sexta, 29 de março de 2024
“Minha vida é andar por este país”...

Mamães caminhoneiras de São Carlos ‘cortam’ o Brasil, mas com o coração em casa

Luciana e Cristiane dirigem carretas e além de rainhas do asfalto, são as rainhas do lares; na semana do Dia das Mães, homenagem do SCA

05 Mai 2021 - 15h44Por Marcos Escrivani
Mamães caminhoneiras de São Carlos: exemplos de superação e garra. Dirigem brutos, mas com muito amor e carinho - Crédito: arquivo pessoalMamães caminhoneiras de São Carlos: exemplos de superação e garra. Dirigem brutos, mas com muito amor e carinho - Crédito: arquivo pessoal

“A Vida do Viajante” (* Letra da música no final do texto). Um forró pra lá de arretado de Gonzaguinha (cantada em parceria com o pai Luiz Gonzaga) mas que cai como uma luva para quatro caminhoneiras de São Carlos. São as “brutas” do asfalto e duas delas, o São Carlos Agora localizou para buscar retratar a árdua batalha de donas de casa que comandam pesados veículos em rodovias brasileiras.

O que ambas têm em comum? São mamães. Porque entrevista-las? Esta é a semana que antecede o Dia das Mães. Portanto, além de rainhas dos lares, elas também acumulam o dom de rainhas do asfalto. Ambas são filiadas na Coopertransc, de São Carlos.

Assim é o dia a dia de Luciana Crisóstomo de Souza, 41 anos e de Cristiane Malerva, 40 anos. Caminhoneiras, são exemplos raros de mulheres que pegam no pesado e mostram o quanto são valorosas nos seus afazeres. Profissionais do volante, transportam a “linha branca” para rincões brasileiros e levam a esperança de dias melhores.

O SCA entrevistou as “brutas” do asfalto. Na verdade, “brutas” apenas na denominação, uma vez que são simpáticas pessoas que trabalham pesado para garantir o sustento dos seus lares.

PRÉDIO DE 10 ANDARES?

Imagina um bitrem de 30 metros e 30 toneladas. Um caminhão trator e duas carretas. O equivalente a um prédio de 10 andares. Pois bem! Esta é a Scania 2012 de Luciana, mãe de Manoela, de 13 anos e Vinícius, 22 anos. E um detalhe bem chamativo: o veículo é rosa (“Não me provoque... É cor de rosa-choque”, diria Rita Lee, roqueira brasileira).

Moradora na Redenção, Luciana dirige carretas há 7 anos e já visitou muitos estados brasileiros, sempre transportando a linha branca produzida pela Electrolux. “Dirigir caminhão está no sangue. Meu pai (José Cristóvão) e meus irmãos (Rafael e Riken) também são caminhoneiros”, conta, afirmando que é mais fácil dirigir o “bruto” nas rodovias brasileiras do que nas cidades. “O bicho é grande demais”, diz, sorrindo.

Luciana conta que chegou a ficar mais de 30 dias longe de casa a trabalho. “A saudade dói. Mas temos que buscar nosso ganha pão”. Porém indagada sobre a vaidade feminina, não ficou em cima do muro. “Não sou bruta não. Apenas dirijo. Antes de ser caminhoneira, não era tão detalhista. Agora, quando a gente cria a idade, fica muito mais vaidosa. Faço as unhas, me cuido muito”.

Outro questionamento foi quanto a cor rosa no caminhão. “É um toque feminino, uma característica que adoro muuuuuiiitttooo”, frisou. “Não é só o caminhão. As carretas também tem detalhes em rosa. Adoro essa cor”.

Por fim, sobre o perigo das estradas, Luciana disse que toma todos os cuidados. “Rezo, confio em Deus e acelero. Cumpro minha jornada e peço a Ele que me oriente e cuide do meu lar”.

MAMÃE CAMINHONEIRA - Luciana não sabe se irá passar o domingo, 9, dia das Mães em casa, ao lado de Manu e Vinícius. Mas lembra que também é filha, de ‘dona’ Isabel, que irá completar 60 anos. “Não sei dizer. Mas agradeço a Deus a família que tenho. Procurei ser uma boa filha e quero ser um exemplo de mãe e poder comemorar essa data por muitos anos”, finalizou.

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25 TONELADAS DE FELICIDADE E AMIZADE

Cristiane Malerva é esposa de Fernando Malerva. Ambos com 40 anos e pais de Bruno, 16 anos e Rebeca que completou 21 anos no dia 28 de abril. A família mora no Jardim Paulista, próximo ao Sesc São Carlos.

Há 15 anos, Cristiane tem como companheira de estrada uma amiga bem robusta, de 25 toneladas, responsável por parte de sua felicidade: Uma Scania 2010. Branca como uma nuvem.

A exemplo de Luciana, já chegou a ficar um mês pelas estradas brasileiras. O interessante é que o marido também tem a mesma profissão. “A gente se vê mais na estrada do que propriamente em casa”, brinca.

Realizada por ser uma profissional do volante, Cristiane garante que é uma motorista. “Por onde passo, recebo elogios e sou parabenizada. Mas não nego que também já recebi algumas críticas, pois esta profissão carrega uma certa dose de machismo. Nestes anos passei por momentos constrangedores, mas prefiro nem comentar”, disse, salientando que sua preocupação são os perigos que as estradas brasileiras reservam. “Por isso dirijo sempre atenta. Não nego que muitas vezes sinto medo e quando paro para repousar é em locais onde sinto que existe segurança”, relatou.

UM DIA ESPECIAL – No domingo, 9, dia das Mães, Cristiane tem a convicção que irá receber beijos e abraços de Rebeca e Bruno. Mas também quer demonstrar o carinho para a sua mãe, Maura, de 60 anos. “Dia das Mães é sinônimo de superação, de amor, paciência, acolhimento. Por isso acredito ser um dia especial. Mas por causa da pandemia da Covid-19 vamos fazer tudo com muito cuidado, sem aglomeração”, afirmou, ponderada.

FAMÍLIA CAMINHONEIRA – Cristiane lembra que, quando criança, passeava em um Mercedão 1519 azul, dirigido pelo titio Augustinho, hoje com 72 anos e internado com problemas de saúde. “Rezo para que ele melhore. Se sou caminhoneira, é em homenagem a ele. Lembro dos dias felizes quando ele me levava para passear”, diz, saudosista.

Quando jovem, lembra que começou a namorar Fernando (com quem se casou). “Ele tinha tios e avôs que eram caminhoneiros. Mas ele não era. Porém, avançou o sinal e nos casamos”, afirmou com felicidade. “Com a aliança nos dedos, abraçou a causa e como eu, foi para a estrada. Agora somos um casal caminhoneiro”, finalizou.

(*) A VIDA DO VIAJANTE

“Minha vida é andar por esse país

Pra ver se um dia descanso feliz

Guardando as recordações das terras onde passei

Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei

Chuva e sol, poeira e carvão

Longe de casa, sigo o roteiro

Mais uma estação

E alegria no coração

Êh, saudade!

Minha vida é andar por esse país

Pra ver se um dia descanso feliz

Guardando as recordações das terras onde passei

Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei

Mar e terra, inverno e verão

Mostro o sorriso, mostro alegria

Mas eu mesmo, não

E a saudade no coração”

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