
O historiador, professor e escritor Ney Vilela afirma que legado do Papa Francisco é a defesa dos mais necessitados, da natureza e da paz. Ele ressalta que tal postura ficou clara a partir do momento em que assumiu o nome de “Francisco” em homenagem a São Francisco de Assis. Por outro lado, na contramão do que afirmam muitos analistas, Vilela aponta Papa Francisco como um “conservador”, mas destaca que este termo tem que ser utilizado fora da política partidária e da ideologia política.
Segundo Vilela, o Papa Francisco era uma pessoa, que da mesma forma que João Paulo II, nós chamaríamos de ‘conservadora em vários aspectos’. “Mas uma pessoa ‘conservadora’ naquilo que chamamos politicamente de ‘conservador’. E aí, a grande questão é que não se pode usar terminologias como ‘direita’, ‘esquerda’, ‘conservador’ e ‘progressista’ quando nós falamos da igreja. A igreja não se pauta por esta dicotomia, embora em muitos momentos pareça que é assim”, explica.
Segundo ele, o Papa Francisco foi eleito, inclusive, durante um conclave onde se buscava uma alternativa relativamente conservadora para continuar o que estava sendo pelo Papa Bento XVI, que abdicou por doença. “Pois bem! O Papa Francisco é conservador dentro de uma igreja que começou entre os pobres e os marginalizados, entre os sofredores e entre aqueles que eram oprimidos por um império autocrático e violento. O Papa Francisco, em todos os momentos do seu pontificado, ele recuperou esta característica da igreja, lá do comecinho. O Papa Francisco, que era jesuíta, de um ordem que sempre se preocpuou88 com obedi~encia, que [é a principal característica dos jesuítas. O Papa Francisco escolheu o seu nome, como nome de Papa, a partir de São Francisco de Assis, que sempre se preocupou com os humildes e com a natureza. Neste sentido, independentemente de quaisquer falhas típicas da nossa condição humana, o Papa Francisco foi o Papa dos humildes, o Papa da Natureza e o Papa da Paz”, reflete ele.

O FUTURO DA IGREJA – Vilela aposta que Papa Francisco deixou um legado à prova de retrocessos. “Sou historiador e olho muito para trás. Mas há uma definição de história que a caracteriza como ‘um profeta que olha para trás’. Vendo o que foi sabe o que virá. Quem falou isso foi Eduardo Galeano. Então, olhando para os 12 anos do que foi o pontificado do Papa Francisco, eu diria que tudo o que foi feito, ou quase tudo, não tem retorno. Não haverá possibilidade maior de se voltar atrás com relação à aproximação da igreja com a situação da mulher, não haverá possiblidade de retornar para uma posição despreocupada com os humildes, o explorado e o marginalizado”.
A igreja, a partir do legado do Papa Francisco, segundo o historiador, deverá seguir firmemente em favor da paz, coisa que outros papas anteriores não fizeram com firmeza. Eu até diria que João Paulo II foi o último fruto da Guerra Fria. “O Papa Francisco, para a igreja, fez as inflexões que a igreja precisava fazer e o que talvez não seja fácil, mas isso é uma torcida, é que o Papa Francisco deixe como herança a busca do humilde e do explorado não só a partir do Papa, mas dos cardeais, dos bispos, dos diáconos, dos freis e dos monges. É algo no qual a Igreja Católica precisa pensar”, conclui.