Aprendizagem e gestão de tecnologia, formação de professores, produção de materiais didáticos e conteúdos inovadores foram os principais temas debatidos por especialistas do Brasil e do mundo durante os Congresso Internacional de Educação e Tecnologias e Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância (CIET:EnPED:2018), promovidos pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os eventos foram organizados em duas etapas, uma virtual e outra presencial.
A etapa presencial ocorreu entre 11 e 13 de julho no Campus São Carlos da UFSCar, com mesas-redondas que abriram espaço para diversas experiências e debates sobre os desafios das práticas de ensino mediadas pelas tecnologias digitais de informação e comunicação. Já a etapa virtual (que antecedeu o encontro em São Carlos) foi realizada no período de 26 de junho a 13 de julho, em horários livres e flexíveis, com interações entre participantes e especialistas em ambiente online. "O evento contou com participantes de todos os Estados do Brasil e, também, de outras partes do mundo, como Colômbia, Argentina, Portugal e Espanha. Ao todo, foram 1.750 participantes, sendo 1.250 na etapa virtual e 500 na etapa presencial", comemorou Daniel Mill, professor do Departamento de Educação (DEd) da UFSCar e Presidente da comissão organizadora do evento.
Além das mesas-redondas, minicursos e apresentações de trabalhos, também integraram a programação lançamentos de livros e atrações culturais. Entre vários outros assuntos, foram debatidos estudos sobre produção de material didático, formação de professores para o uso de tecnologias, plataformas didáticas digitais, tutoria e mediação pedagógica, métodos avaliativos, metodologias ativas, jogos e aplicativos para a educação etc. Na etapa virtual, foram 490 apresentações de pesquisas e, na presencial, 298 trabalhos apresentados.
"O evento tem crescido a cada edição. Esta é a quarta vez que realizamos e temos mais participantes e mais pesquisas apresentadas. A temática, antes, era focada na Educação a Distância; hoje já tratamos do tema mais geral - Educação e Tecnologias -, em sintonia com o que ocorre com a Educação atualmente. A EaD deixou de ser novidade e é mais interessante pensarmos na educação como um todo, mediada pelas tecnologias, independentemente de ser a distância ou presencial", afirmou Glauber Lúcio Alves Santiago, professor do Departamento de Artes e Comunicação (DAC) da UFSCar e um dos organizadores do evento.
"Os desafios debatidos não são só referentes à EaD, são também da educação presencial", analisou, durante o evento, a docente Marilde Terezinha Prado Santos, dirigente da Secretaria Geral de Educação a Distância (SEaD) da UFSCar e integrante da comissão organizadora. "Creio que todas as palestras apresentadas no CIET:EnPED:2018 foram excelentes tanto para a modalidade EaD quanto para a modalidade presencial", complementou Maria Angélica Zanotto, Coordenadora de Processos de Ensino-Aprendizagem da SEaD.
"Já é consenso que não há mais essa divisória entre as modalidades", afirmou Zanotto, fazendo referência à fala da professora Sara Dias Trindade, da Universidade de Coimbra (Portugal), que não vê diferenças entre o ensino virtual e o presencial. "Eu vejo momentos em que um ou outro favorece a aprendizagem de nossos alunos", afirmou ela. Trindade fez eco a outros conferencistas ao questionar a proibição do celular em sala de aula: "Como eu vou fazer isso? Os alunos são nômades digitais, estão acostumados a buscar informações em alta velocidade". E completou: "Hoje, o aluno consegue buscar uma informação como, por exemplo, a data de um acontecimento. Mas o professor precisa levá-lo a entender por que tal acontecimento ocorreu naquele momento. O foco é o aprendizado. O resto são estratégias", defendeu a pesquisadora portuguesa.
Além de apontar os desafios da educação mediada pelas tecnologias digitais, os conferencistas apresentaram soluções e estratégias concretas para viabilizar um ensino-aprendizagem mais eficiente. Foi o caso da professora aposentada da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Elisa Schlunzen. "Como sair da lógica da virtualização da sala de aula, onde o aluno fica apenas recebendo informação? Como vamos mudar o paradigma para que o foco não seja a tecnologia mas, sim, as pessoas?", questionou ela. "A educação tem que ser aberta, com uma prática centrada nos estudantes", respondeu. Para isso, ela orienta o professor a fazer um diagnóstico dos interesses e linguagens dos estudantes. "O que você faz de melhor e como você aprende? Essa é a pergunta básica que faço para o meu aluno para entender como ele aprende e, a partir daí, usar diversos recursos para que ele consiga se expressar", destacou Schlunzen. Outro exemplo foi apresentado pela professora Daniela Will, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). "Na pós-graduação a distância da Unisul, por exemplo, não temos livros didáticos. Trabalhamos com textos, artigos, vídeos etc, que são atualizados a cada nova oferta. Assim, o docente tem papel mais ativo", disse Will, que também defendeu a necessidade da educação focar menos no conteúdo e mais na mediação professor-aluno.
LANÇAMENTOS
Um dos destaques do CIET:EnPED:2018 foi o lançamento do Dicionário Crítico de Educação e Tecnologias e Educação a Distância. "A ideia surgiu de uma inquietação pessoal, da necessidade de dar nome às 'coisas', considerando que alguns conceitos da área ainda precisavam ser detalhados", explicou o professor Daniel Mill, organizador do Dicionário. A obra contempla cerca de 200 verbetes, desenvolvidos por 198 autores, pesquisadores do Brasil e do exterior. "Nós chamamos carinhosamente de dicionário, mas se trata de uma enciclopédia. Foi fruto de reflexão, diálogo e interlocução", descreveu Vani Kenski, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e uma das autoras. Para Antônio Moreira, professor da Universidade Aberta (UAb) de Portugal, a obra é um instrumento importante para desbravar e trabalhar nessa área e colabora para esclarecer algumas confusões conceituais, como, por exemplo, as diferenças entre os termos "e-learning" e "educação a distância".
Também marcou a programação o lançamento do Portal de Cursos Abertos da UFSCar (PoCA, disponível em poca.ufscar.br), no qual é possível fazer cursos, com certificação, e do Inovaeh (http://inovaeh.sead.ufscar.br/), um espaço de cursos e materiais sobre abordagens híbridas e práticas pedagógicas apoiadas em tecnologias digitais de informação e comunicação. Com interfaces simples e atrativas, os dois ambientes já estão acessíveis ao público interessado.
O CIET:EnPED é organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Inovação em Educação, Tecnologias e Linguagens (Horizonte) e pela SEaD, ambos da UFSCar. Para assistir às mesas-redondas do evento, acesse o canal da SEaD no Youtube (youtube.com/SEaDUFSCar). Confira também a cobertura realizada pela TV UFSCar (https://bit.ly/2LnhPZO).