressalta ainda que muitos produtos estão por vir, como é o exemplo de ômega 3 a partir da vinhaça e também ácido cítrico a partir de bagaço da cana-de-açúcar, entre outros. "A cadeia sucroenergética não é somente açúcar, bioetanol e bioeletricidade. É muito mais que isto, e nós abordamos estas várias utilidades", finaliza.

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