
Indicadores apresentados no estudo “O desafio do setor automotivo no Estado de São Paulo”, da Fundação Seade, mostram que mesmo diante de diversas transformações pelas quais passa o setor automotivo global, a indústria paulista permanece liderando o segmento industrial de automóveis em participação no Valor de Transformação Industrial (VTI) nacional. De acordo com a Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE, essa participação apresentou crescimento nos últimos dez anos, passando de 51,2%, em 2012, para 54,4% em 2022, retomando o patamar registrado em 2007.
Essa recente ampliação da participação do VTI do setor automotivo paulista no VTI nacional mostra a melhora da relação entre o Valor de Transformação Industrial (VTI) e o Valor Bruto da Produção (VBP) desse setor. Esse indicador, que mede a eficiência do valor agregado à produção industrial, havia registrado em 2020, durante a pandemia, o menor índice do Estado (26,1%), resultado das restrições na cadeia de suprimentos, que afetaram significativamente o setor automotivo paulista. A partir de 2021, contudo, esse indicador vem se recuperando, possivelmente refletindo condições mais favoráveis de produção no Estado de São Paulo, como a estabilização das cadeias de suprimento e a retomada da atividade econômica.
Contudo, a análise pontua que nesse mesmo período a participação da indústria automotiva entre as atividades que compõem o VTI estadual diminuiu, caindo da primeira posição (15,2%) em 2010 para a quarta posição (9,8%) em 2022, atrás dos setores de derivados de petróleo (16,8%), alimentos (15,4%) e química (12,7%). Essa mudança reflete uma redistribuição relativa no peso das atividades industriais em termos estaduais, mas, ainda assim, o Estado de São Paulo permanece como o principal polo automotivo do país.
Os autores destacam a liderança da China na produção mundial, impulsionada por avanços tecnológicos expressivos, especialmente no setor de veículos elétricos. Esse protagonismo tem redefinido a competitividade global, impactando a indústria automobilística no Brasil e no Estado de São Paulo, que busca atrair novos investimentos para o desenvolvimento de modelos híbridos flex mais eficientes do ponto de vista energético.
INVESTIMENTOS - Os autores do estudo observam que diante da necessidade de atender à demanda por tecnologias de transição, como os híbridos, que se adequam melhor às realidades de mercados emergentes, as montadoras estrangeiras, antes refratárias à produção local destes veículos, passaram a considerar a tecnologia do híbrido flex, especialmente no segundo semestre de 2024.
Essa tecnologia, que combina motores a combustão e elétricos, oferece uma solução prática e eficiente, garantindo maior autonomia, flexibilidade energética e custos mais acessíveis. Isto consolida o híbrido flex como uma alternativa estratégica para as montadoras atenderem às necessidades do mercado brasileiro, promovendo uma transição viável rumo à eletrificação e ampliando a competitividade do setor automotivo no país.
Para o período de 2021 a 2030, esses investimentos somam R$ 92,05 bilhões, dos quais 51% estão concentrados em montadoras localizadas no Estado de São Paulo. Entre as 11 montadoras estrangeiras atuantes no país, seis instaladas no parque automotivo paulista já demonstraram interesse na produção de veículos híbridos, buscando garantir, a partir do acesso aos incentivos fiscais, sua maior participação no mercado interno frente ao forte avanço do carro elétrico importado.
Nesse novo contexto, destacam os autores da pesquisa, o Estado de São Paulo tem um papel estratégico devido à relevância de seu parque industrial automotivo e à liderança na produção e inovação no desenvolvimento de biocombustíveis. Sua capacidade industrial e diversidade de fontes energéticas posicionam o Estado como um dos principais agentes na transição para tecnologias mais sustentáveis no setor automotivo.
O diretor regional do CIESP, Marcos Santos: Nos últimos anos, diversas iniciativas foram implementadas nesse sentido, com destaque para o programa Rota 2030, lançado em 2018
ESPECIALISTAS TÊM OPINIÕES DIVERGENTES - Para o diretor regional do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Marcos Henrique dos Santos, o resultado deste estudo reafirma a importância da indústria automobilística para a economia brasileira, especialmente para o estado de São Paulo. “Além disso, o estudo comprova que políticas de apoio à indústria geram resultados positivos. Nos últimos anos, diversas iniciativas foram implementadas nesse sentido, com destaque para o programa Rota 2030, lançado em 2018”, comenta;
Santos destaca que também é fundamental ressaltar a relevância da nossa região nesse setor, que abriga importantes players da indústria automotiva. Entre eles, destacam-se a fábrica de motores da Volkswagen, em São Carlos, e a unidade da Honda, em Itirapina. “Além dessas grandes montadoras, a região conta com um ecossistema de pequenas e médias indústrias fornecedoras de peças e serviços especializados, fortalecendo ainda mais o setor”, ressalta.
O economista Paulo Cereda é menos otimista. “Muito embora a notícia traz um motivo para o estado de São Paulo comemorar, quando olhamos o contexto global, não somente da indústria automotiva, mas todo a atividade industrial brasileira, temos mais motivos para preocupação do para comemoração”, reflete.
Ele lembra que a Asia tem assumido cada vez mais protagonismo na atividade industrial global por fazer a lição de casa. “Políticas integradas que vão desde a educação de qualidade preparando jovens para os desafios futuros, passando por investimentos focados no desenvolvimento da infraestrutura interna do país, tributação focada em dar competitividade para as empresas internas e constância de propósito, mantendo aquilo que é bom e melhorando o necessário sempre com o mesmo foco”, comenta.
De acordo com Cereda, enquanto isso, patinamos internamente em pesadas taxas e tributos que minam a competitividade de nossas indústrias, legislação tributária e empresarial extremamente complexa gerando insegurança jurídica, sistema educacional insuficiente para preparar nossos jovens para os desafios futuros e ausência de políticas integradas que desenvolvam a infraestrutura do país permitindo o crescimento econômico via industrialização. “Temos muita política e pouca gestão econômica. Muitos interesses nas mesas de negociação e pouco ou quase nenhum foco em promover o desenvolvimento econômico e social de nosso país. Em nossa região, onde temos centro formadores de mão de obra especializada e um mínimo de estrutura energética e logística, temos o privilégio de contarmos com duas grandes montadoras operando parte de sua produção”, conclui o economista.
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https://economia.seade.gov.br/integra/?analise=o-desafio-do-setor-automotivo-no-estado-de-sao-paulo
Fotos: Divulgação