
A Escola Técnica Paulino Botelho completa, nesta terça-feira, 13 de maio, 93 anos de funcionamento. No dia 13 de maio de 1932, cerca de dois meses antes da deflagração da Guerra Civil Paulista ou Revolução Constitucionalista. Apesar da inauguração nesta data, a escola já estava funcionando desde março daquele ano.
Dois eventos marcaram a inauguração oficial da escola: o primeiro foi a visita do professor Horácio Silveira, diretor da Escola Profissional Feminina de São Paulo e responsável pela organização da Escola Profissional de São Carlos; o segundo evento foi a realização da primeira fundição de ferro na escola. Os festejos de inauguração terminam à noite com um jantar no São Carlos Tênis Clube.
Ao longo desta trajetória, a conhecida Escola Industrial formou dezenas de milhares de profissionais para empresas como Tecumseh, Electrolux, Tapetes, Toalhas, Volkswagen, Engemasa e tantas outras em inúmeros cursos ao longo de décadas.
A matriz imediata mais importante da Escola Profissional de São Carlos foi a Escola Técnica de São Paulo, em 1910, criada pelo governo federal na capital do Estado.
Houve uma discussão na Câmara Municipal da cidade para a criação de uma Escola Profissional nesse ano. Embora um grupo defendesse a instalação, argumentando que a indústria estava em franco desenvolvimento e que, devido a isso, escolas profissionais estavam sendo criadas em grandes centros urbanos, a ideia da criação dessa escola em São Carlos foi rejeitada.
Nessa época o café era tão forte e a indústria tão incipiente que uma escola profissional nessas condições não ultrapassaria os limites do assistencialismo, ou seja, seria uma escola para encaminhar os meninos mais pobres da cidade a um ofício.
RESISTÊNCIA DOS CAFEICULTORES 0- A escola que melhor correspondia às necessidades da elite cafeeira são-carlense, cuja prosperidade econômica e prestígio político já eram evidentes, era uma escola nos moldes europeus, humanista tradicional, de cultura geral, voltada à formação das moças bem nascidas e destinadas a se tornarem esposas e mães cristãs. Surge, então, em 1911, a Escola Normal de São Carlos, que na época foi tão importante para a sociedade da cidade e região como seria a criação da Escola de Engenharia da USP na década de 50.
Já em 1930, reflete-se aqui na cidade o novo clima de efervescência presente no Estado de São Paulo favorável à industrialização. Nesse clima, ressurge, dessa vez com mais vigor, a proposta de criação de uma escola profissional.
Dentro do período 1910 a 1930 ocorre uma diversificada atividade industrial, constituída principalmente de pequenas empresas, às vezes funcionando nas próprias residências, com equipamentos rústicos.
NOVOS FATORES MUDAM A HISTÓRIA - Três fatores importantes geraram esse desenvolvimento industrial: a chegada da energia elétrica, em 1907(trata-se da primeira usina elétrica do Estado), a presença da ferrovia (São Paulo Railway), em 1908, e a presença intensa de imigrantes em diversas atividades. Já em 1926 surge a fábrica de lápis, fundada por iniciativa de Germano Fehr, considerada um marco na passagem da economia cafeeira para a industrialização autônoma, uma indústria que passa a produzir bens de consumo não diretamente ligados àquela economia.
A derrocada da economia cafeeira decorre da crise da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, o que vem a impulsionar o desenvolvimento industrial, um caminho mais seguro e promissor para a região.
A CRIAÇÃO DA ESCOLA PROFISSIONAL - A industrialização crescente solicitava cada vez mais técnicos especializados. O processo de criação estende-se por quatro anos, de 1929 a 1932.
Faltava, porém, decisão política para a concretização de uma escola para a formação desses profissionais. A lei estadual nº 1709, de 27 de dezembro de 1919, determinara a criação de duas escolas profissionais na capital e de cinco no interior.
Os políticos da cidade almejam uma dessas cinco, mas concretizá-la era preciso obedecer um dispositivo dessa lei que encarregava o município de prover um prédio adequado à instalação da escola e doá-la ao Estado. Havia na cidade um prédio construído por um grupo de médicos que pretendiam abrir uma Casa de Saúde. Como o empreendimento não se concretizou, o prédio ficou inacabado e, em 1929, o médico Serafim Vieira de Almeida, um dos médicos proprietários, secretário da Câmara Municipal e do partido do prefeito (botelhista), doou sua cota de participação na sociedade médica à Prefeitura, que por sua vez adquiriu as parcelas dos demais cotistas e terminou a construção do prédio, adequando-o a uma escola profissional e doando-o ao Estado. O prefeito da época era o Sr. Paulino Botelho de Abreu Sampaio.
Antes mesmo da lei que localizou a escola em São Carlos, ela tinha o nome de Escola Profissional "Dr Julio Prestes".
No ano da autorização do funcionamento da escola profissional em São Carlos, o jornal "O Correio de São Carlos" (15/2/1930) rejubila-se ao divulgar sua instalação na cidade: "A Escola Profissional de São Carlos prepara para a luta da vida afeita ao trabalho centena de crianças e jovens, especialmente os filhos dos proletários sem recursos financeiros para seguirem um curso superior."
Os primeiros cursos para os homens foram Eletrotécnica, Fundição e Motorista; para as mulheres ("visava dar à moça uma profissão com a qual possa ganhar a vida e, ao mesmo tempo, para que se torne no futuro uma boa dona de casa.") Economia Doméstica, Puericultura e Arte Culinária.
Prevista para ser inaugurada em fevereiro de 1931, devido à Revolução de 1930 começaria a funcionar apenas em março de 1932 e não teve as habituais solenidades de inauguração.
Trajetória da Escola:
13/02/1930 antes mesmo da lei que estabeleceria a instalação de uma escola profissional em São Carlos, chamava-se Escola Profissional Mista Dr. Julio Prestes (decreto 4694);
13/05/1932 data oficial da criação da escola, denominava-se Escola Profissional Mista;
13/01/1943 a escola passa a chamar-se Escola Industrial de São Carlos, decreto nº 11.314;
01/081949 a lei nº 401 muda o nome para Escola Industrial Paulino Botelho;
16/12/1952 outra lei, a de nº 1969, denomina-a Escola Técnica Paulino Botelho;
18/02/1965 novo decreto, o de nº 4453, altera seu nome para Ginásio Industrial Estadual Paulino Botelho (GIE);
23/07/1970 o decreto de nº 52.499 criou o segundo ciclo e passa a se chamar Colégio Técnico Industrial Paulino Botelho;
03/12/1974 por força da lei nº 533, passa a chamar Escola Estadual de Segundo Grau Aracy Leite Pereira Lopes, nome que durou apenas um ano;
21/01/1976 Resolução da Secretaria do Estado da Educação de nº 13, denomina a escola de Centro Estadual Interescolar Paulino Botelho;
28/01/1978 O DOE publica o decreto nº 7.400/75 alterando o nome para Escola Estadual de Segundo Grau Paulino Botelho;
21/06/1985 o decreto nº 23.544/85 e Resolução da Secretaria da Educação nº 120, publicado no DOE de 22/06/1985, denomina-a de Escola Técnica Estadual Paulino Botelho;
Finalmente, em 1993, o decreto nº 37.735 transfere a instituição para o âmbito da Secretaria Estadual da Ciência e Tecnologia, sob responsabilidade do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza.